segunda-feira, 11 de maio de 2009

CRÔNICA RELÂMPAGO LIII

Cotidianamente,muitas vezes falamos apenas para fazer barulho, para preencher o incômodo silêncio que surge do estar a presença de outras pessoas. Freqüentamos sistematicamente o lugar comum da linguagem, da superficialidade de nosso ser entre os outros.
O decisivo nisso é que realmente não temos nada de muito significativo a dizer ou compartilhar uns com os outros. O fazer-se da vida dar-se sob o signo da banalidade e a construção de nossa individualidade, o mais profundo de nossa experiência privada de estar no mundo é essencialmente incomunicável....

terça-feira, 5 de maio de 2009

“NOTHING’S GONNA CHANGE MY WORD...”

Invento um instante dourado
De piruetas
Para rir das sutilezas
Que somam a realidade
Ao doce das fantasias.

The fool on the hill...
Across the universe...
“NOTHING’S GONNA CHANGE MY WORD...”
A linguagem me devora
No virtual exercício de ser....
Em irracional existência
Em decafônicas decomposições...

Mas a vida
Tende a si mesma
Em um silêncio de tempo
Que passa...

JOHN LENNON E 1969: 40 ANOS DEPOIS...


O longo Século XX foi, entre outras definições possíveis, a Era das Individuações. Dentre os indivíduos singulares gerados por ele, John Lennon ocupa um lugar realmente especial em meio ao labirinto de suas contradições, impasses, ingenuidades, senso de humor ou de liberdade e aposta em alguma possibilidade de desdobramento futuro de seu generoso tempo social e epocal marcado por esperanças radicais de desconstruções e reconstruções do mundo compartilhado a partir da singularidade e originalidade da experiência da individualidade...
Vale à pena resgatar aqui, por tudo isso, um momento especial de sua trajetória subjetiva ocorrido no já distante ano de 1969, lembrado por Lucia Linhares, em um pequeno e despretensioso ensaio biográfico que nos leva a refletir sobre seus dilemas enquanto figura pública, sobre suas recusas e irreverente afirmação de si mesmo conmo sendo apenas um individuo entre os outros e além das projeções que lhe eram coletivamente impostas:


“... No começo de outubro, o New Cinema Club, de Londres, apresentou alguns filmes de John, entre eles uma première: SELF PORTRAIT. Durante 15 minutos vemos o pênis de John e mais nada, a não ser uma ereção em câmera lenta. As interpretações foram muitas: mais uma mostra de seu senso de humor, mais uma agressão à critica, mais uma tentativa de filmar o absurdo... John disse, na época:
“ Eu me recuso a liderar, e vou sempre mostrar meus genitais, ou fazer qualquer coisa que me previna de ser Martin Luther King, ou Ghandhi, e ser morto.” ( One Day a Time)
Numa manhã de novembro John acordou e pediu ao motorista que fosse até a casa de Tia Mimi buscar a medalha da Ordem do Império Britânico que estava em cima do aparelho de televisão. John resolvera colocar em prática uma idéia que há um ano tinha na cabeça; a Inglaterra envolvia-se no Vietnã, no conflito Nigéria e Biafra, e John não estava gostando nada disso. Foram ao escritório e John redigiu uma carta:
“Sua Majestade,
Estou devolvendo a Ordem do Império Britânico em protesto contra o envolvimento da Inglaterra no caso de Biafra-Nigéria, contra o nosso apoio à presença dos EUA no Vietnã e contra a baixa colocação de Cold Turkey nas paradas de sucesso.
Com amor
John Lenon do Saco” ( “of the bag”, uma referência ao “ bagism”)
Poucas pessoas entenderam a piadinha com Cold Turkey. Esta brincadeira não impediu, entretanto que Bertrand Russel admirasse o ato de John e lhe mandasse congratulações.”


(Lucia Villares. Lennon: No céu de diamantes. SP: Brasiliense( coleção Encanto Radical), 1992, p.94-95)
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sábado, 2 de maio de 2009

DOCE MELANCOLIA

A serena paisagem
De um dia de outono
Comunica-me mais coisas
Do que qualquer
Palavra humana.

Desejo apenas, então,
Ficar entre as coisas,
Em silêncio,
Vivenciando



As mágicas certezas
Do estar vivo,
Explorando o pensar
Dos pensamentos
Nas abstratas sensações
Do corpo em reflexões,
Em sentimento
De renovações e chuvas
Em fertilidade de sonos, sonhos
E sombras de amanhãs possiveis.

PARADOXO TEMPORAL

Sinto saudades
Do meu destino,
De tudo aquilo
Que não me tornei
Na vontade de ser
Um outro
Que jamais aconteceu.

O fato
É que não me vejo
Nas virtuais versões
De mundo
Que me inventaram...

MEMORY...


A memória é em grande parte um inventário de lugares, pessoas, coisas, sensações e emoções que nos inventaram. A memória é uma espécie de silêncio em movimento onde o passado surge como sonho...

terça-feira, 28 de abril de 2009

POEMA A VIRGINIA WOOLF


Inteiramente imóvel
Sob o estático do dia
Que desaparece
No passar das horas,
Quase me reconheço,
Quase percebo o tempo
Dentro de mim
Como biografia.

Mas tudo me escapa
Em um segundo de incertezas
No falso de realidades.

Na radical desconstrução de experiências
Em absolutos de linguagem
E concretismos do nada
Submerso,
Desapareço...
Como testemunho do Tempo
que vivo infimamente
como duvida...

INCERTEZA

Seguir em frente
A direita ou a esquerda;
Escolher,
Pura e simplesmente,
Sem o peso dos determinismos
Que o passado impõe,
É o desafio
Do meu ser futuro.

Sou mais o produto
De erros
Do que de acertos.

Sou sombra
De tudo aquilo que me corroe
Em incertezas de amanhãs possíveis
Em azul
sob inspirações de lua.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A CONTEMPORANEIDADE E O POSITIVO DO VAZIO

O tecido do que reconhecemos tradicionalmente por realidade vem se alterando significativamente através nas novas experiências e vivências proporcionadas pelas novas linguagens digitais. Inaugurou-se no domínio do humano uma nova perspectiva de vazio. Vazio confunde-se agora com a ausência de qualquer referencial seguro de totalidade e universalidade. Talvez, dentre muitas outras coisas, a contemporaneidade seja a constatação simples de que somos definidos por jogos entre a linguagem e o vazio... Mas é justamente isso que nos faz humanos e nos destina um lugar especial no reino animal...

sábado, 25 de abril de 2009

OLD HOUSE


O passado
É como uma ferida aberta
No doer de memórias
De muitos eus perdidos,
De lugares redefinidos,
Existências reconstruídas
No deslocamento de coexistências.

The house is silent...
I am alone;
I wonder where
Ends this darkness...
Only life hás a way out.