terça-feira, 6 de maio de 2014

AQUELA RUA


Aquela rua de tantas memórias
Hoje já não me conta lembranças,
se quer me  reconhece
ou se oferece em seus endereços.

Todas as suas portas agora
me são estranhas,
Todos os rostos que lhe frequentam
me ignoram.

O tempo, simplesmente,
me apagou daqui
sem eu se quer saber
a realidade de um adeus.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

SOBRE SER MAIS DO QUE UM ROSTO

Poucas pessoas se dedicam a escuta de suas proprias e cotidianas palavras.

Se reconhecem tão facilmente em suas frases e formas cotidianas de dizer
qualquer coisa, que se tornam duvidosas;

a aventura se se descobrir como indivíduo, depende do quanto questionamos
quem cotidianamente somos em defesa da vitalidade de tudo aquilo que, gostando ou não,
estamos sempre nos tornando.

DUVIDAR DE TUDO

Já estive certo de muitas mentiras
e equivocado sobre muitas verdades.
Só me senti seguro enquanto tinha dúvidas
e crticava o sonho da realidade.


Sempre vivi desfeito e inquieto
em meio ao devir das coisas
e a elementar incerteza
de minhas circunstânciais escolhas.

domingo, 4 de maio de 2014

IMPULSIVIDADE

Vivemos todos de incertezas.
Não podemos saber o futuro.
Muito mal dominamos
o próprio passado
enquanto tropeçamos
no exercício diário
do tempo presente.
Viver é um estado de risco.
Por isso
em tudo que faço
não me preocupo
em definir justificativas
ou motivos.
Sou movido em tudo
pelo simples impulso
de estar vivo.

sábado, 3 de maio de 2014

EXISTIR É UM EXERCÍCIO SIMPLES DE PRAGMATISMO

Estava a espera 
da distração da realidade
para reencontrar
um sonho antigo.
Mas sei que o mais radical ato
de viver
é apenas continuar respirando
e sentir o coração
batendo no peito.

domingo, 27 de abril de 2014

ATRAVÉS DA REALIDADE

"A prova de uma inteligência de primeira ordem é que ela seja capaz de fixar-se sobre duas ideias contraditórias , sem perder, por isso, a possibilidade de funcionar. Deveria, por exemplo, poder compreender que as coisas não deixam de esperanças e estar, no entanto, decidida a mudá-las." FRANCCIS SCOTT FITZGERALD
A realidade está em tudo aquilo que sinto e sei dentro de mim como palavra, imagem e pensamento. Ela não existe como algo alheio ao observador. Ao contráriio, ela está sempre no abstrato sentir dos olhos que desenham a paisagem.
Por isso, pouco me importa saber a realidade. Quero apenas desvendar o ato de vive-la provisoriamente no tempo e no espaço.
De resto, sigo indiferente aos fatos passeando no abstrato devir do pensamento solto.

H. L. MENCLEN E O JORNALISMO LITERÁRIO

Henry Louis  Mencken ( 1880-1956)  foi uma das grandes vozes do jornalismo norte americano das primeiras décadas do século XX destacando-se pelo seu espirito critico e satírico. Sua prosa pode ser definida como  uma espécie de jornalismo literário que não encontra qualquer paralelo nos dias de hoje. Vale a pena  aqui relembrar um fragmento de  um de seus artigos sobre religião publicado originalmente em 1922:

"Não. Não há  nada ostensivamente digno a respeito de idéias religiosas. Só conduzem a uma espécie curiosamente pueril e tediosa de asnices. Na melhor das hipóteses, são compiladas de metafísicos, ou seja, de homens que devotaram suas vidas a provar que dois vezes não são sempre ou necessariamente quatro. Na pior das hipóteses, cheiram a espiritualismo ou a cartomancia. Nem há qualquer virtude visível  nos homens que as comercializam profissionalmente. Poucos teólogos sabem alguma coisa que valha a pena, mesmo sobre teologia, e poucos deles são honestos.Pode-se perdoar um comunista ou coletor de impostos na suposição de que há em suas glândulas endócrinas, e receitar-lhe um inverno no Sul da França para curá-lo. Mas o teólogo médio é um sujeito corado, robusto e bém alimentado, sem nenhuma desculpa discernível em patologia. Ele dissemina a sua cantilena, não inocentemente, como um filósofo, mas maliciosamente, como um político. Num mundo bém organizado, ele estaria na enxada. Mas, no mundo em que vivemos, temos que ouvir o que ele diz, não apenas educada e reverentemente, mas babando de boca aberta. "  IMUNE by H.L. MENCKEN in O LIVRO DOS INSULTOS DE H.L. MENCKEN, seleção, tradução e prefácio de Ruy Castro. SP: Companhia das Letras, 1988, p. 72  

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O CAMINHO DA DÚVIDA

Todos os meus lugares de mundo

são provisórios.

Vivo ao sabor do efêmero e do transitório,

da duvida e da incerteza

que me sustenta cada pensamento.

Não esperem de mim respostas

ou certezas.

Existo para insegurança.

A duvida é minha via de mão unica.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

CONTRA UMA VIDA AUTÊNTICA

A autenticidade, enquanto certeza de si mesmo, é uma experiência duvidosa.

Afinal, a veracidade não é um atributo objetivo de nossa autoconsciência, que é também consciência de mundo.
Entendida em seu sentido mais estrito a autenticidade pressupõe a expressão de uma essência, de uma identidade inequívoca, que contradiz o constante esforço de codificar e recodificar o mundo  que define a realização de nossa condição humana.

Somos provisórios e perecíveis, logo não há uma autenticidade a ser realizada ou vivida que não seja simples simulacro de sua própria possibilidade.  É mais fecundo, ao contrário, pensar a positividade do inautêntico, do provisório e do efêmero como parâmetro de qualquer auto definição.

Isso não nos torna mais felizes e nem responde a nossas questões mais elementares sobre a vida e o mundo. Mas a recusa da possibilidade de uma verdade revelada através de uma vida autêntica, nos ajuda a redefinir nossas codificações de  realidade relativizando  a eficácia de qualquer significação ou valoração das coisas através das quais “nos fazemos quem somos”. 

PROCURA-SE

Procura-se um dia perdido
Nos abismo do tempo.
Um dia que me foi prometido
Em um sonho de domingo
E que parecia  mais certo
Do que a própria realidade.
Procura-se um dia perdido
Que oferecia, abstrato,
Qualquer promessa de felicidade.