domingo, 24 de abril de 2011

NOTA SOBRE A GRAMATICA DA VIDA



O modo como falamos, nosso arcabouço lingüístico e imagético, não revela propriamente nossa posição social ou grau de instrução e introjeção mecânica do cânone cultural vigente, mas nosso  modo próprio ou capacidade de codificar o mundo e a realidade.  Assim sendo, o domínio pleno das formulas gramaticais não é indício de coisa alguma enquanto não somos capazes de subverte-lo como indivíduos em estranhos exercícios de mera sociabilidade líquida...   

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O DESAFIO DO ACASO



Tudo que vejo agora
 é o limite das concretas
e materiais formas
de matéria, tempo e espaço
explodindo o limite
do simples pensamento...

Tudo que vejo agora
É o paradoxo
De me saber vivo
Desafiando as certezas
De mero 
E ILEGIVEL
cotidiano...

ORALIDADE, ESCRITA E CONTEMPORANEIDADE



Através das novas mídias digitais e a reinvenção da imagem através do virtual, ocorre na contemporaneidade uma espécie de reinvenção da oralidade gente ao até então consagrado domínio da escrita.  Falar vem se tornando um ato cada vez mais complexo que se reflete no modo como lidamos ou subvertemos a escrita ao sabor do fluxo instantâneo da linguagem oral e seus desafios a gramática, tão subserviente as necessidades da palavra escrita e suas regras... Pode-se dizer que a ciencia histórica tal como conhecemos, fundada na gramática e na escrita como forma  é uma sucessora direta das narrativas orais da velha cultura pagã na codificação do passado coletivo como memória social...
Apropriando-me aqui de um fragmento de  Hans Magnus Enzensberger: 

“De uma perspectiva histórica, a literatura escrita só teve papel dominante por poucos séculos. A predominância do livro hoje nos parece apenas um episódio. Um período incomparavelmente maior a precedeu  quando a literatura era oral; agora, ela é absorvida pela era das mídias eletrônicas, que, com sua tendência intrínseca faz, por sua vez, todos falarem. Em seu auge, o livro de certa forma usurpou as formas de produção do passado, primitivas mas à disposição de todos. Por outro lado, ele representou as formas de produção futuras, que permitem  a cada um de nós se tornar produtor.”

Hans Magnus Enzemberger. Elementos para uma teoria dos meios de comunicação/tradução de Claudia S.Dornbusch. SP: Conrard Editora do Brasil, 2003, p. 91

terça-feira, 19 de abril de 2011

A AUSÊNCIA DAS CORES



As cores despencam do céu
Sobre a terra
Escrevendo o preto e o branco
Na manhã nublada.
Lamento cobriam o jardim...
A noite se definia
através da vida das coisas semi mortas.
Tudo era a ausência do sol.
                                 
Em algum lugar
Vomitei o vôo dos pássaros
Sobre o corpo de um futuro verão.

Realizei a euforia
Dos adjetivos
Enterrando substantivos...
   

O ILEGIVEL DO DIA


Tenho adiado



Meu tempo e espaço


De viver as coisas,


Vestido silêncios , cansaços


E inércias,


Até me desatar dos fatos,


Chegar ao ponto de saber


O dia e o agora


Em estado cru e ilegível...



segunda-feira, 18 de abril de 2011

ORIGEM E HISTORIOGRAFIA


"À força de se andar à procura das origens transformamo-nos em caranguejos. O historiador olha para o passado; no fim «crê» também no passado."
F Nietzsche in Crepusculo dos Idolos

A imagem da “origem” é essencialmente mitológica, ela busca  estabelecer identidades através da cristalização daquilo que pensamos ser  na fantasia de um passado simbólico e socialmente inventado fora do tempo e espaço que se converte em falso fundamento de tudo aquilo que nos tornamos nas armadilhas de  um presentismo com pés invertidos...   

BREVE NOTA PARA UMA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA



“Dar uma descrição exacta do que não acontece em nenhum tempo, não é apenas a verdadeira missão do historiador, mas ainda o privilégio inapreciável de todo o homem bem dotado e de espírito culto.”

Oscar Wilde

Somos produto da gramática de imagens e significados que produzimos para justificar o que vivemos, mesmo quando o Ser já não é uma premissa filosófica e ontológica  a domesticar nossa metafórica esquizofrenia em tempos de pós cultura e pós sociedade...  

INDETERMINAÇÃO E INDIVIDUALIDADE


“Ser você mesmo - em um mundo que está constantemente tentando fazer de você outra coisa - é a grande realização.”

Ralph Waldo Emerson - Escritor americano

Ao contrário do apregoado pelo senso comum, não somos o simples produto de nossas escolhas, pois o destino não se define pela porcentagem de erros ou acertos acumulados em nosso tempo biográfico a partir de uma representação ideal de conduta qualquer.

Aliais, a própria noção de certo e errado é falaciosa frente ao indeterminismo e incertezas que cotidianamente vivemos na leviandade dos atos, no relativismo dos princípios e justificativas que fundam toda ação humana em suas codificações simbólicas...

É bem verdade que, as referencias e convenções culturais, as circunstâncias e condicionantes materiais impostas pelo nosso mínimo espaço física e cronologicamente vivido, nos oferecem uma gama de escolhas e opções dentro das quais nos movemos sem qualquer arbítrio em uma contraditória coincidência entre determinismo e subjetivismo.

Em poucas palavras, somos em um só momento criadores e criaturas de nós mesmos, buscamos viver o máximo de singularidade ao mesmo tempo em que realizamos a objetividade do mundo.

A indeterminação  e não a identidade é justamente o que nos define como indivíduos...



quarta-feira, 13 de abril de 2011

BOEMIA


Guardo no bolso



Alguns sonhos rotos


Para perdê-los


No dorso


De qualquer noite


Ou, simplesmente,


Esquecê-los


Ao redescobrir


O tempo


No canto escuro


De um bar sombrio...