quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A INFÂNCIA DAS COISAS

Quase não me lembro
Do tempo
Em que a vida
Era jovem,
Em que sonhos me sonhavam
Na serenidade de jardins
E vislumbres de céus estrelados.

Quase não me lembro
Do tempo
Em que nada era fato, em que tudo que sou
Se fazia no devir
Do simples e inútil
Ato de cada dia

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O ILEGÍVEL E A NÉVOA



Uma nevoa define
A manhã aberta
Em vida
Como se a bruma
Comunicasse a
 Fugidia realidade
De cada dia,
Como se tudo
Fosse abstrato
E fugidio
Na concretude
Da vontade
Que me  sustenta
No sereno caos de cada dia possível...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

CONSERVADORISMO E CONTEMPORANEIDADE

A experiência da temporalidade, como toda realidade cultural, assenta-se sobre o principio da diversidade e da relatividade.

Não vivemos todos, afinal, submetidos ao mesmo tempo presente, a mesma experiência de contemporaneidade ou consciência do agora. Poder-se-ia dizer, aliais, que cada individuo está contido em sua peculiar e pessoal codificação de mundo, por mais aparentemente contundentes pareçam os argumentos a favor da universalidade de princípios e valores socialmente estabelecidos.

Cada um percebe a época presente como melhor lhe apraz. Muitos a vivem tão profundamente mergulhados em fantasmagóricas imagens e valores “tradicionais” ou “passadistas” que quase ou absolutamente nada percebem da vertigem e devir do hoje que nos condiciona.

Felizmente ou infelizmente, o mundo muda na cabeça de algumas pessoas, a maior parte delas se quer percebe o reinventar-se do tempo humano na combustão das certezas de ontem nas estradas abertas pelas dúvidas de agora. Em poucas palavras, a mudança é um privilégio de poucos...











domingo, 31 de julho de 2011

PONTO DE FUGA

Guardo
Em meu pensamento
Um bolso cego
Onde tudo se perde,
No qual os vazios
Preenchem os espaços
Dos atos abertos
Em reflexões difusas
E todas as certezas
Desaguam no mar revolto
Do mero acaso....

sexta-feira, 29 de julho de 2011

INDIVIDUALIDADE


No intimo do existir humano
Nos reinventamos
Em carne, osso
E pensamento
Criando caminhos únicos
Na aventura de cada dia novo
Feito no possível dos fatos abertos,
Em paralelos oníricos de devir e acaso
Perdidos na soma de todas as coisas
Nas quais intimamente
inventamos
 nossa paisagem própria
de simplesmente viver
entre as coisas....



quinta-feira, 21 de julho de 2011

A FILOSOFIA DO OLHAR

Quem quer qualquer coisa
Aprende a dizê-lo,
Antes de tudo,
Através do olhar,
Aprende a escrever
A vida nos olhos
Enxergando no próprio
Do pensamento
Os objetos
Que lhe fazem
Explorar eleições
E sentimentos...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

URGÊNCIAS


Minha existência
Se reinventa
Em pânico na panaceia
Da vida em atos abertos
Sobre o chorar da chuva...
Procuro em tudo
A pura madrugada
De um alegre tropeço
De vento e chuva
Na trovoada de um pensamento...

terça-feira, 19 de julho de 2011

AFORISMAS SOBRE FILOSOFIA DA LINGUAGEM

O pensamento é um ato linguístico. A própria razão só é possível como exercício linguisto...
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Não há qualquer outro tema filosófico além do mero exercício de nossas codificações e estratégias discursivas, nenhuma distancia entre símbolos e signos...
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O pleno domínio de qualquer idioma falado não nos capacita ao mais radical exercício linguístico...
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Quantos conceitos filosóficos são definidos pela obesidade mórbida de certas estratégias de codificação da realidade como linguagem?
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Chegamos a um tempo muito estranho onde a grande tarefa do pensamento é a desconstrução de toda tradição filosófica...

NOTA SOBRE O CONSERVADORISMO

As várias versões possíveis que podemos dar ao lugar que habitamos, às vezes, simplesmente redefinindo o lugar próprio de cada objeto, é um pequeno exercício que nos prova a relatividade de todo ponto de vista.

Mas tal relatividade sustenta-se mais na pluralidade das opções concebíveis do que propriamente em nossa predisposição para escolher dentre elas.

Normalmente não cogitamos as melhores escolhas por não sermos suficientemente livres de nós mesmos para acolhê-las ou simplesmente enxergá-las...

UNIVERSALISMO E INDIVIDUALIDADE

Um dos mais curiosos fatos da condição humana é a universalidade de certas reações comportamentais básicas, a facilidade com que, quanto mais autenticamente acreditamos viver sentimentos pessoais, não transcendemos os simples lugares comuns do gênero humano.

A impessoalidade que perpassa nosso comportamento mais individualizado parece contradizer-nos como seres singulares e ciosos de nossa equação pessoal. Desde Shopenhauer sabemos o quanto somos oprimidos pela vida da espécie e suas imperativas premissas instintivas...

Mas a condição de indivíduos, irremediavelmente presos a uma migalha de tempo na paisagem humana, longe de diminuir o valor do existir singular, o valoriza pela afirmação do absurdo desafio ontológico que ele representa.

O que torna, em poucas palavras, interessante o acontecer do individuo é nossa desesperada ânsia para lhe impor significados e orientações teleológicas que não raramente implicam em transformações sobre a vida coletiva.

É o existir individual, a singularidade humana, o privilegiado palco do devir da espécie, da reviravolta de valores e codificações da existência...