domingo, 27 de abril de 2014

H. L. MENCLEN E O JORNALISMO LITERÁRIO

Henry Louis  Mencken ( 1880-1956)  foi uma das grandes vozes do jornalismo norte americano das primeiras décadas do século XX destacando-se pelo seu espirito critico e satírico. Sua prosa pode ser definida como  uma espécie de jornalismo literário que não encontra qualquer paralelo nos dias de hoje. Vale a pena  aqui relembrar um fragmento de  um de seus artigos sobre religião publicado originalmente em 1922:

"Não. Não há  nada ostensivamente digno a respeito de idéias religiosas. Só conduzem a uma espécie curiosamente pueril e tediosa de asnices. Na melhor das hipóteses, são compiladas de metafísicos, ou seja, de homens que devotaram suas vidas a provar que dois vezes não são sempre ou necessariamente quatro. Na pior das hipóteses, cheiram a espiritualismo ou a cartomancia. Nem há qualquer virtude visível  nos homens que as comercializam profissionalmente. Poucos teólogos sabem alguma coisa que valha a pena, mesmo sobre teologia, e poucos deles são honestos.Pode-se perdoar um comunista ou coletor de impostos na suposição de que há em suas glândulas endócrinas, e receitar-lhe um inverno no Sul da França para curá-lo. Mas o teólogo médio é um sujeito corado, robusto e bém alimentado, sem nenhuma desculpa discernível em patologia. Ele dissemina a sua cantilena, não inocentemente, como um filósofo, mas maliciosamente, como um político. Num mundo bém organizado, ele estaria na enxada. Mas, no mundo em que vivemos, temos que ouvir o que ele diz, não apenas educada e reverentemente, mas babando de boca aberta. "  IMUNE by H.L. MENCKEN in O LIVRO DOS INSULTOS DE H.L. MENCKEN, seleção, tradução e prefácio de Ruy Castro. SP: Companhia das Letras, 1988, p. 72  

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O CAMINHO DA DÚVIDA

Todos os meus lugares de mundo

são provisórios.

Vivo ao sabor do efêmero e do transitório,

da duvida e da incerteza

que me sustenta cada pensamento.

Não esperem de mim respostas

ou certezas.

Existo para insegurança.

A duvida é minha via de mão unica.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

CONTRA UMA VIDA AUTÊNTICA

A autenticidade, enquanto certeza de si mesmo, é uma experiência duvidosa.

Afinal, a veracidade não é um atributo objetivo de nossa autoconsciência, que é também consciência de mundo.
Entendida em seu sentido mais estrito a autenticidade pressupõe a expressão de uma essência, de uma identidade inequívoca, que contradiz o constante esforço de codificar e recodificar o mundo  que define a realização de nossa condição humana.

Somos provisórios e perecíveis, logo não há uma autenticidade a ser realizada ou vivida que não seja simples simulacro de sua própria possibilidade.  É mais fecundo, ao contrário, pensar a positividade do inautêntico, do provisório e do efêmero como parâmetro de qualquer auto definição.

Isso não nos torna mais felizes e nem responde a nossas questões mais elementares sobre a vida e o mundo. Mas a recusa da possibilidade de uma verdade revelada através de uma vida autêntica, nos ajuda a redefinir nossas codificações de  realidade relativizando  a eficácia de qualquer significação ou valoração das coisas através das quais “nos fazemos quem somos”. 

PROCURA-SE

Procura-se um dia perdido
Nos abismo do tempo.
Um dia que me foi prometido
Em um sonho de domingo
E que parecia  mais certo
Do que a própria realidade.
Procura-se um dia perdido
Que oferecia, abstrato,
Qualquer promessa de felicidade.

domingo, 13 de abril de 2014

APOSTA UTÓPICA

Quero respirar evasões,
cair na vertigem das imensidões
que  me inquietam as imaginações,
desafiar o cotidiano
e as certezas do mundo
na aventura  de escrever
meu rosto
no tempo e espaço
das coisas.
Quero ser livre
de uma liberdade 
que  ainda  não existe.

VIDA VAZIA

A existência imperfeita de todos os dias
esconde em algum ponto abstrato
a vida.
Mas o cotidiano  é pouco explorado.
Eu, por exemplo, parcialmente existo
E diante do tempo
apenas insisto
com o pensamento erguido
em absoluto protesto
contra o vazio
do superficialmente vivido.

domingo, 6 de abril de 2014

ORGULHO ATEU

Vivo o ateísmo como a codificação de uma existência que se busca autêntica, que se sabe incerta e finita na exata medida em que se realiza em todas as coisas possíveis a imaginação humana.

O ateísmo é antes de tudo um estado critico de "espirito", uma incerteza questionadora e criativa que desafia todos os limites do mero estabelecido.

Pois viver é seguir em frente, tentar e buscar permanentemente levar as últimas consequências nosssa condição humana.

Inspira-me a mais plena liberdade de pensamento.

O ARCAÍSMO CONTEMPORÂNEO DA FÉ

Acreditar em um mundo encantado por forças que transcendem nossa compreensão e influenciam a nossa vida, em um invisível mágico, no dualismo corpo e espirito, é uma postura que contraria o grau de emancipação alcançado pela autoconsciência, pela autonomia do sentimento de si mesmo proporcionado pela plena consciencia da própria individualidade hoje possível na cultura ocidental contemporânea como em nenhuma outra época histórica.

Em outros termos, a inercia do canone cultural ocidental, marcado pela tradição judaicocristã, frente a emergência de uma contracultura que remonta a crise da tradição racional e se traduz em sua forma mais sofisticada através da filosofia de Nietsczche e heidigger, na reviravolta da percepção estetica das vanguardas esteticas do seculo XX, parece ter criado um discompasso entre a vida do pensamento e a vida cotidiana.

Vivemos em um mundo cada vez mais codificado pelo saber cientifico e pelas tecnologias mas que ao mesmo tempo ainda se ancora em formatações e ideias arcaicas de realidade. Desta forma, pode-se dizer que hoje em dia tradição e cultura encontram-se em franca oposição

A maioria das pessoas prefere viver como antigamente.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

SOBRE O INESPERADO

Não era aquilo que eu queria.
Nem mesmo me parecia uma alternativa.
Mas foi o que aconteceu
de repente
contrariando todas as minhas expectativas.
Não me perguntem
se foi certo ou errado.


Apenas foi...
E me sinto melhor
por isso.

segunda-feira, 31 de março de 2014

ABANDONO

Já estou a muito tempo
esperando a mim mesmo
as margens do horizonte.
Minha musica
jamais tocou por aqui.
Ninguém me confidenciou sonhos,
nem me consolou com uma lágrima.
Escutei apenas silêncios
e necessecidades
e ao longo dos anos 
renunciei a  esperanças.
Ao longo dos anos
apenas destilei o intimo abandono
de me perder de mim.