terça-feira, 7 de julho de 2009

NOTA SOBRE A VELHICE


Tantas são as memórias e rostos que elucidam meus percorridos caminhos, que sou incapaz de vestir qualquer definição de mim mesmo para dizer minha vida. Afinal, sou a soma de muitos eus perdidos, de desmarcados encontros com o destino.
Grande parte de mim perdeu-se em passados não vividos.Sou a viva conseqüência destas perdas e desencontros que em somatório de vazios conduziu-me ao azul do presente em que me transformei na contra-mão do tempo.
Depois de certa idade, os ganhos e vitórias pouco importam e nos dizem pouco sobre o essencial da existência.
É próprio da condição humana desejar futuros para esquecer os passados que atormentam o presente tentando provar juventudes transfiguradas nas canções do vento...

LUDICO, IMANÊNCIA E REPRESENTAÇÕES DA INFÂNCIA


O lúdico é uma modalidade de linguagem... um acontecer de fantasias, que nos afasta do dia a dia e do mundo em um exercício de sem rosto e intensidade de vida.
Quando brincamos e inventamos coisas sem utilidade e propósito, somos de algum modo apenas nós mesmos; não pensamos em nada que não seja o momento vazio de um riso que diga em segredo o mais pleno domínio da realidade.
Este é o mais profundo e significativo acontecimento possível da vida humana na ignorância de certezas, verdades, propósitos e compromissos que nos transcendem como indivíduos que brincam com o tempo, nos transformando em vazios membros de sociedades...

REAL LIFE

Deixo de lado
O exercício
De preencher cada hora
Com memórias de futuros
Escolhidos.

Procuro o presente
Em profundidade
Buscando a vida
No aqui e agora
Dos fatos
Sem a ilusão de vontades
Escritas pelo sabor dos dias
Em meus mais íntimos pensamentos.

Tudo que me importa agora
É o possível da realidade
Em mínimo rosto e persona

domingo, 5 de julho de 2009

NEWSLETERS


O efêmero desfila
Nas folhas soltas
Dos jornais diários
Afirmando a solidez
Do descartável,
Do relativo,
Ou de tudo aquilo
Que se desfaz.

O mundo segue em silêncio
No dizer informal das coisas
Afirmando o absoluto domínio
Do irracional sobre os dias.

Indiferente a tudo,
Mergulho em minhas imanências
...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

2+2=5 by Radiohead....

Uma de minhas canções preferidas do Radiohead é 2+2=5. Projeto nesta musica, na simplicidade de sua letra, meus desafios cotidianos mais profundos e incertezas de existência em sentimentto de mundo, ou aprendizado impossível de mim mesmo em desconstruções de Eus... Tudo que importa é ficar em casa para sempre... sem sofrer os coletivos cotidianos de perdas em dias de rotinas e mentiras de convencional realidade....

2+5=5 by Radiohead....

Are you such a dreamer

To put the world to rights

I'll stay home forever

Where two and two always makes a five

I'll lay down the tracks

Sandbag and hide

January has

April showers

And two and two always makes a five It's the devil's way now

There is no way out

You can scream and you can shout It is too late now

Because you're not there

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention yeah

I feel it,

I needed attention

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention

Yeah

I need it,

I needed attention

I needed attention

I needed attention

I needed attention

Yeah

I love it, the attention

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention

Soon oh

I try to sing along

But the music's all wrong

Cos I'm not

Cos I'm not

I'll swallow up flies?

Back and hide

But I'm not

Oh hail to the thief

Oh hail to the thief

But I'm notBut I'm not

But I'm notBut I'm not

Don't question my authority or put me in the box

Cos I'm not

Cos I'm not

Oh go up to the king, and the sky is falling in

But it's notBut it's not

Maybe notMaybe not.

terça-feira, 30 de junho de 2009

LIFE FOREVER...

A vida é apenas
Um acontecer imperfeito
De isolados fatos
Espalhados pelo tempo,
Desarticulados em biografias
Perdidas em ilegível de mundo...

A vida é o provisório
E inacabado movimento
Da existência
Em perecível natureza.

Tudo que existe
É a mera e doce imanência
De cada dia perdido
Em enigmas de risos
Entre amigos.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

CRONICA RELÂMPAGO LVII

Nada é mais enganoso em nossas rotinas do que o sentimento de que ela é determinada pelo invariável e o imutável da empiria do acontecer guiado pelos calendários e agendas... Como se o cotidiano fosse domesticável e maleável, como se pudéssemos saber, mesmo que limitadamente, ao amanhecer de cada dia, o acontecer das horas que nos esperam em ingênuo calculo de hábitos consolidados.
A existência contemporânea, entretanto, não pressupõe qualquer rotina que não implique em riscos, incertezas, repentinas e obscuras mudanças que nos quebrem rostos nas surpresas de nós mesmos diante de fatos e experiências...

ANOITECER

O mundo gira
E se transforma lá fora
Enquanto aqui dentro
Tento preservar os rastros
De emoções perdidas
Em palavras espalhadas
Sob o léu dos fatos.

Provisoriamente sobrevivo
A mim mesmo
Saboreando o sonambulismo das horas
Desencontradas do desaparecer do dia
A espera do sem nome de algum sonho
Escondido...

FREE TIME


Procuro plena e absolutamente
Viver o momento
Como se toda a vida
Existisse nele,

Como se o acontecer
Da soma de todas as coisas
Brilhasse neste instante
Ofuscando as cotidianas
Incertezas e insuficiências
De inacabamentos biográficos.

Respiro o tempo presente
Como se nada mais existisse
Alem da sensação
E quase certeza do aqui e agora
A me consumir em vontades,
Esperanças e apostas.

sábado, 27 de junho de 2009

Lennon Remembers


LEMBRANÇAS DE LENNON é a publicação, pela primeira vez na integra da longa entrevista concedida por John Lennon e Yoko Ono em dezembro de 1970 a Jeann S. Wernner para a Revista Rolling Stones. Trata-se da primeira entrevista de John após o conturbado fim dos Beatles. Não é de surpreender, portanto, a entonação por vezes colérica ou ressentida de algumas passagens.
De um modo geral, o texto nos revela um retrato nítido de John Lennon, seus contextos vividos e questões de inicio dos anos 70. A entrevista deve ser lida como a descrição de um momento bastante passional onde Lennon buscava se afirmar contra a sombra dos Beatles; ela não é mais do que isso, a cristalização de um instante biográfico do entrevistado.
Embora tenha sido concebida como estratégia de publicidade para o seu primeiro disco solo então recentemente lançado: JOHN LENNON/PLASTIC ONO BAND, com o passar dos anos esta entrevista converteu-se em um dos mais importantes documentos sobre a separação dos Beatles, mesmo que seja apenas a versão de John ainda sob o calor dos acontecimentos.
O fato é que os Beatles, enquanto personificação radical do mito vivo de toda uma época, é nesta entrevista pela primeira vez dissecado, dessacralizado, dando lugar a uma imagem mais humana e realista da Banda e dos dilemas e dificuldades vividos pelos seus membros ao longo da agitada carreira.
Ao mesmo tempo, quando visitamos este texto neste inicio de milênio, o mais pertinente é o natural questionamento sobre a contemporaneidade de Lennon e seu legado. Pode-se dizer que a luta contra o mito de si mesmo e a afirmação de sua singularidade humana foi a principal lição que ele nos legou através de sua música. Esta busca de uma vida simples e autentica voltada para a contemporaneidade de si mesmo, apesar de todo o caos de mundo que nos rodeia é na verdade um desafio de todos nós e não apenas um desafio de Lennon.
Ao longo da leitura desta entrevista ecoava em meus pensamentos a musica "God" que me parece traduzir o compromisso vital que devemos a nós mesmos ou as potencialidades de nossa individualidade acima das tantas duvidosas e coletivas verdades espalhadas por ai e circunstâncias de social existência...
Em poucas palavras, acho que Lennon contribuiu para manter aquele realismo autêntico e intenso que faz do rock and roll uma realidade viva em nossas vidas...

“ ... O rock’n’roll? Por que é primitivo e não tem embromação... as melhores coisas. E mexe com a pessoa. É a batida. Vá para floresta e eles tem o ritmo, no mundo inteiro. Você leva o som, todo mundo entra junto. Eu li que Malcolm X, Eldridge Cleaver ou sei lá quem disse que, com o rock, os negros permitiram que os brancos de classe média usufluíssem de seu corpo novamente, colocaram o corpo e a mente ali. É mais ou menos isso. Mexe com a pessoa. Comigo, mexeu. De todas as coisas que estavam acontecendo quando eu tinha quinze anos, foi a única que conseguiu mexer comigo. O rock era real. Tudo o mais parecia ilusório. O lance do rock, do bom rock’n’roll- o que quer que “bom” signifique etc., ah-ah, e toda essa merda- é que é real. E o realismo mexe com a gente, quer queira quer não. A pessoa reconhece a autenticidade ali, como em toda a arte de verdade. O que quer que seja a arte, caros leitores.É isso.Se é autêntico, geralmente é simples.E se é simples, verdadeiro. Mais ou menos isso.”


(John Lennon. Lembranças de Lennon. Entrevista de Jann S. Wenner/tradução de Marcio Glilo. SP: Conrad Editora do Brasil, 2001, p. 84-85 )