domingo, 2 de agosto de 2009

O DEUS ESCORPIÃO by WILLIAM GOLDING


O Deus Escorpião (1971) reúne três novelas do consagrado escritor britânico William Golding, também autor do clássico O Senhor das Moscas, uma dos mais prestigiados romances da literatura inglesa. Trata-se das seguintes novelas: O Deus escorpião, que dá nome a coletânea, Clonk, Clonk e O Emisário Extraordinário, este ultimo escrito em 1956. As três narrativas, ambientadas na Roma e no Egito antigo, pelo seu abstrato caráter fantástico, podem despertar certa perplexidade no leitor mais desavisado e não habituado com as experiências de vanguarda do modernismo. Afinal, trata-se aqui de esboços literários formatados por uma desvairada e insólita aventura imaginativa e imagética que rompe com a narrativa convencional. Sua leitura é quase ilegível exige do leitor certo esforço cognitivo para preencher seus vazios e nuanças.
Podemos considerar esta obra uma tripartida variação sobre um mesmo tema: o imaginário do poder e sua elementar e absurda codificação da vida coletiva, ambientadas em uma antiguidade imaginária onde despontam Estados dinásticos e estratificados... Cabe observar que o Egito antigo fascinava o autor que demonstra aqui o quanto merece o titulo de “antropólogo da imaginação”.
Pela ousadia formal e estética destas narrativas, profundamente satíricas em sua critica alegórica a modernidade, tendo a classificá-las, não sem polemicas, como Pós modernas.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A PÓS MODERNIDADE DA RELAÇÕES AFETIVAS: UM ESBOÇO


Desbotado e roto o amor romântico deixou de expressar ou codificar satisfatoriamente nossos mais generosos sentimentos de privada alteridade. Emoções e sentimentos, o irracional da vida, no tempo presente, já não são mais domesticadas por códigos de representações e sensibilidades inspiradas em estereótipos coletivos.
Já não seguimos em nossos relacionamentos padrões coletivamente cultivados sobre aquilo que devemos buscar ou realizar em um relacionamento. Neste campo da vida, aprendemos a ser pragmáticos, a investir mais no cotidiano conflituoso das trocas afetivas possíveis entre o “eu” e o “outro”, do que nas fantasiosas expectativas definidas por carências emocionais e idealizações de relacionamentos perfeitos.
Em linhas gerais, a grande novidade do tempo presente é que aprendemos que emoções e sentimentos são grandezas psíquicas que vivem mais em função de sua própria dinâmica interna do que da auto realização de seus portadores.
No plano dos jogos emocionais e de intimidade o amor secularizou-se no deslocamento das subjetividades... Eros se reinventa em nossos dias...

PERSPECTIVAS

Passo à tarde
Rascunhando o futuro
No latente desejo
De escrever meu tempo
Em coloridas páginas
De vida.

Fosse hoje outro dia,
Talvez me perdesse
Do rosto
No desconhecido de estradas,
Mergulhasse em labirintos
De antigas buscas
Reinventando a existência
Em desconstruções de mim mesmo...

terça-feira, 28 de julho de 2009

TEMPO E MOMENTO

Brincando com palavras
Aprendo que nada mudará
Meu mundo
Na magia do tempo que passa
Fazendo meu eu múltiplo
No espaço vivo de cada pessoa.

Toda realidade é intercâmbio
De sentimentos e sensações
Que se vão com o vento
No vago da própria vida
Em duradoura sintonia
De mero momento....

segunda-feira, 27 de julho de 2009

PRELUDE

Atravesso a rua
Apressadamente
Sem tempo
Para pensar,
Indo ao encontro
De um pequeno destino
De momento
Que nada diz a biografia...

Imerso na multidão,
Percebo o quanto
Levamos a vida
Entre apostas e fatos
Enquanto o mundo
Passa por nós em silêncio...

domingo, 26 de julho de 2009

A LEX BY SEPULTURA AND A CLOCKWORK ORANGE

Nas faixas do album A LEX do Sepultura encontramos uma expressão singular e violentamente lírica da sensibilidade pós moderna ou contemporânea de uma confusão de linguagens... Dizendo de outra forma, musica e literatura encontram-se aqui em um caos criativo e agressivo que beneficia a arte como não lugar cotidiano da linguagem, como deslocamento existencial e estranhamento da própria realidade... Neste álbum o rock se faz meta linguagem, extra-territorialidade, realizando o profundo e feliz desconforto sombrio que o texto original de Anthony Burgess nos provoca... Trata-se de uma tradução... talvez a altura daquela realizada por Stanley Kubrick para o cinema, que não contou, infelizmente, com a aprovação do autor...

TÉDIO...

Um vento rasga
O rosto de um sonho
Revelando a paisagem
De um eterno outono
Dentro da viva de cada dia.

Tudo acontece
Opaca e provisoriamente
Ao sabor dos tédios
Que animam as horas.

Tudo é tão banal
Que quase
Não me percebo
Nos fatos abertos
Em mera mesmice...

POP POEM


Ícones,
Ídolos
E mitos
Consomem o real
Desfazendo a realidade
No vento
Até o sonho
Tornar-se concreto.

Sacralizado no imaginário
Das multidões,
O indivíduo torna-se
Símbolo vivo
Da aventura humana.

A fama de particulares rostos
Veste nossas personas
Famintas de singularidade
E da paz de jardins ingleses...

sábado, 25 de julho de 2009

LITERATURA INGLÊSA XLVII


Dentre todas as literaturas do mundo, a de língua inglesa é a mais prodigiosa em vozes femininas, fato que constitui uma de suas mais atraentes peculiaridades. Um bom exemplo disso é a obra da britânica neo-zelandesa Katherine Manfield ( 1888-1923) que pode ser considerada uma das maiores ficicionistas do séc. XX.
Sua matéria são histórias curtas; contos, ou short stories and long short stores, em que explora com singular sensibilidade e simplicidade o pouco do dia a dia, a profundidade inerente a experiência do banal através de personagens comuns através dos quais nos defrontamos com o mais profundo da condição humana nas pequenas coisas... Justamente por isso sua narrativa é econômica, direta, desconcertadamente coloquial no dizer do mais profundo da vida.
Katherine viveu no inicio do século passado uma vida bastante atribulada. Seja do ponto de vista afetivo,sexual ou social. Casou-se e divorciou-se em um único dia, sofreu um aborto e experimentou diversas relações homo e hetero sexuais em um tempo em que a condição feminina ainda era prisioneira de uma caprichosa cultura falocrática. Com apenas 34 anos encontrou a morte através da tuberculose deixando para traz uma experiência de intensidade da vida que se traduziu magistralmente em seu universo literário.
Não por acaso, a publicação póstuma de seus diários, álbuns de recortes e epistolas, gerou uma vasta bibliografia.
A festa ( The garden party) é um de seus contos mais famosos e lidos e, diga-se de passagem, um de meus favoritos. Neste, a simultaneidade da vida e da morte, da alegria e da tristeza na paisagem do se fazer humano, nos surge sem filosofias através da sensibilidade e lirismo da pequena Laurie... Em poucas palavras, o que Katherine nos oferece em sua simplicidade é uma reflexão sobre a complexidade do banal de cada dia... Devo-lhe pessoalmente muito por isso, como leitor e admirador inconteste.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

PALAVRA ENIGMA


Não sei onde me leva o esforço de cada palavra em verso e prosa. Sinto, apenas, que o discurso, a letra,me ultrapassa na construção de um pensamento que me desconstrói, que se impõe como experiência do ilegível abstrato da condição humana.
Procuro sondar a sombra dos textos, buscar-me em seus vazios na contramão de enunciados e sentidos.

Talvez, se o conseguir, compreenda plenamente o universo que se expande caótica e aleatoriamente em meus castelos de textos inúteis...

ACROSS THE UNIVERSE...