segunda-feira, 12 de abril de 2010

SOBRE LITERATURA BEAT

A chamada Geração Beat, é uma das principais matrizes da cultura contemporânea. Seu legado, entreto, é pouco discutido e permaneça envolvido por varios estereótipos e preconceitos. Contrariando esta tendência geral, o ensaio A GERAÇÃO BEAT de Claudio Willer é uma satisfatória introdução ao tema.


Não é minha proposta aqui propriamente resenhar o texto de Willer, mas a partir dele apontar para atualidade da cultura beat. Afinal, o autor nos oferece um panorama amplo e consistente desta verdadeira explosão de criatividade e renovação literária que sacudiu os Estados Unidos a partir dos anos 50. Para Willer, uma das peculiaridades desta literatura, quando comparada a movimentos vanguardistas como o surrealismo, é sua diversidade interna e multiculturalismo, além da informalidade que condicionaria seu desenvolvimento ao longo de decadas.

Embora originado como movimento literário entre os anos de 1944 e 1958(9) através da colaboração e convergência de um pequeno grupo de jovens escritores como Jack Kerouac, Neal Cassady, William Burroughs, Hebert Huncker, John Clellon Holmes e Gregory Corso, a cultura beat reinventou-se ao longo dos anos 60 do ultimo século, ampliando-se e transmutando-se em contra cultura, rebeliões juvenis e Flower Power.

Como observa Willer quanto a este particular, assim como o surgimento do Beat é marcado pela dramática tentativa de censura dos textos , a contra cultura o foi pela ação policial direta. Tal ação repressiva, paradoxalmente, muito contribuiu para a conquista da quase irrestrita liberdade de expressão da qual gozamos nos dias de hoje.

Apesar desta simbiose entre cultura beat e contra cultura, vale assinalar que a primeira, após a perda do prestigio da segunda em fins dos anos 70, permaneceu despertando forte fascínio e interesse.

Segundo Willer

“ A contra cultura foi a última manifestação de alcance universal do século XX. Dai em diante, desde 1968, sucederam-se movimentos de afirmação de particulares, nacionais ou regionais,n e das minorias e setores especificos da sociedade. A cultura jovem segmentou-se e fragmentou-se em tribos e tendencias: punks, góticos, neo-hipies; a militancia politica de esquerda, em tendências, facções, conventículos. Haverá quem diga que a movimentação mais recente associada ao Forum Social Mundial é uma retomada da mobilização planetária; contudo, por mais expressiva que seja, não se mostra capaz, como o foram as revoltas de 1968, de paralisar uma nação ( como aconteceu na França em maio de 68) ou de colocar governos em xeque.

Mas o eclipse da contracultura não determinou o declinio do prestígio da beat. Ao contrário: é como se, freado o movimento alternativo, houvesse o retorno àquilo que o originou, a uma densidade inerente à pesquisa e à invenção literária, talvez perdida com a subsequente massificação. Muitos autores podem ser associados à geração hippie e à contracultura; sua expressão artística é evidente na música, do experimentalismo lisérgico à canção de protesto, e em diversidade de criações em artes visuais e multimeios. Mas não se pode designar essa produção de contracultura nos mesmos termos em que se fala de beat, essa sim, movimento literário em primeiro lugar, e acontecimento comportamental em seguida, por consequência.”

( Claudio Willer. Geração Beat. Porto Alegre: L&PM, 2009 ( coleção L&PM Pocket); p.110-111)


EGO AND TIME


Sei que não posso

Retroceder nos caminhos dos anos,
Reinventar-me
Nos fatos estáticos
Que me decoram biografias,
Para respirar em alivio
Outros futuros.


Pois este eu
Que ora escreve,
Não é o mesmo
Que intensamente
Provou o passado
E, muito menos,
Será aquele que viverá
Meu último suspiro...

sábado, 10 de abril de 2010

H L MENCKEN: A VIDA COMO CRITICA DE TODAS AS COISAS


No cenário ca cultura norte americana dos anos 20 e 30 do último século, o nome do filologo, critico e jornalista H L Mencken (1880-1956) tem merecido destaque pelo humor corrosivo, sarcasmo, e refinado espirito critico que lhe permitiam dissertar com maestria sobre as multiplas manifestações da estupidez humana.

Seja ridicularizando o fundamentalismo religioso, tão caro a cultura norte americana, desqualificando a politica e os cotidianos preconceitos do cidadão mediano, Mencken produziu uma obra tão singular para a época que podemos considera-lo um prercursor do modernismo na literatura americana e uma especie de Bernard Shaw da america.

Sua obra, embora produzida a quase um século, me é profundamente contemporânea e inspiradora pelo seu criticismo absoluto, mais do que nunca atual. Afinal, a individualidade é cada vez mais um excercicio de critica de todas as coisas... 

Reproduzo aqui alguns fragmentos de textos reunidos na coletanea O Livro dos Insultos de H L Mencken, selecionado, traduzido e prefaciado por Ruy Castro:



“ Um dos princiapais encantos da mulher na sociedade humana talvez seja o fato de que elas são relativamente incivilizadas.”

*

O homem, na melhor das hipóteses, continua uma espécie de animal cambeta, incapaz de tornar-se redondo e perfeito como, digamos uma barata é perfeita.”

*

O MEDICO

“A medicina preventiva é a corrupção da medicina pela moralidade. É impossivel encontrar um medico que não avacalhe sua teoria da saude com a teoria da virtude. Toda a medicina, de fato, culmina numa exortação etica. Isto resulta num conflito diametral com a ideia de medicina em si. O verdadeiro objetivo da medicina não é tornar o homem virtuoso; é o de protege-lo e salvá-lo das consequencias de seus vivios. O medico não prega o arrependimento; ele oferece a absorvição.”

*

Talvez a qualidade mais valiosa que qualquer homem possa ter neste mundo seja um ar naturalmente superior, um talento para impinar o nariz com desprezo.”

*

O CREDULO

“A fé pode ser definida em resumo como uma crença ilogica na ocorrencia do improvável. Ela contem um sabor patológico;extrapola o processo intelectual normal e atravessa o viscoso dominio da metafisica transcendental. O homem de fé é aquele que simplesmente perdeu (ou nunca teve) a capacidade para um pensamento claro e realista. Não que ele seja uma mula; é, na realidade, um doente. Pior ainda, é incurável, porque o desapontamento, sendo essencialmente um fenomeno objetivo, não consegue afetar sua infermidade subjetiva. Sua fé se apodera da virulência de uma infecção crônica. O que ele diz, em suma, é: “Vamos confiar em Deus, Aquele que sempre nos tapeou no passado”.

*

“Talvez a mais valiosa de todas as propriedades humanas, depois de um ar de empáfia e superioridade, seja a reputação de bem sucedido. Nenhuma outra coisa torna a vida mais fácil.”

*

“Todo home descente se envergonha do governo sob o qual vive.”

*

Todo artista de alguma dignidade é contra seu próprio pais. Pense em Dante, Tolstoi, Shakespeare, Rabelais, Cervantes, Swift e Mark Twan.”

*

“A democracia é a arte e a ciencia de administrar o circo a apartir da jaula dos macacos.”

*

“A monogamia mata a apixão- e a paixão é o mais perigoso de todos os inimigos da civilização”

Referencia das citações: H L Mencken.  O livro dos insultos de H L Mencken/ Seleção, tradução e prefácio de Ruy Castro. SP: Companhia das Letras, 1989, 3° reimporessão.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

THE DAY AFTER


Sei que o dia seguinte

Pode não trilhar a rotina
Do existir de agora,
Explodir em inesperados acasos,
Desconstruindo certezas e planos,
Soterrando-me em fatos e enigmas
De acontecimentos nus...

YES...


Aprendo a tropeçar no instante,

Cair no momento,
Para inventar horas,
Passados e futuros
Delirando o presente
Entre memórias que brotam
De algum ideal de ego cravado
Entre o tempo e o espaço...
Mas sinto-me timidamente
Algo mais que isso...

Yes, I Can’t...



quarta-feira, 7 de abril de 2010

PESSOAL ANONIMATO


Sei que sou apenas

Qualquer pessoa
Aos olhos dos outros.

Uma opaca realidade
De carne e osso
Sem significativa substancia,
Qualquer incerta coisa de mundo
Que lentamente se acaba no tempo
Ferindo esquecimentos
E inventando memórias...



sexta-feira, 2 de abril de 2010

SIGNIFICADO DO PÓS MODERNISMO


A teoria da pos modernidade, em suas tantas formulações e versões, pressupõe a hipótese de que vivemos em uma época de transição e desconstruções.

Contra o télos histórico da modernidade, o ideal abstrato de uma emancipação humana através de um projeto racional, a pós modernidade sustenta uma releitura do micro-universo do efêmero, do anedótico e singular.

Desfazendo os universais de inspiração metafísica, afirma uma imagem de mundo fundada no ilegível da condição humana e no aleatório devir de todas as coisas entre arte e ciência...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

LARGE HADRON COLLIDER- LHC: A FRONTEIRA FINAL...

O Grande Colisor de Hádrons ( Large Hadron Collider - LHC) , o maior acelerador de partículas e o de maior energia existente , localizado em um tunel na fronteira franco-suiça, cujo maior objetivo é a colisão de feixes de partículas carregadas, tanto de prótons a uma energia de 7 TeV (1,12 microjoules) por partícula, quanto núcleos de chumbo a energia de 574 TeV (92,0 microjoules) por núcleo, realizou na última terça feira seu maior feito ao produzir um big bang em miniatura que segundo os especialistas inaugura uma nova era na história da na fisica moderna.



Uma dos principais objetivos da experiência é a identificação da chamada “partícula de Deus” ou Bóson de Higgs, a única partícula que integra o modelo padrão do universo e que ainda não foi observada. Até agora, nenhum experimento detectou diretamente a existência do Bóson de Higgs, embora haja alguma evidência indireta de sua existência.



O fato é que nos aproximamos cada vez mais de uma representação do universo onde a imagem de um telos, onde uma divindade como principio, torna-se obsoleta e incapaz de dar conta da complexidade da existencia. Em outros termos, a linguagem cientifica é cada vez mais uma linguagem desafiadora dos costumes e convenções que sustentam o imaginário social.

terça-feira, 30 de março de 2010

O TEMPO DENTRO DAS COISAS

O dia ganhou



Um gosto de tristeza antiga


Enquanto o sol caía


Sobre as ruas


Ofuscando cores e coisas.


Tudo se encontrava em silêncio,


Espalhado no tempo


Entre desaparecimentos e inércias...






Em cada canto


Faziam-se ouvir ecos de perdidas realidades.


Nada era mais importante do que o passado enterrado


Na melancolia que vestia cada objeto.

STATES OF CONSCIOUSNESS


Fascina-me a paixão



Acordada por cada objeto


Que me decora a vida,


O pensamento das coisas


Dispersas em paisagens intimas


E a ilimitada busca de certeza


Para os cotidianos atos


Que me sustentam a existência.


Cada dia é como um sonho estranho


Ou reminiscência da indeterminação abstrata


De tudo aquilo que me cerca...