segunda-feira, 22 de junho de 2009

ON THE ROAD

A margem da rua,
Dentro do meu silêncio,
Percorro o mundo
Mudo e em segredo.

As pessoas são como coisas
Em movimento
Entre objetos e cores,
Carros e prédios.

Tudo existe
Como involuntária imaginação
Na bagunça dos meus pensamentos.

domingo, 21 de junho de 2009

POS MODERNIDADE E SENTIMENTO DE TEMPO

A partir da segunda metade do século XX o “espírito epocal” gradativamente reduziu-se ao misero recorte cronológico de uma década. Não se trata de uma simples aceleração de nossa sensibilidade para realizar ou perceber as mudanças e transformações continuamente em curso nas tantas conjunturas culturais e históricas. O que me parece decisivo é a emergência de um tipo novo de percepção do passar do tempo condicionada a sua fragmentação e a nossa libertação do passado como tradição, o que estabelecia o costume como premissa da organização social do cotidianamente vivido através de ritos e regras que deveriam perpetuar-se indefinidamente no fluxo de gerações . Essa liberdade relativamente recentemente adquirida com relação ao passado nos conduziu a um “presentismo contemporâneo” que parece rearticular nossas representações do passado e do futuro em um continum atemporal de uma pluralidade de estratégias de construção de imanências. Definitivamente não vivemos mais no mesmo mundo de nossos avós ou de nossos pais, nem mesmo no da nossa infância. Ele também, com certeza, não será o de nossa velhice. Tal fenômeno, que levaria ao desespero nossos antepassados, não nos perturba significativamente, pois nos habituamos a um eterno presente ontológico pós histórico onde a novidade é uma regra básica. O novo do sempre igual é o que define nossa contemporânea percepção do passar das coisas, a teleologia do imediato. É impreciso falar de um “fim da história” como se propôs a algumas décadas. Foi a própria idéia de “evolução”, da história como um processo direcionada por metas e objetivos civilizacionais, que felizmente se perdeu na poeira do tempo. Neste ponto, sem sombra de duvida, superamos as ofuscações iluministas.

MUNDO ONIRICO


Sonhos dormem
Sob o leito
De um mar profundo
Quando a noite abraça
A paisagem
Em suave visita
Eles me devolvem
Ao intimo mundo
Que perdi na infância.

Inutilmente procuro ser
Apenas aquilo que sou
Submetido ao susto
De cada manhã.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

POETICA DEFINIÇÃO DA IMANÊNCIA


Minha vontade é correr o mundo em direções múltiplas de discursos desarticulados, perdidos, em palavras e frases de vento; provar o mundo em colorido pensamento de não dizer as coisas, sentindo-as em ativo verbo. Descobrir o nada como o segredo dos significados que nos sustentam verdades provisórias, desvelando o vazio em um riso de imaginação criativa e duradoura da realidade como estética, como sensível idéia inventada em meus atos na realização do corpo em macro e micro fisico movimento.

terça-feira, 16 de junho de 2009

MIRCEA ELIADE E A PROBLEMATICA DO SOGRADO COMO LINGUÁGEM



No prefácio que faz a ORIGENS, uma coletânea de seus ensaios publicada em 1969, Mircea Eliade define a experiência do sagrado não como a fé ou crença em deus, deuses ou adesão emocional a princípios e dogmas metafísicos, mas como a experiência de uma realidade significativa que é a própria condição do homem no mundo, ou ainda, como a uma estrutura inerente a fenomenologia da consciência.
Desta forma, considerando a crise da religiosidade contemporânea, que é em grande parte um desgaste dos modelos religiosos definidos pela tradição, é interessante observar como Eliade que, no conturbado contexto de fins dos anos 60 afirmava simplesmente que,

“... O que eu digo é que num período de crise religiosa não se podem prever as respostas criativas e, como tal, provavelmente irreconhecíveis, dadas a semelhante crise. Além do que não é possível prever as expressões de uma experiência do sagrado potencialmente nova. O ‘homem total” nunca é completamente dessacralizado, e é de duvidar até que tal seja possível. A secularização é altamente bem sucedida ao nível da vida consciente: as velhas idéias teológicas, dogmas, crenças, rituais, instituições, etc. são progressivamente expurgados de sentido. Mas nenhum homem normal vivo pode ser reduzido à sua atividade racional consciente, pois o homem moderno continua a sonhar, a apaixonar-se, a ouvir música, a ir ao teatro, a ver filmes, a ler livros – em resumo, a viver não só em um mundo histórico e natural, mas também num mundo existencial privado e num Universo imaginário. É, em primeiro lugar, o historiador das religiões quem é capaz de reconhecer e decifrar as estruturas e sentidos “religiosos” destes mundos privados ou Universos imaginários.”

( Mircea Eliade. Prefácio in Origens: História e Sentido na Religião / tradução de Tereza Louro Perez. Lisboia: Edições 70, s/d, p.12 )

Cabe complementar tal reflexão com os primeiros parágrafos do citado prefácio onde o autor, ao apresentar seus próprios textos, contrapõe os conceitos de “religião” e “sagrado” de modo realmente interessante e sugestivo:

“ É lamentável não termos a nossa disposição uma palavra mais precisa que ‘religião’ para designar a experiência do sagrado. Este termo traz consigo uma história longa, se bem que culturalmente bastante limitada. Fica a pensar-se como é possível aplicá-lo indiscriminadamente ao Próximo Oriente antigo, ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islamismo, ou ao Hinduismo, Budismo e Confucionismo bem como aos chamados povos primitivos. Mas talvez seja demasiado tarde para procurar outra palavra e “religião” pode continuar a ser um termo útil desde que não nos esqueçamos de que ela não implica necessariamente a crença em Deus, deuses ou fantasmas, mas que se refere à experiência do sagrado e, consequentemente, se encontra relacionada com as idéias de ser, sentido e verdade.
Com efeito, é difícil imaginar como poderia funcionar a mente humana sem a convicção de que existe algo de irredutivelmente real no mundo, e é impossível imaginar como poderia ter surgido a consciência sem conferir sentido aos impulsos e experiências do Homem. A consciência de um mundo real e com um sentido está intimamente relacionada com a descoberta do sagrado. Através da experiência do sagrado, a mente humana aprendeu a diferença entre aquilo que se revela como real, poderoso, rico e significativo e aquilo que não se revela como tal- isto é, o caótico e perigoso fluxo das coisas, os seus aparecimentos e desaparecimentos fortuitos e sem sentido.”

( Idem p. 9)


Parafraseando Eliade a experiência do sagrado, ao desvelar o ser, o sentido e a verdade no confronto com um mundo desconhecido, caótico e temível, preparou o caminho para o pensamento sistemático. Não é, portanto, de todo inútil nos ocuparmos dele dado que o estudo dos diversos mitos e símbolos construídos ao longo da história da humanidade, nos levam a confrontar e explorar situações existências fundamentais e elementares inerentes a experiência humana em sua linguagem arquétipa e pré-reflexiva.


LOST MEMORY


Já é demasiadamente tarde
Para empilhar passados
Em meus quartos de memória.
Todo o tempo do mundo
Tornou-se silêncio
No exercício de presentes
E existências
Que me sustentam a palavra aberta.

Observo serenamente
O passar das coisas
Adivinhando futuros sonhados
Que o ontem esqueceu...

CRÔNICA RELÂMPAGO LVI


Talvez uma parcela de nossos rotineiros hábitos de existência possa ser classificada, na falta de melhores palavras, como vícios de dia a dia. Refiro-me aquele insignificante conjunto de hábitos e gestos concretos que diariamente reproduzimos irrefletidamente em nossa intimidade e constituem o núcleo de nossas rotinas.
Assistir a um dado programa de TV diariamente, freqüentar determinados lugares públicos ou pessoas, possuir esta ou aquela dieta alimentar e até mesmo usar certas gírias ou expressões vazias para se expressar, convencionalmente, diz muito sobre quem somos. Penso, entretanto, que, longe disso, tais “manias adquiridas” não passam de superficialidade pragmática, independente do quanto somos moldados por elas.
Definitivamente não é como vivemos que define o que há de mais singular em nossa singularidade e individualidade. Nisso só encontramos duvidosas explicações de como nos adaptamos melhor ou pior as experiências vividas ao longo do acumulo de tempo no mundo.É em como gostaríamos de viver que surge nossas potencialidades básicas e bem ou mal realizadas através de nossas escolhas e configurações de existência. Somos sempre um esboço de tudo aquilo que poderíamos ser, um pálido retrato de nossas anciãs, desejos e inclinações mais básicas.
Afinal, quantos sonhos guardamos no bolso enquanto sofremos o peso de nossas personas sociais? O quanto guardamos de nós mesmos ao longo do acontecer da vida?

sábado, 13 de junho de 2009

PRESENT

Tudo passa e se perde
Em um segundo de certeza
Esboçado em pensamento.

O caos e o mundo
Deitam sobre mim
Em um sonho de dias perdidos.

Vivo imanentemente o agora
Mergulhado no efêmero
Do acontecer de um instante.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

HAWKING E OS BURACOS NEGROS


Publicado originalmente no Reino Unido em 1997, a coleção “Em 90 Minutos” de autoria do professor de filosofia e matemática da Universidade de Kingston, Paul Stratheen, oferece ao público leigo, breves e panorâmicos ensaios sobre a vida e obra de filósofos e cientistas de relevante impacto sobre o pensamento contemporâneo.
Um dos volumes mais interessantes da coleção é HAWKING AND BLACK HOLES, dedicado a Stephen W. Hawking, considerado o mais brilhante físico teórico desde Einstein que, muito apropriadamente , ocupa a cadeira de professor lucasiano de Matemática em Cambridge que já fora ocupada um dia por Newton.
Conhecido do grande público desde a publicação em 1997 de “Uma breve História do Tempo”, Hawking é reapresentado aos leigos através deste pequeno manual através de um interessante recorte biográfico que, indiretamente, nos aproxima do complexo conjunto de problemas e hipóteses que o brilhante cientista generosamente nos oferece.
Creio que o mérito desta pequena brochura é justamente a de permitir uma leitura menos abstrata do autor e das implicações de sua obra nos convidando a refletir sobre ela e sobre o lugar que a ciência especulativa, ou a cosmologia ocupa em nosso imaginário contemporâneo.
Tudo que sei é que uma bela e inspiradora descrição de Hawking, enquanto mito vivo do pensamento cientifico e das potencialidades da mente humana, pode ser encontrada ao final do ensaio de Stratheen:

“ Não é por acaso que Hawking trabalha no Departamento de Matemática Aplicada de Física Teórica. Se seu trabalho. Se seu trabalho fosse provado, poderia se tornar prático e ele perder seu gabinete. Foi nesse gabinete que Hawking levou a cabo boa parte de suas mais profundas reflexõesm ( como o aviso de “Silêncio, por favor, o chefe esta dormindo” pendurado em sua porta). Talvez seja esta a melhor maneira de descrevê-lo. Uma figura pequena, enterrada em uma cadeira de rodas motorizada, com sua rede de computador, seu espelho, fios complexos e cliques dos engenhos mecânicos. Hawking em silêncio combina pequenos cálculos com vastas teorias. Sobre a mesa em frente, outra tela de computador e pilhas de papel. Mais além, o grande pôster de Marilyn Monroe olha para baixo, com ternura, para seu protegido intelectual. Perdido nesse hambiente, Hawking confronta sua mente com os limites do universo. De vez em quanto, um assistente ou uma enfermeira entra e sai, silenciosamente, sem ser notado.
Às quatro horas em ponto, todos os dias, encena-se um ritual . A hora do chá. Hawking é levado em sua cadeira até o salão comum, onde fotografias de antigos Lucasian Professors revestem as paredes. Nesse local, trocas vigorosas acontecem entre os jovens pesquisadores reunidos. A aparência desse grupo já foi comparada a “uma banda de rock em um mau dia” e sua linguagem é igualmente incompreensível aos seres humanos normais. A figura central desse grupo se senta em sua cadeira de rodas usando um babador. Uma enfermeira segura seu copo e mantém uma das mãos em sua testa, controlando sua cabeça para que ele possa beber. Seus óculos deslizam pelo nariz e seus lábios frouxos sugam ruidosamente o chá, enquanto vozes jovens discutem calorosamente em torno dele. Algumas vezes a conversa se interrompe e um componente do grupo escreve uma formula matemática no tampo de fórmica da mesa. !”Quando queremos conversar alguma coisa, tiramos xérox da mesa”, disse Hawking certa vez a um visitante.)
De vez em quanto, o grupo se volta para a pequena figura na cadeira de rodas, e ele digita uma resposta que ressoa na voz debilitada do sintetizador. Alguém faz um comentário de mau gosto, típico dos estudantes, e a figura na cadeira de rodas irradia seu famoso sorriso largo. Ele está em seu elemento: o centro de seu próprio universo matemático, já matéria de lenda.”


( Paul Strarthern. Hawling e os Buracos Negros em 90 minutos/tradução de Maria Helena Geordane, consultoria Carla Fonseca-Barbatti. RJ: Jorge Zahar,1998, p. 79-80 )

ASTROLOGIA

Quero ser como o vento
Que vai e vem
ao sabor
do aleatório momento
de seus acasos,

Pensar silêncios
Adivinhando a escrita
Dos astros
Em meus destinos abertos
E hábitos.

Sei que sobre um céu vazio
Estrelas adivinham meus passos
E possibilidades.