quinta-feira, 23 de abril de 2009

NIETZSCHE E FILOSOFIA DA LINGUAGEM


Sobre Verdade e Mentira no sentido extra moral ( 1873) é um dos mais instigantes textos já produzidos por Nietzsche. Neste, o autor aborda com peculiar maestria o clássico problema da verdade em sua relação com a fenomenologia do intelecto humano, descrito, entre outras formas, como um meio para a conservação do individuo, como um “disfarce” que estabelece a linguagem como mediadora da oposição entre “mentira” e “ verdade” no fazer-se do existir em sociedade ou “viver em rebanho”.
No prefácio para Humano, Demasiadamente Humano de 1886, Nietzsche refere-se a este texto como um escrito juvenil e de formação condicionado a um momento de crise ou niilismo absoluto no qual duvidara até mesmo de seu grande mestre Shopenhauer. Nada disso elimina a coerência do texto com o desdobrar posterior de sua filosofia.
O fato é que, naquele momento, para Nietzsche, a verdade não passava de uma invenção semântica não correspondente a qualquer hipotética realidade. Ela seria uma convenção estabelecida pela vida coletiva, pelo arbítrio da moral dominante. Por outro lado, quando o intelecto se liberta da escravidão dos conceitos e das convenções socialmente estabelecidas, transforma o homem através da intuição em um construtor de metáforas, desvela o domínio absoluto da arte sobre a vida no ininterrupto fluir da existência em sua pluralidade que jamais se cristaliza sob qualquer momentânea forma e conteúdo.
Creio que é nesse sentido que ele nos diz:

“ O que é uma palavra? A figuração de um estímulo nervoso em sons.Mas concluir do estímulo nervoso uma causa fora de nós já é o resultado de uma aplicação falsa e ilegítima do principio da razão. Como poderíamos nós, se somente a verdade fosse decisiva na gênese da linguagem, se somente o ponto de vista da certeza fosse decisivo nas designações, como poderíamos no entanto dizer: a pedra é dura: como se para nós esse “dura” fosse conhecido ainda de outro modo, e não somente como uma estimulação inteiramente subjetiva! Dividimos as coisas por gêneros, designamos a árvore como feminina, o vegetal como masculino: que transposições arbitrárias! A que distância voamos alem do cânone da certeza! Falamos de uma Schlange ( cobra): a designação não se refere a nada mais do que o enrodilhar-se, e portanto poderia também caber ao verme Que delimitações arbitrárias, que preferências unilaterais, ora por esta, ora por aquela propriedade das coisas! As diferentes línguas, colocadas lado a lado, mostram que nas palavras nunca importa a verdade, nunca uma expressão adequada: pois senão não haveria tantas línguas. A “coisa em si” (* tal seria justamente a verdade pura sem conseqüências)é, também para o formador da linguagem, inteiramente incaptável e nem sequer algo que vale a pena. Ele designa apenas as relações das coisas aos homens e toma em auxilio para exprimi-las as mais audaciosas metáforas. Um estimulo nervoso, primeiramente transposto em uma imagenm! Primeira metáfora. A imagem, por sua vez, modelada em um som! Segunda metáfora E a cada vez mais completa mudança de esfera, passagem para uma esfera inteiramente outra e nova. Pode-se pensar em um homem, que seja totalmente surdo e nunca tenhas tido uma sensação do som e da música: do mesmo modo que este, porventura, vê com espanto as figuras sonoras de Chladni desenhadas na areia, encontra suas causas na vibração das cordas e jurará agora que há de saber o que os homens denominam “som”, assim também acontece a todos nós com a linguagem. Acreditamos saber algo das coisas mesmas, se falamos de arvores, cores, neve e flores, e no entanto não possuímos nada mais do que metáforas das coisas, que de nenhum modo correspondem às entidades de origem. Assim como o som convertido em figura na areia, assim se comporta o enigmático X X da coisa em si, uma vez como estimulo nervoso, em seguida como imagem, enfim como som. Em todo caso, portanto, não é logicamente que ocorre a gênese da linguagem, e o material inteiro, no qual e com o qual mais tarde o homem da verdade, o pesquisador, o filósofo, trabalha e constrói, provém, se não der Cucolândia das Nuvens, em todo caso não da essência das coisas.”

Friedrich Wilhelm Nietzsche. Obras Incompletas- Vol.I /seleção de textos de Gerard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; 5 ed. SP: Nova Cultural, 1991. ( Os Pensadores); p. 33-34)

LITERATURA INGLESA XLII ( Edward Hughes: in memoriam)


O nome do poeta britânico Ted Hughes, ou Edward James Hughes ( 1930-1998) é normalmente lembrado pelo seu trágico casamento com a também poeta Silvia Plath que suicidou-se em 1963.
Mas Hughes, embora pouco conhecido e lido, foi um dos mais interessantes nomes das letras inglesas de sua geração. Alem de poesia, dedicou-se a literatura infantil, possuindo também um sem numero de boas traduções. O horizonte de imagens de infância e delicada fantasia lhe propiciam uma introspecção e uma linguagem poética realmente singular. A lembrança do nome do autor, infelizmente ocorreu-me hoje em função da noticia do recente suicídio de um de seus filhos com Plath, o biólogo Nicolas Hughes, professor e pesquisador na Escola de Ciências Oceânicas e da Pesca da Universidade do Alasca.
Avesso a qualquer discussão ou comentário sobre a obra e vida de seus pais, sua morte, ao contrário do que pode ser sugerido, como certamente proporia o morto, não esta vinculada a qualquer resquício ou influencia das opções ou eventuais episódios biográfico envolvendo seus progenitores. O suicídio foi para ele uma opção pessoal e intima cujas motivações não temos o direito de fazer objeto de especulações sem sentido e meramente inspiradas pelas curiosidades e arbitrariedades do imaginário coletivo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

MEMORY


Recordo pequenas belezas
Que me bastaram
Na magia incerta dos ventos,
A intensidade dos verdes momentos
De distante e dourada infância.

Recordo a doce dor
Que me aguarda
Alem do infame dia a dia
Entre os jardins do infinito,
A felicidade da intimidade do mero finito
Em majestosa realidade
Do ínfimo como principio
E pluralidade de ilimitadas
Direções do sentir e do pensamento.
.

I FEEL EMPTY


Aquilo que conquistamos
Jamais estará a altura
Do que queremos.

Pois é próprio do humano
Buscar o futuro,
Rasgar leis e limites
No vislumbre de seu
Mais intimo absoluto.

É próprio do humano
A liberdade
De reinventar-se
A cada segundo
De ontológica insatisfação.

I feel empty....

terça-feira, 21 de abril de 2009

PAUL IS DEAD...


A história do rock and roll é recheada de mitos e lendas envolvendo os ícones de sua cultura. Uma das mais famosas e curiosas é a da suposta morte de Paul McCartney em um fatal acidente automobilístico com seu conversível Aston Martin onde teria supostamente tido o crânio esmagado ou a cabeça decapitada.
O boato surgiu um pouco depois do lançamento de REVOLVER, em 1966, mas ganhou novo fôlego em 1969, quando os Beatles já não faziam turnês, através do disc jockey Russ Gibb, da cidade americana de Detroid que, motivado por um telefonema, leu comicamente no ar uma lista de indicios sobre a suposta morte de Paul que, para sua surpresa, foi levado a sério por muita gente figurando em manchetes de jornais no dia seguinte.
O cúmulo da ironia é que, apesar das negativas e impaciências do próprio suposto morto sobre o assunto, o boato alimentou-se, por muitos anos, através de sofisticadas especulações envolvendo a hermeneutica de letras dos Beatles e do simbolismo contido na capa dos seus albuns.
É muito provável que, considerando o profundo senso de humor da banda, os próprios Beatles tenham deliberadamente criado uma serie de pistas falsas ironizando a inusitada fantasia.
De um modo ou de outro, apesar desse pseudo mistério, Paul jamais foi istigmatizado como um impostor, embora até os dias de hoje existam pessoas que percam tempo considerando com alguma ingênua seriedade tão descabido asunto.
O fato é que os Beatles, enquanto icones máximos de toda uma época, foram demasiadamente expostos, solicitados, questionados e admirados de um modo profundamente irracional e imprevisível. O episódio “Paul is Dead” não é no fundo muito diferente das repercursões das declarações de John em uma entrevista, se não me engano, de 1964 ao jornal London Evening Standard à Maureen Cleave, onde inocentemente ousou dizer singelamente que:

“ O cristianismo vai passar. Vai se encolher e desaparecer. Não há necessidade de discutir esse assunto. Estou certo disso, e o tempo é o que vai me provar. Somos hoje mais populares que Jesus. Eu não sei qual desaparecerá primeiro, se o rocki and roll ou se o cristianismo. Jesus era o.k., mas seus discipulos eram pessoas estupidas e comum. É a dertupação feita por eles que, para mim, causa todo o estrago.”

NOTHING'S GONNA CHANCE MY WORD..."

Estou convicto unicamente de minhas incertezas, dos meus vazios, limites e dúvidas. Pois são elas que, em última instância, determinam minha vida. Logo, nada me prende a nada, nada espero de nada. Tudo que sou já é passado ou futuro que abandonei em, definições de presentes.

“NOTHING’S GONNA CHANGE MY WORD...”

segunda-feira, 20 de abril de 2009

DAY

O tempo
Passou por mim
Em silêncio
Como se o dia de hoje
Não existisse.
Deixou-me vazio
Com palavras mortas
Na boca
Diante de um relógio
Quebrado
Entre preguiças, inércias
E atos abandonados.

domingo, 19 de abril de 2009

INDIVIDUALISMO POSITIVO

No mundo contemporâneo, em que pesem outros abstratos referenciais ontológicos, o individuo isolado, auto-performático, é a medida de todas as coisas que nos definem as dinâmicas da existência coletiva.
Afinal, somos todos orientados a buscar o prazer e o conforto como metas últimas da existência. Estamos positivamente condenados a um mundo criado e moldado por nossas instabilidades e incertezas, definido por um ordenamento instável, que reflete pura e simplesmente nosso mais intimo sentimento pessoal de mundo ou incerto e inconstante estado de espírito. O ingênuo apelo a qualquer moral inspirada pela tradição e de natureza coercitiva pode mudar tal fato.
Dizendo de outra maneira, a existência, enquanto construção coletiva, já não é referencia para a cognição social e a invenção de significados. Somos cada vez menos sensíveis a f orça de qualquer mitologia laica ou ainda sacralizada. Aprendemos a depender cada vez mais apenas de nós mesmos no continuo esforço de reproduzir a própria vida. Como em nenhuma outra época passada, a auto consciência que define o indivíduo foi tão decisiva para as mutações das possibilidades humanas...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

CRÔNICA RELÂMPAGO L I

O fim de um dia de trabalho é como uma página em branco de biografia onde nos contentamos com a insignificante expontâneidade do acontecer sem compromisso de rotinas não laboriosas.é quando passamos dos desertos públicos aos desertos privados na continuidade de vazios que nos definem no exercicio de insondáveis silêncios intimos e constantes...

A TRAGÉDIA DE Hillsborough


Nesta quarta feira, a cidade de Liverpool vestiu-se de luto para lembrar amargamente os 20 anos daquela que foi a maior tragédia do football inglês.
Trata-se da partida de 15 de abril de 1989 da semifinal da Copa da Inglaterra, entre os times Liverpool e Nottingham Forest, no estádio Hillsborough, em Sheffield.
O jogo foi interrompido seis minutos após o início quando, depois de uma agromeração e confusão nos tuneis estreitos que davam acesso ao estadio, 730 pessoas ficaram feridas e, 96 torcedores, todos do Liverpool, morreram esmagados...
Entre as homenagens aos mortos desta quarta, houve dois minutos de silêncio na cidade de Liverpool às 14 : 06 horas (horário local), quando a 20 anos atrás a tragédia aconteceu...
Até hoje o time do Liverpool não joga no dia 15 de abril...
Que dias como esse jamais voltem a acontecer pelos caminhos incertos de cada acaso e fortuna ...
Essa tragédia ainda é uma ferida aberta...