A capacidade de memorização pode ser tomada como a base sobre a qual se desenvolveu a consciência e a conseqüente auto percepção do eu.
Defino memória, em termos bem superficiais, mas a contento para os meus propósitos aqui, como uma espécie de “senso de recorrência” que nos permite reconhecer a realidade como um conjunto coerente de permanências fenomenológicas.
Não é difícil admitir que existimos no somatório e acumulo de nossas experiências codificadas seletiva e teleológicamente organizadas em lembranças.
Se possuímos memórias que são pragmáticas e mecânicas, como o recordar do significado de uma palavra ou dos procedimentos inerentes a uma equação matemática, também possuímos aquelas que são irracionalmente subjetivas como a recordação de um acontecimento traumático.
Desta forma poderíamos construir uma vasta tipologia de nossas memórias de acordo com sua natureza: pragmáticas, funcionais, emotivas, nostálgicas, antigas, recentes, provisórias,individuais, coletivas, etc...
Creio que isso é mais do que suficiente para demonstrar a complexidade do tema. Mas também é insuficiente para revelar toda a minha perplexidade com as tantas possibilidades inerentes ao ato de lembrar que ora surpreendo como um acontecimento autônomo, impessoal cujas regras e dinâmicas me transcendem como seu sujeito e objeto...