terça-feira, 4 de janeiro de 2011

THE DOOR



Uma porta colorida
De delirios
Me espera
E me chama
Semi aberta...

Talvez não me leve
A qualquer parte
E não passe
De um absurdo impasse
Entre o aqui e o ali
Do igual dos dois lados opostos
De minhas ilusões de realidade...

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SOBRE A CELEBRAÇÃO DO ANO NOVO

Tomando como referência o calendário romano criado por Rômulo e modificado pelo seu sucessor Numa Pompílio, o mês de janeiro deve seu nome a janus ( Juno) , o deus da mudança, dos começos e dos fins; também conhecido como o “deus das portas” ou como “porteiro celeste”. A grande verdade é que tal simbolismo só traduz a necessidade humana de domesticar o tempo, impor-lhe finalidades e propósitos cuja eficácia não ultrapassam a superficialidade das normativas coletivas.

Enquanto rito de passagem e experiência do “eterno retorno”, de uma temporalidade cíclica, em descompasso com nosso sentimento linear do devir cronológico, as comemorações de ano novo, que já não associamos mais a mítica religiosa, pouco acrescentam a nossa experiência cotidiana do real.

O passar das coisas e da vida é cada vez menos experimentável como rito coletivo e circular, apresentando-se cada vez mais como experiência individual e não normativa, como uma linha reta que segue em direção ao nada.

NOTA SOBRE A ESTETICA CONTEMPORÂNEA

A arte contemporânea, em suas múltiplas possibilidades, possui como uma de suas principais temáticas, o deslocamento do real pelo virtual, ponto redefinidor da relação entre o estético e o técnico, através de uma verdadeira transfiguração das sensibilidades e codificações de mundo.

A arte tornou-se uma metáfora de si mesma, um exercício do lúdico e do devaneio, cuja essência é a superficialidade de nosso sentimento das coisas, objetos e pessoas, agora reinventados sob a inspiração da fantasia, que já não reconhece bem definidos limites diante da concretude do cotidianamente vivido.

Mas esta verdadeira dessacralização da experiência estética é também sua redenção em um mundo onde toda possibilidade de representação e mimese, até então inerente ao intelecto humano, vem se perdendo no sensualismo imediato de cores, formas e sons onde os conceitos e as palavras perdem sua capacidade de “dizer”...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

LUCRECIO E O EPICURISMO

A obra de Lucrecio é uma fonte fundamental para a compreensão do Epicurismo. Basicamente, tudo que sabemos dele com segurança é de que foi o autor de um grande poema filosófico ( Da natureza das Coisas), divulgado por Cicero após sua morte, onde buscava apresentar, de um ponto de vista materialista e anti religioso de inspiração epicurista, uma teoria cientifica do universo definida pelo atomismo e o hedonismo.

“Ó mãe dos Enéadas, prazer dos homens e dos deuses, ó Vênus criadora, que por sob os astros errantes povoas o navegado mar e as terras férteis em searas, por teu intermédio se concebe todo o gênero de seres vivos e, nascendo, contempla a luz do sol: por isso de ti fogem os ventos, ó deusa; de ti, mal tu chegas, se afastam as nuvens do céu; e a ti oferece a terra diligente as suaves flores, para ti sorriem os plainos do mar e o céu em paz resplandece inundado de luz. Apenas reaparece o aspecto primaveril dos dias e o sopro criador do Favônio, já livre ganha forças, primeiro te celebram e à tua vinda, ó deusa, as aves do ar, pela tua força abaladas no mais íntimo do peito; depois, os animais bravios e os rebanhos saltam pelos ledos pastos e atravessam a nado as rápidas correntes: todos, possessos do teu encanto e desejo, te seguem, aonde tu os queiras levar. Finalmente, pelos mares e pelos montes e pelos rios impetuosos, e pelos frondosos lares das aves, e pelos campos virentes, a todos incutindo no peito o brando amor, tu consegues que desejem propagar-se no tempo, por meio da geração. Visto que sozinha vais governando a Natureza e que, sem ti, nada surge nas divinas margens da luz e nada se faz de amável e alegre, eu te procuro, ó deusa, para que me ajudes a escrever o poema que, sobre a natureza das coisas, tento compor para o nosso Mêmio, a quem tu, ó deusa, sempre quiseste conceder todas as qualidades, para que excedesse aos outros. Dá pois a meus versos, ó Vênus divina, teu perpétuo encanto."

“Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo, / nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisas / que não são mais terríveis do que aquelas que as crianças temem / no escuro e pensam que acontecerão a elas.”

Titus Lucretius Carus ( Lucrecio) 96-53 a.C.- Da Natureza das Coisas



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

MICHEL ONFRAY: FRAGMENTO DO TRATADO SOBRE ATEOLOGIA


« A época parece ateia, mas somente aos olhos dos cristãos e dos crentes. De facto, ela é niilista.
Os padroeiros de ontem e da véspera têm todo o interesse em fazer passar o pior e a negatividade contemporânea por um produto do ateísmo»

Michel Onfray, «Traité d'athéologie, physique de la métaphysique» ( “Tratado de Ateologia”)


JUNO



Nas duas faces de Juno,
sou um passado sem presente
que ainda pretende um futuro,
quando a nada mais pertence.
 
Nas duas faces de Juno
a vida e a morte equivalem.
É cedo,
é tarde,
é sempre e nunca.
O tempo é estático,
e tudo acontece.                                                                                                                        

CINERAICOS E HEDONISMO (Séc IV - III a.C.)


Ao lado dos cínicos e dos megáricos, os cineraicos constituíam uma das escolas socráticas, ou seja, inspiradas por interpretações dos ensinamentos de Sócrates.
Seus principais representantes são Teodoro, o Ateu, Hegesias e Aniceris.  Sob certa influencia sofista tal escola pregava que as sensações eram o único critério da verdade e da ação. Sendo a busca do bem essencialmente a busca pelo prazer através da autarquia,  do governo de si mesmo que é também o governo dos próprios prazeres. Assim, para os cineraicos a felicidade é a soma dos prazeres particulares vivenciados ao longo da existência e é a forma como os experimentamos e não sua repressão. Podemos considerá-los como a primeira expressão do hedonismo no pensamento ocidental que, posteriormente, encontraria no epicurismo helênico uma nova configuração.  

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

NOTA SOBRE SEXTO EMPIRICO E O CETICISMO



Medico e filosofo grego que viveu entre os sec. II e III , Sexto Empírico é uma das principais referências para o conhecimento do pensamento da antiguidade e mais especificamente do ceticismo pirrônico.
Seus escritos são inspirados pela idéia cética da necessidade da epokhé ou da suspensão do julgamento ou juizo no indagar e observar das coisas. Possuem, portanto,   um caráter profundamente anti metafísico  e empirista  que, ainda hoje, fundamenta toda autentica investigação da realidade e construção do conhecimento no desconstruir de verdade absolutas .  Diferente do sugerido pelas suas interpretações modernas, o ceticismo não é uma filosofia da duvida, mas da investigação, a essência da própria ciência, como bem atesta a obra deste autor.