quinta-feira, 22 de março de 2012

NOTA SOBRE MENTE, CORPO E CONDIÇÃO HUMANA

É bastante usual atribuir-se a mente a condição de "essência” da condição humana. Mas o que exatamente entendemos por mente é algo ainda bastante nebuloso.

De um modo geral, poder-se-ia definir a mente como o conjunto de funções superiores do cérebro humano, o que remete a nossa capacidade de reflexão e consciência das coisas. Mente torna-se, assim, quase um sinônimo para pensamento.

Faço questão de frisar que a superposição entre atividade mental e atividade cerebral, contrariando o antigo dualismo de inspiração religiosa que deduzia do conceito de mente a noção abstrata de “alma”, parece-me hoje uma premissa elementar para qualquer debate minimamente relevante sobre a natureza daquilo de nomeamos “mente”.

Deve-se também ser descartada certa exagerada valorização do “subjetivo” ou do papel da consciência do eu na definição dos processos mentais.

Afinal, mesmo que de modo ainda inconclusivo, as descobertas neuro cientificas apontam cada vez mais para a complexa e dinâmica arquitetura cerebral como o lugar da mente; lugar este cujo conhecimento ainda é, de modo muito desconcertante, parcial. O que não invalida o fato de que nada nos indica a possibilidade de buscar a mente em outro lugar (ou em algum descabido não lugar) que contrarie o “bom senso secular”.

O que aqui quero ressaltar, entretanto, são as implicações disso que, se me permitem cunhar a expressão, poderíamos chamar precariamente de uma fundamentação cada vez mais biológica da mente no modo como configuramos a condição humana.

Neste sentido, um processo pouco refletido em si mesmo, mas que bem caracteriza entre outros traços a cultura contemporânea, é a forma como cada vez mais uma consciência da dimensão física, do dinamismo de nossos corpos, influencia a definição de nossa auto imagem, auto consciência e hábitos cotidianos.

A difusão da prática de exercícios físicos e dietas são os sintomas mais superficiais desta tendência cultural que abarca de modo mais amplo um envolvimento maior com nosso corpo integrando-o concreta e simbolicamente a referência do EU de modo radical.



ESTRADA ABERTA

Sei paisagens



Passando por mim


Agora


Enquanto leio


A estrada aberta


Que a lugar algum


Me leva.



Estou em todas


As coisas


De passagem,


Sempre seguindo


Em frente,


Na urgência do sem nome


Do mais intenso sentimento


De vida e liberdade...

terça-feira, 20 de março de 2012

NOTA SOBRE NARRATIVA E INTELECTO

A construção de uma complexa cartografia da “alma” humana, um resgate da experiência em um tempo em que ela se perdeu, ainda é o objetivo de qualquer narrativa possível de mundo. Afinal, mesmo quando a arte de narrar, de articular a existência de um modo significativo, já não ultrapassa a profunda superficialidade do efêmero, a afirmação da Presença, da Imanência humana, pelo seu simples acontecer, ainda ocupa o primeiro plano do pensamento enquanto exercício de autorreflexão do intelecto.


NOTA SOBRE DEVIR E CONTEMPORÂNEIDADE

A contemporaneidade pressupõe uma busca radical da “presencialidade do mundo” através da aposta na intensidade máxima do imediatamente vivido.

Fragmentado e difuso o presente se torna assim o absoluto horizonte “ahistórico” em que agora nos movemos como indivíduos desarticulados na consciência saturada de imagens, em infrações simbólicas, que alimentam ansiedades e inquietações no explorar de todas as variações possíveis de prazer fugaz.

A meta de cada um já não é o outro ou qualquer projeto estável de realização pessoal, mas a mudança pura e simplesmente. Ser contemporâneo de si mesmo é não fixar-se em um “eu constante” de algum modo tendente à rigidez de uma persona social, mas estar aberto a busca aleatória condicionada a uma mudança constante sem ilusões teleológicas.

Em tempos de pós cultura as perguntas só funcionam quando as respostas ficam em silêncio...

segunda-feira, 19 de março de 2012

OS FUTUROS DOS MEUS PASSADOS

Quase todos os meus futuros



Já se tornaram passados,


Apagadas possibilidades


De nomeada


Descartadas pelo tempo


Dentro do qual sigo em silêncio


Sem guardar


Horizontes nas retinas,


Sem buscar caminhos


Ou destinos


Que de algum modo


Me transformem à vida.


Afinal que me importa


O conforto de realizações


Se aprendi a existência


Na didática dos ventos


E das tempestades?





domingo, 18 de março de 2012

SUPERFICIAL VIAGEM

Eu me espero agora

Do outro lado do infinito,
Na falsa certeza do dia seguinte
Em que me invento no tempo
Como ingênuo aprendiz
De mim mesmo
Na ilusão de momentos...
Tudo que me cabe é viver até o limite
O efêmero
Que por mim passa e escapa...

A SOLIDÃO DO QUADRO



O quadro parece cansado
Na encardida paisagem
Da parede branca,
Parece pesado de tempo e inércia
Entre silencio e imagem,
Parece farto de sua própria presença,
Indiferente ao passar
Dos dias e das noites
Ou ao eventual olhar anônimo
Que o contempla
Sem realmente vê-lo...

sexta-feira, 16 de março de 2012

NOTA SOBRE AS ILUSÕES DO SER

Nosso modo de viver a consciência do eu, ou aquilo que poderíamos definir como nossa auto consciência ou auto representação condicionadas a codificações coletivas da realidade e do mundo, pressupõem uma exagerada preocupação com o conforto de um “sentimento de coerência” ou “ordenamento intimo” que não dá conta da pluralidade de processos e tendências que definem a complexidade de uma personalidade humana.

Poder-se-ia dizer que existimos em nossos pensamentos e discursos cotidianos como pálidos fantasmas de nós mesmos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

ADIAMENTO

Diante dos silêncios



Das coisas


Onde meu futuro acorda


Demoro-me no agora


Adiando sonhos,


Projetos e imaginações


Que dormem


no amanhã que me mira


No espelho de existências ...

terça-feira, 6 de março de 2012

NOTA SOBRE FANTASIA , REALIDADE E CONSCIÊNCIA

Cada um tem seu próprio estilo ficcional  de viver, sua própria maneira de escrever-se no cotidianamente vivido através de uma imagem ou sentimento arbitrário  de mundo.
Cabe lembrar que a falência do sujeito, tão emblemática ara definição da contemporaneidade, é também uma desconstrução da objetividade, do jogo aberto entre sujeito e objeto inspirador de uma dada definição de ciência que marcou definitivamente a modernidade.
Mas hoje somos capazes de nos assumir como atores de nossas cultivadas e inventadas fantasias linguísticas ou de irracionalismos imagéticos afetivos que em muito condicionam nosso comportamento coletivo e individual, nossas auto representações mais pessoais, muito além do que sonha nosso caduco bom senso.
Cada individuo, hoje parece-me assustadoramente evidente, uma caricatura de seu próprio discurso de mundo e realidade...