Através das novas mídias digitais e a reinvenção da imagem através do virtual, ocorre na contemporaneidade uma espécie de reinvenção da oralidade gente ao até então consagrado domínio da escrita. Falar vem se tornando um ato cada vez mais complexo que se reflete no modo como lidamos ou subvertemos a escrita ao sabor do fluxo instantâneo da linguagem oral e seus desafios a gramática, tão subserviente as necessidades da palavra escrita e suas regras... Pode-se dizer que a ciencia histórica tal como conhecemos, fundada na gramática e na escrita como forma é uma sucessora direta das narrativas orais da velha cultura pagã na codificação do passado coletivo como memória social...
Apropriando-me aqui de um fragmento de Hans Magnus Enzensberger:
“De uma perspectiva histórica, a literatura escrita só teve papel dominante por poucos séculos. A predominância do livro hoje nos parece apenas um episódio. Um período incomparavelmente maior a precedeu quando a literatura era oral; agora, ela é absorvida pela era das mídias eletrônicas, que, com sua tendência intrínseca faz, por sua vez, todos falarem. Em seu auge, o livro de certa forma usurpou as formas de produção do passado, primitivas mas à disposição de todos. Por outro lado, ele representou as formas de produção futuras, que permitem a cada um de nós se tornar produtor.”
Hans Magnus Enzemberger. Elementos para uma teoria dos meios de comunicação/tradução de Claudia S.Dornbusch. SP: Conrard Editora do Brasil, 2003, p. 91