sábado, 24 de janeiro de 2009

THE PAUPER


As sombras do passado
Escrevem silêncios no presente
Sem o afago de sonhos futuros.

Administro as perdas
Concretas e abstratas
Que o tempo da vida
Impõe aos anos.

Sei o inevitável pesar
De todas as mudanças,
Transformações de alma
E de mundo
Que tornam a vida
Aleatório e obscuro
MOVIMENTO...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

CONTEMPORANEIDADE, INDIVIDUAÇÂO E CRISE DO JORNALISMO FORMAL


No suplemento Mais da Folha de São Paulo de 30 de novembro de 2008 foi parcialmente publicada uma interessante resenha de John Lloyd, colaborador do Jornal Financial Times, de três livros recentemente lançados no Reino Unido que discutem o futuro do jornalismo. Tratam-se das obras SuperMedia de Charlie Beckett, Can you Trust the Media de Adrian Monck e a coletânea UK Confidencial organizada por Charlie Edwards e Chatherine Fieschi. De diferentes maneiras cada uma delas discute a crise e perspectivas do jornalismo contemporâneo e o impacto das novas tecnologias. Tal discussão me é particularmente interessante e decisiva para a delimitação dos espaços e conteúdos de nossas contemporaneidades. Afinal, essa crise do jornalismo traduz significativas mudanças em nossas sensibilidades e praticas de realidade. Com a internet e a novas tecnologias digitais o individuo alcançou possibilidades praticamente ilimitadas de criação e auto expressão permitindo uma dessacralização de praticas antes monopolizadas por “grupos” ou “organismos coletivos”. O caso do jornalismo é um ótimo exemplo disso. Como reconhece, mesmo que com algumas reservas, John Lloyd,

“ De certa forma, os blogs e a web marcam um retorno ao jornalismo do século 17 e 18- um período empreendedor, no qual pessoas que tinham algo a dizer montavam sus negócios e publicavam panfletos e boletins noticiários.
Também vivemos um período de maior incerteza, o que lembra a era vitoriana, quando os jovens aspirantes a literatos, vestidos com trajes modestos, ganhavam a vida trabalhando arduamente em um mercado formado majoritariamente por free-lancers.”

A efervescência de opiniões e perspectivas plurais estabelecida pela cultura da Web e dos Blogs representa, ao meu ver, uma tendência para uma experiência cada vez mais direta entre o indivíduo e a informação, sua circulação e repercussão, transcendendo as formalidades e censuras das convencionais estruturas coletivas de imprensa e propaganda.
De fato, o consumo de noticias e informações pelas formas eletrônicas e impressas tradicionais torna-se cada vez menos atraente, o que de fato nos permite falar de uma crise do jornalismo. Por outro lado, essa individuação saudável do exercício da informação e da opinião pode ser vista também como o embrião de novas formas de se pensar e fazer jornalismo, um jornalismo cada vez mais democrático e interativo, não mais formatado para uma sociedade de massas, mas destinado a uma sociedade de indivíduos.

SUMMER

O calor e o sol
Abraçam o corpo
Em imaginações de verão.
Quase não há lugar
Para pensamentos
Entre tantas vontades
E inquietações.

A tarde ferve,
As ruas estão em febre
E em festa de vida.

A existência percorre as almas
Como rubra matéria
E absoluto agora.

SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO


O calor do verão
Tem outro gosto a noite,
Um sabor de deserto
Ou de tédio.

É quando um cansaço
Cala o corpo
Frente ao rosto de um pensamento,
Uma mensagem de Apolo...

Mas a lua ainda ensina magias
E tudo acontece
Em sonhos de uma noite de verão.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

BREVE HOMENAGEM A EDGAR ALAN POE


O critico, poeta e escritor Edgar Alan Poe é um dos grande escritores malditos da literatura universal. Nascido em Boston, EUA, em 19 de janeiro de 1809 morreu em Baltimore em 7 de outubro de 1849. Serão celebrados este ano nos EUA, portanto, o bi centenário do seu nascimento e os 160 anos de sua morte através de exposições, debates e ate mesmo uma encenação em Baltimore do seu funeral. Como já falei sobre sua obra em uma das postagens consagradas a série Literatura Inglesa, limitar – me – ei hoje a esta singela e breve homenagem ao autor na noite de seu bi centenário. Afinal, ele foi um dos construtores da linguagem da literatura contemporânea e de massas através de uma narrativa “realista” destinada ao convencimento do leitor, a persuadi-lo da veracidade do discurso ficcional conduzindo ao extremo a tensão entre realidade, verdade e fantasia na mesma medida que explorava os limites e abismos da alma humana em uma atmosfera não raramente sombria e fatalista em sublimes estímulos a imaginação. Por tudo isso, Poe é definitivamente um do escritores favoritos...

sábado, 17 de janeiro de 2009

LITERATURA INGLESA XL


Considero o irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) uma das mais importantes e singulares vozes do século XX. Sua independência e integridade como indivíduo, seu humor e espírito crítico, fizeram dele um intelectual polêmico e nada convencional em um sentido que raramente se vê na história das idéias. Há quem o considere um Volteare do séc. XX, mas acho que ele foi muito mais do que isso...
Embora tenha se consagrado por suas peças teatrais e ensaios de critica de arte e musical, Shaw iniciou-se na literatura através de romances como O Problema Irracional e um Socialista Anti-Social que só tiveram a atenção do público depois de seu prestigio conquistado a duras penas como Dramaturgo.
Cabe lembrar que Também foi um ótimo orador, tendo participado das discussões políticas de fins do séc. XIX e inicio do século XX, a partir de uma peculiar adesão ao socialismo. Aliais, em conjunto com outros intelectuais ele foi um dos fundadores da Sociedade dos Fabianos, núcleo do futuro Partido Trabalhista Inglês.
Shaw foi antes de tudo um homem de idéias e polêmicas. Mesmo seu teatro é expressão dessa sua inegável vocação. Sua critica e superação ferrenha do teatro vitoriano, consagrado a pregação moral e ao divertimento gratuito. A tal formula ele respondeu corajosamente através da denuncia da hipocrisia das convenções e da sarcástica critica a tudo aquilo que sustenta a sociedade contra o individuo. Shaw foi em todos os sentidos a afirmação de um espírito livre e, justamente por isso, risonho, a colorir de alguma esperança o sombrio mundo da primeira metade do século XX de consolidação de uma sociedade massificada.
Vejo Bernard Shaw como um perfeito “aristocrata do espírito”, um tipo de pensador que em nossa contemporaneidade apenas pode ser mimeticamente resgatada como paródia ...

Seguem fragmentos de "O pequeno breviário de George Bernard Shaw":

Amizade


Trata o teu amigo como se um dia ele pudesse tornar-sde teu inimigo, e teu inimigo como se pudesse um dia ser teu amigo.

Amor


Ao queremos ler sobre atos praticados por amor, aonde nos viramos? À seção dos assassíneos.
***
Não há amor mais sincero que o da comida.

Civilização


A civilização é uma doença devida à pratica de construir sociedades com materiais podres.

Democracia


A nomeação de uma pequena minoria corrompida é substituída, na democracia, pela eleição por uma multidão incompetente.

Imoralidade


Tudo o que contraria as maneiras e os hábitos estabelecidos é imoral... Todo o avanço9 em matéria de pensamento e comportamento é imoral, por definição, até que não tenha convertido a maioria.

Patriotismo

Nunca tereis um mundo tranqüilo enquanto não expurgardes dele o patriotismo da raça humana.

Progresso


A idéia de que houve qualquer progresso desde a época de César ( menos de vinte séculos) é absurda demais para entrar em discussão. Toda a selvageria, a barbárie, o obscurantismo e todo o resto de que nós guardamos lembrança, no passado, existe no presente momento.”

(Pequeno Breviário Shawiano in Geoge Bernard Shaw. Socialismo para milionários/tradução de Paulo Ronai. RJ: Ediouro, s/d, p. 109 et seq.)

O BRITPOP E A CONTEMPORÂNEIDADE DO ROCK


Surgido na Inglaterra durante os anos 90 do último século, o chamado movimento BRITPOP, que revelou ao mundo bandas como o Oasis, Blur, Radiohead, Supergrass, dentre tantas outras, mesclava referências ao rock psicodélico dos anos 60, principalmente Beatles, com tendências posteriores como o punk e o new have produzindo uma sensibilidade e musicalidade nova.
Cabe lembrar que a partir dos fins dos anos 80, no Reino Unido e EUA, varias bandas já haviam resgatado e relido a herança psicodélica, como por exemplo, o My Bloody Valentine, Spacemen 3, The Charlatans ou The Hypnotics. Mas foi através do BRITPOP que definitivamente estabeleceu-se uma nova estética e linguagem musical construída com base nessas releituras. Ao lado do Grunge norte americano ele estabeleceu-se como uma das matrizes renovadoras da linguagem do rock ocorrida ao longo dos anos 90 e que asseguraria, mais do que nunca, sua contemporaneidade.
Diferente do rock clássico dos anos 60, o rock contemporâneo, desde então, passou a expressar uma cultura de juventude mais hedonista, caótica/plural em termos identidários e, em certas vertentes, até mesmo profundamente niilista em um sentido diferente daquela desconstrução absoluta expressa nos anos 70 através do movimento Punk.
Particularmente, considero o Oásis e o Radiohead as duas grandes expressões do BRITPOP. No caso do Oásis temos a atualização do lado dionisíaco do rock, a rebeldia agressiva enquanto o Radiohead leva as ultimas conseqüências seu lado niilista, a rebeldia silenciosa e estóica contra o caos e absurdo do mundo. Tratam-se de tendências opostas e complementares que traduzem o Rock hoje em dia como fenômeno cultural e social ainda muito significativo, mesmo que não mais se proponha a mudar o mundo e sim alimentar nossas meras individualidades diante dos limites das convencionais convenções coletivas e o caos que é o mundo em que vivemos.

IMAGINAÇÃO MATERIALISTA

Meus olhos habitam
O azul do céu
Percorrendo infinitos mares
De ordinária imaginação.

Sei o mundo acordado
Em cores, luzes
E odores,
Na embriagues das sensações.

Neste instante
Quase não estou aqui
E sinto o mundo
Em meu corpo
Como um sonho
Em carne viva
Espalhado em todas as direções.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

SONG

Atravesso o dia
Deitado no colo
De uma musica,
em sentimentos...
Sem saber do mundo em volta.

Ouço apenas a vida,
A alma das coisas
Em intimo ritmo
De existência.

Tudo se faz melodia nervosa
A espalhar movimento e forma,
Espelhar sentimentos de tempos sem tempo
Em um mundo fechado e aberto
Nas vibrações e mistérios de sons e sentidos
Simplesmente, ritmos de uma estranha melodia...

CRONICA RELAMPAGO XLII


"A cada etapa da vida do homem corresponde uma certa Filosofia. A criança apresenta-se como um realista, já que está tão convicta da existência da peras e das maçãs como da sua. O adolescente, perturbado por paixões interiores, tem que dar maior atenção a si mesmo, tem que se experimentar antes de experimentar as coisas, e transforma-se protanto num idealista. O homem adulto, pelo contrário, tem todos os motivos para ser um céptico, já que é sempre útil pôr em dúvida os meios que se escolhem para atingir os objectivos. Dito de outro modo, o adulto tem toda a vantagem em manter a flexibilidade do entendimento, antes da acção e no decurso da acção, para não ter que se arrepender posteriormente dos erros de escolha. Quanto ao ancião, converter-se-á necessariamente ao misticismo, porque olha à sua volta e as mais das coisas lhe parecem depender apenas do acaso: o irracional triunfa, o racional fracassa, a felicidade e a infelicidade andam a par sem se perceber porquê. É assim e assim foi sempre, dirá ele, e esta última etapa da vida encontra a calmaria na contemplação do que existe, do que existiu e do que virá a existir.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões"

Hoje em dia percebo, nestes tempos de quase quarenta anos, o quanto mudei, ou tudo para mim mudou no sentimento de todas as coisas. Talvez já não me envolva tão profundamente com o mundo e com as pessoas como antigamente e tenha perdido o encanto subjetivo que nos conduz a irracionais pertencimentos a rotinas e pessoas.
O fato é que atualmente quase não sei do mundo nos labirintos de mim mesmo e minha única verdade é o pragmatismo de seguir em frente em busca de qualquer outra coisa alem do mero presente.
Mas não sei dizer se o passar dos anos me fez mais realista ou vazio, introspectivo, ou pleno na busca de sentidos e significados, quando simplesmente aprendi que todos eles são relativos e a vida objetiva nos oferece apenas modestas e provisórias possibilidades de realização e certeza... A finitude hoje é meu único desafio e aprendizado de existência em ant-metafísico sentimento do tempo que passa...