sexta-feira, 6 de maio de 2011

CHUVA DE FOGO

Um céu azul



Em vários pontos trincado


Quase reinventava a noite


Naquela nostálgica


E vazia tarde


De sonho de primavera.






Nenhum ponto de existência


Nos definia no devir do tempo,


Não tínhamos abrigo


Em qualquer um dos mundos


Possíveis a imaginação humana.






Apenas um aperto de nostalgia


Oprimia as horas


Enquanto o céu se desfazia


Em uma chuva de gostas


De intenso fogo e luz


A desfazer as memórias


Do agora ...



ALÉM DA MEMÓRIA


Uma data passou raspando



Pela vontade


Que me consome,


Correu sem tino


Espalhando fatos


Pela paisagem,


Enquanto rotinas


Trocavam de roupa


Entre o dia e a noite.



Dentro disto


Me rencontrei


No susto de uma antiga


Fotografia


Em que me vejo


Em lugares que já não existem,


Mesmo em minhas lembranças...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

SOBRE O QUASE AGORA DO AQUI DENTRO DO ALÉM LÁ FORA


Lá fora  vida corre
Sem saber de mim
Ou da minha particular versão
Do mundo vivido...

Lá fora tudo acontece,
Pura e simplesmente,
Independente daquilo
Que sei e  penso...

Constantemente lembrando disto,
Aprendo a explorar
Através dos meus mínimos atos,
O máximo micro
Dos meus construídos fatos
Mergulhado
No duvidoso do tempo e do espaço
Que ao mundo me prende...

PAUL McCARTNEY: ENTRE MUSICA E LITERATURA

Um dos mais fascinantes livros que li nos últimos tempos foi definitivamente PAUL McCARTNEY: POEMAS E LETRAS 1965-1999, editado por Adrian Michtell. Esta obra  parece-me confirmar a profunda relação que se estabeleu entre musica popular, literatura e poesia ao longo do séc. XX.
De modo geral, o rock and roll estabeleceu um novo lugar de cultura e imagem de mundo que paulativamente modificou significamente nosso modo de sentir e expressar sentimentos, emoções e ideias...
Mas sem querer ir muito longe no assunto e simplesmente focando na obra em questão, cabe acrescentar que seu titulo original é uma perfeita tradução do universo poetico de McCartney: BLACKBIRD  SINGING, obvia referência a uma de suas composições de maior sucesso.
Em seu prefácio  podemos ler a seguinte e elucidativo comentário :

“Quando eu era adolescente, por alguma razão sentia um desejo irresistível de ter um poema publicado na revista da escola. Escrevia alguma coisa profunda e significativa- que era prontamente rejeitada- e suponho que desde então venho tentando obter minha desforra.
Anos mais tarde, depois de ter escrito muitas letras de canções com – e sem- John Lennon, escrevi um poema ao saber da morte de meu querido amigo Ivan Vaughan. Pareceu-me que um poema, mais do que uma canção, talvez pudesse expressar melhor o que eu sentia. Esse poema, “Ivan” levou a outros, muitos dos quais estão incluídos aqui.
Fui convencido por Adrian Mitchell de que o livro deveria  também incluir algumas letras de musica, e incluí, tanto assim que eu agora concordo com sua opinião de que ambas as formas de escrita têm igual capacidade de conduzir grande profundidade de sentimentos. Espero que vc Leitor, sinta o mesmo."

PAUL MCCartney.
  
O uso da linguagem para construção de imagens poeticas que aprisionem nossos sentimentos  cotidianos, que ressaí na simplicidade complexa dos versos de  McCartney, revela uma caracteristica elementar da estetica contemporânea: sua tendência para explorar  a simplicidade do imediato  desvelando a complexidade que habita a mera superfície das coisas vividas...   

terça-feira, 3 de maio de 2011

SOBRE OS LIMITES DE UMA VIDA INTEIRA


Não me basta viver uma vida inteira. Precisaria de várias para me somar no tempo e construir a equação de minha individualidade no devir frenético de todas as coisas que compõe o mundo através da condição humana. Precisaria de mil vidas para conseguir ser, simplesmente, qualquer coleção de experiências, fatos e atos dignos do rótulo abstrato do meu rosto e nome...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O SABER DA INCERTEZA EM MERO ABSURDO


A vida começa novamente agora,
Perene e incerta
Na reinvenção tumultuada dos fatos
Que  me conduzem ao lugar nenhum do
Além do quase agora.

Em outras palavras,
Tudo é tão inperfeito
Quanto o vento,
Enquanto me refaço
Em duvidoso sentimento
D o meramente possível...

Sei que
As sensações e imagens
Que por mim passam e acontecem
Através do corpo
observam meus eus de espelhos.
Sei que navego
 inventadas realidades cotidianas
Através de palavras
que me desconstroem...

domingo, 1 de maio de 2011

PIADA DE AMOR BANAL



Rebrilham sinos
No caos que explode
Pensamentos e cores
Lançados ao enigma
De qualquer abismo.

Por quase nada
Uma hora inteira
Durou um segundo
Dentro de mim
Enquanto repetia teu nome
Para não lembrar seu rosto
Ainda desconhecido...

sábado, 30 de abril de 2011

REVOLUÇÃO CIENTIFICA x RELIGIÃO


A profunda transformação introduzida por Copérnico e Galileu na imagem de mundo convencionalmente aceita em sua época, tendo por ponto de partida o heliocentrismo, a conseqüente desconstrução do cosmo hierárquico aristotélico e sua gradual substituição pela idéia de um “universo infinito”, parece hoje fugir a experiência do homem contemporâneo. Ironicamente, tal revolução também passou despercebida a maioria dos seus contemporâneos. O conceito de “revolução cientifica” foi construído a posteriori e pode ser considerada um “mito historiográfico” já que se quer parece crível na cabeça de seus fundadores .
Um exemplo disso é o fato de Nicolau Copernico se quer fazer idéia das implicações futuras de  sua obra e permanecer preso a uma imagem sagrada de mundo. Como se pode ler em sua clássica obra ele abalava as codificações tradicionais de realidade de seu tempo sem efetivamente questioná-las.  Na mesma medida em que defendia o heliocentrismo sustentava,  por exemplo, a imagem de um universo esférico, inspirando-se em falácias de fé ou, mais precisamente na imagem do circulo como símbolo da totalidade:

“Compete-nos notar desde o inicio que o universo é esférico ou porque seja esta a forma mais perfeita de todas, um todo inteiro sem qualquer junção de partes; ou porque ela própria seja a mais capaz das figuras e maximamente conveniente para encerrar e conservar todas as coisas; ou até porque as partes mais perfeitas do Universo, isto é, o Sol, a Lua e as estrelas, se apresentarem com esta forma e porque todo o Universo tende a ser por ela delimitado. E isto mesmo se vê nas gotas de água e nos outros corpos líquidos quando revestem a sua forma natural. Pelo que ninguém deverá hesitar em atribuir tal forma aos corpos celestes.”

( Nicolau Copérnico. As revoluções dos orbes celestes/ tradução de A. Dias Gomes. Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, s/d., p. 17)

A autonomia do saber científico, sua confrontação e independência do campo teleologico, é uma conquista que se deu apenas nos oitocentos com a reestruturação ou codificação do paradigma cientifico patrocinado pela ilustração. A ciência, em outras palavras, apenas muito recentemente, adquiriu sua maioridade e libertou-se da tutela do obscuro campo do sagrado. A verdadeira “revolução cientifica” esta apenas começando...  

quinta-feira, 28 de abril de 2011

SENTIMENTO DE MUNDO

Não sei direito



Se os sentimentos


Do tempo vivido


Realmente existem...


Mas sei que os sinto,


Dentro e fora de mim


Na soma aleatória


De todas as coisas.






Sei os silêncios e ausências


Que me levam adiante,


Que me perseguem


No incerto de idéias


E pensamentos


Através dos quais


Inventa-se o mundo...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

ANDREAS VESALIUS: DE CORPORIS HUMANI FABRICA

De Corporis Humani Fabrica de Andreas Vesalius é um texto chave do Renascimento. Trata-se da primeira analise do corpo humano e sua dinâmica a partir da observação direta através da dissecação de cadáveres. Mesmo nos tempos de hoje as ilustrações que compõe a obra fascinam por sua precisão.

O texto de Vesalius é uma critica a medicina de Galeno e um dos mais importantes marcos da nova imagem de ciência gestada nos primórdios da modernidade. Pode-se dizer que nossas  atuais codificações e representações do humano começaram com ele ...