quarta-feira, 15 de abril de 2009

O OUTRO COMO CAMINHO DA INDIVIDUAÇÃO


O que há de mais paradoxal na condição de indivíduo é a incontornável necessidade do outro para sustentar a própria auto-consciência... É através do outro que paradoxalmente nos tornamos o que já somos; um outro que em muitos sentidos sempre permanece irremediavelmente distante. Pois quanto mais íntimos nos tornamos de alguém, mas somos surpreendidos pelo seu ontológico alheamento.Disso se conclui que a individualidade, ou o humano em singularidade psicológica, não é propriamente uma condição definida pela auto consciência, mas sim um fluxo de experiências autônomas estabelecidas interativamente. É a experiência da diferença, da pluralidade de possibilidades e escolhas, através do outro o que nos torna únicos no estranho processo de tomada de consciência de si mesmo que também é uma vivencia constante de estranhamentos e redescobertas.

NOW...


Nada me prende ao agora,

Ao aleatório movimento

De me fazer

Em tempo e espaço.


Adivinho futuros calados

E pequenas esperanças

Que passeiam no vento

Para fugir ou ficar

Indiferente

Ao caos presente.


Em tudo

Sou apenas amanhã,

Esboço de um outro

Em potencial existência

E esforço de plenitude

De movimento futuro.

SOBRE A ILUSÂO DA VERDADE

Aquilo que conhecemos como verdade não é uma qualidade do mundo sensível, mas algo definido pelo intelecto humano. A verdade é tão somente uma necessidade, uma tendência inerente as configurações da consciência para estabelecer referencia e padrões de realidade. Isso faz dela uma função do pensamento, algo que não corresponde a qualquer coisa objetivamente existente.A verdade, em resumo, é apenas um mito...

domingo, 12 de abril de 2009

BLACK NIGHT


É preciso apostar
No futuro,
Mesmo quando
Não acreditamos nele,
Quando tudo
Que o tempo oferece
É o silêncio de nós mesmos.

É preciso acreditar
No acaso
Pelos labirintos da vida
Até os limites do onírico
em brilho discreto de lua...

CRÔNICA RELÂMPAGO XLIX


Há estranhas ocasiões em que penso no quanto seria decisivo, talvez, poder mudar o passado, trasmutar o presente em reinvenções de expectativas de futuros. Mas nenhum desejo poderia ser mais fútil e inútil no ato de ser precariamente em uma biografia.
Todo viver é, o tempo todo, esboço e pluralidade de possibilidades em qualquer determinado cenário de circunstâncias. O Hoje é o grande campo de batalha da vida perante um potencial amanhã que nunca morre como possibilidade.
Como esboços de sobrevivências a nós mesmos, construímos os futuros possíveis em readaptações e reinvenções do que provisoriamente somos na aventura de cada momento...

RELEITURAS


Estou a dois passos
Do passado
Apagando presentes
Em futuros sonhados.

Estou deslocado
De mim mesmo
No infinito desejo
De páginas
De tempo em branco.

Desconstruo-me
Em construção de desejos...
Perco-me em contemplação
Da mudez do céu...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

MONTY PYTHON: A VIDA DE BRIAN


Lançada em 1979 LIVE OF BRIAN, segundo filme wado grupo de comediantes britânicos Monty Python ainda hoje é a única comédia bíblica de toda a historia do cinema. Trata-se na verdade de uma inteligente e divertida critica a difusão do messianismo cristão e uma sátira mordaz as clássicas adaptações wollywoodianas de temas bíblicos.
Brian Cohen ( Gaham Chapman) é um relutante candidato a messias na Judéia do ano 33 DC, onde o Império Romano procura manter alguma ordem em meio ao caos, miséria, movimentos messiânicos, profetas delirantes e atos de crucificação.
Para mim, particularmente, o melhor momento desta singular e hilariante comedia é seu final, ou mais precisamente a crucificação de Brian após uma série de reveses e peripécias. O tema musical que acompanha a cena é certamente uma das mais preciosas amostras do humor corrosivo e irreverente do Monty Python e, porque não dizer, uma verdadeira filosofia de vida...


ALWAYS LOOK ON THE LIGHT SIDE OF LIFE


Some things in life are bad

They can really make you mad

Other things just make you swear and curse

When you're chewing on life's gristle

Don't grumble, give a whistle

And this'll help things turn out for the best...

And... ...always look on the bright side of life...

(Whistle)

Always look on the light side of life...

(Whistle)

If life seems jolly rotten

There's something you've forgotten

And that's to laugh and smile and dance and sing

When you're feeling in the dumps

Don't be silly chumps

Just purse your lips and whistle - that's the thing.

And...always look on the bright side of life...

(Whistle)

Come on. Always look on the bright side of life...

(Whistle)

For life is quite absurd

And death's the final word

You must always face the curtain with a bow

Forget about your sin - give the audience a grin

Enjoy it - it's your

last chance anyhow.

So always look on the bright side of death

Just before you draw your terminal breath

Life's a piece of shit

When you look at it

Life's a laugh and death's a joke it's true

You'll see it's all a show

Keep 'em laughing as you go

Just remember that the last laugh is on you

And always look on the bright side of life...

(Whistle)

Always look on the bright side of life...

(Whistle)

Come on guys, cheer up.

Always look on the bright side of life...

Always look on the bright side of life...

Worse things happen at sea you know.

Always look on the bright side of life...

I mean - what have you got to lose?

You know, you come from nothing - you're going back to nothing.

What have you lost?

Nothing.

Always look on the bright side of life...


(Esta letra foi retirada do site www.letrasdemusicas.com.br )



quinta-feira, 9 de abril de 2009

LIVRES ESPECULAÇÕES EM TORNO DE GEORGE HARRISON


A devoção de George Harrison, “the quiet Beatle" ao hinduismo nos fins dos anos 60 do ultimo século, influenciou decisivamente a musicalidade e entrada dos Beatles na maturidade tanto quanto contribuiu para a assimilação da cultura oriental pelo ocidente em um momento de profundos questionamentos identidários e culturais para os quais o rock era uma linguagem, uma forma privilegiada de expressão. Talvez este seja o principal legado do individuo singular que foi George...
Definitivamente, o mais discreto e introspectivo dentre os Beatles também foi o mais sofisticado e complexo poeticamente. Uma canção aparentemente simples como Here Comes the sun ( 1969), por exemplo, não fala poeticamente do amanhecer, mas desnuda o caráter ilusório de nossas percepções contraposta a imagem da luz interior e exterior personificada pelo nascer sol. É uma “canção mito” de momentos de transformações, mudanças e descobertas.
Mas é sabido que, ao contrário de John Lennon, George era um pouco cético com relação ao poder da linguagem como meio de expressão. Arrisco-me a afirmar que, para ele, as questões e experiências mais importantes da vida não poderiam ser traduzidas convenientemente em palavras, pois a essência da condição humana é inefável e indefinível em termos racionais. Gosto de pensar como um exemplo desta ousada hipótese a clássica canção Something (1969). A letra não nos oferece qualquer definição do amor, apenas especula em devaneio sobre “aquela coisa” que existe no modo de se mover de uma determinada mulher que, sabe-se lá porque, atrai o narrador e a torna única para ele. O amor é aqui apenas “aquela coisa” indefinível, aquela magia sem nome que conduz um homem a uma determinada mulher. No fundo o amor é realmente apenas isso no alem de conceitos e abstratas valorações inúteis.


Something
By George Harrison

Something in the way she moves

Attracts me like no other lover

Something in the way she woos me


I don't want to leave her now

You know I believe and how


Somewhere in her smile she knows

That I don't need no other lover

Something in her style that shows me


I don't want to leave her now

You know I believe and how


You're asking me will my love grow

I don't know, I don't know

You stick around now it may show

I don't know, I don't know


Something in the way she knows

And all I have to do is think of her

Something in the things she shows me


I don't want to leave her now

You know I believe and how

TO BE...


Queria poder ser
Todos os rostos
E almas que já tive,
Viver alguma esquizofrenia
De vento de consciência.

Queria saber as coisas
Em todas as variáveis possíveis
De mim mesmo,
Atingindo o saber absoluto
De um eu em frenesi
E mergulho.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

MATRIX: 10 ANOS DEPOIS...


No último dia 31 de março comemorou-se os dez anos de lançamento do primeiro filme da triologia Matrix, escrito e dirigido pelos irmãos Andy e Larry Wachowski e contando no elenco com nomes de preso como Keanu Reeves, Lawrence Fishburne e Carrie Anne Moss.
Ganhador de quatro Oscars: efeitos visuais, efeitos sonoros, edição e som, o filme é ainda hoje cultuado e considerado um marco cinematográfico por ter criado uma linguagem e uma estética nova nitidamente impactante sobre a maioria dos filmes de ação e ficção cientifica que lhes sucederam.
O roteiro de Matrix, por si só, é surpreendentemente original. O programador Thomas Handerson (Keanu Reeves), que a noite é o hacker Neo, obcecado por descobrir o significado de uma lenda virtual: a Matrix, é contactado por Morpheu (Lawrnce Fishburne) e seu grupo de “foras da lei”. Através dele Neo descobre a aterradora verdade: O mundo real não existe, é a Matrix, uma realidade virtual criada e mantida por inteligências artificiais que após um confronto apocalíptico com a humaniodade passaram a dominar a terra convertendo humano a meras fontes de energia para o sustento de seu admirável mundo novo.Fora de Matrix, os poucos humanos que se libertaram do domínio das máquinas lutam pela liberdade defendendo arduamente a cidade subterrânea de Sião, ultimo reduto da humanidade livre.
Projetada em um futuro impreciso, a trama remete a temas como crença, livre arbítrio, amor, evolução, progresso e controle social. Entretanto, uma compreensão mais profunda desta bela peça cinematográfica pressupõe a apreensão de seu implícito diálogo com as formulações do filosofo francês Jean Baudrillard. Autor controvertido e critico radical da modernidade. É possível estabelecer paralelos surpreendentes e reflexivos entre o deserto do real de Matrix e a cultura do simulacro e o virtual na óptica de Baudrillard como demonstra claramente o seguinte fragmento que nos conduz “a toca do coelho”:

“ ... Mas é preciso que se diga que esta expressão, “realidade virtual”, é um verdadeiro oxímoro. Não estamos mais na boa e velha acepção filosófica em que o virtual era o que estava destinado a torna-se ato, e em que se instaurava uma dialética entre as duas noções. Agora, o virtual é o que esta no lugar do real, é mesmo sua solução final na medida em que efetiva o mundo em sua realidade definitiva e, ao mesmo tempo, assinala sua dissolução.
Chegando a esse ponto, é o virtual que nos pensa: não há mais necessidade de um sujeito do pensamento, de um sujeito da ação, tudo se passa pelo viés de mediações tecnológicas. Mas será que o virtual é o que põe fim, definitivamente, a um mundo do real e do jogo, ou ele faz parte de uma experimentação com a qual estamos jogando? Será que não estamos representando a comédia do virtual, com um toque de ironia, como na comédia do poder? Essa imensa instalação da virtualidade, essa performance no sentido artístico, não é ela, no fundo, uma nova cena, em que operadores substituíram os atores? Ela não deveria, então, ser mais digna de crença que qualquer outra organização ideológica. Hipótese que não deixa de ser tranqüilizante: no final das contas tudo isso não seria muito sério, e a exterminação da realidade não seria, em absoluto, algo incontestável.
Mas, no momento em que nosso mundo efetivamente inventa para si mesmo seu duplo virtual, é preciso ver que isto é a realização de uma tendência que se iniciou há bastante tempo. A realidade, como sabemos, não existiu desde sempre. Só se fala dela a partir do momento em que há uma racionalidade para dizê-la, parâmetros que permitem representá-la por signos codificados e descodificados.
(...)
Existe atualmente uma verdadeira fascinação pelo virtual e todas as suas tecnologias. Se ele é verdadeiramente um modo de desaparecer, esta seria uma escolha- obscura, mas deliberada- da própria espécie: a de se clonar, corpo e bens, em um outro universo, de desaparecer enquanto espécie humana propriamente dita para perpetuar-se em uma espécie artificial que teria atributos muito mais performáticos, muito mais operacionais. Será que é nisso que se aposta?”

Jean Baudrillard. Senhas. Tradução de Maria Helena Kuhner. RJ: Difel, 2001, p. 42-44.