quinta-feira, 7 de agosto de 2008



“AND NOW FOR SOMETHING COMPLETERY DIFERENT!”

IT’S....


O ultimo esquete do episódio 8 da primeira temporada do Flying Circus do Monty Python, exibido originalmente pela BBC em 25 de novembro de 1969, intitulado Full Frontal Nudity, é filosoficamente hilariante ao construir, em fins dos conturbados anos 60, um jogo mágico de espelho cultural através do seu ultimo esquete. Refiro-me, obviamente, a Hell’s Grannies... Esse imperdivel clássico do humor britânico. Que ninguém morra sem o ver...
Enfim, em Notlob, um bairro da cidade de Bolton, surge uma inusitada e crucial questão: A cidade encontra-se, então, sitiada e acuada por uma nova e inédita modalidade de violência: surgem, não se sabe de onde, sombrias gangues de velhas que atacam gratuitamente homens jovens, rebeldes e indefesos. Estes já não mais possuem segurança para saírem de casa, freqüentar a academia de boxe e etc...; entregues ao medo dessas cruéis delinqüentes de vestido e cabelos brancos que também elegem como alvo privilegiadamente inofensivas cabines telefônicas eles se encolhem em seu fazer-se no mundo. Elas também se divertem deproravelmente pichando no silêncio dos muros frases subversivas do tipo Make tea not love, etc...
Mas o pior de tudo acontece no dia do pagamento das aposentadorias, quando essas deploráveis senhoras torram todo o seu dinheiro em leite, pão, chá, comida para gato, e transformam as matinês de cinema em verdadeiros espetáculos dantescos rasgando poltronas e quebrando aparelhos auditivos.
Mas o grande problema dessas delinqüentes senis ancora-se, no fundo, na completa rejeição dos valores que hoje norteiam a sociedade contemporânea. Não é por acaso que muitos jovens se sentem culpados diante dessa absurda ameaça na qual se converteram nossas velhas de estimação. Eles são hoje bem sucedidos corretores, empresários e até sociólogos e historiadores, mas são obrigados a conviver com essas viciadas em crochê, potencialmente instáveis quando lhes falta lã...
Mas essas Hell’s Grannies não são a única ameaça contra a sociedade contemporânea. Esse novo tipo de violência também ganha forma através da dos bebes ladrões que fazem adultos indefesos e diversas coisas desaparecerem e a gangue de pracas de Keep Left ( Mantenha-se a esquerda) que constrangem e impedem o direito de ir e vir de muitos indefesos jovens.

BLACK SABBATH



1968 foi o ano de formação de uma das maiores bandas de rock de todos tempos, o Black sabbath. Surgida em Birmingham, Inglaterra e composta originalmente por Ozzy Osbourne (vocalista), Tony Iommi (guitarrista), Geezer Butler (baixista) e Bill Ward (baterista), chegou a se chamar Polka Tulk e mais tarde Earth antes de adotar seu nome definitivo em 1969. O Black Sabbath surgiu no cenário do rock dos anos 70 como uma novidade esmagadora. Podemos atribuir-lhe a ruptura com a musicalidade dos anos 60, o fim do clima de paz, amor e psicodelismo e a criação de uma nova linguagem musical que daria origem ao heavy metal.
Seu LP de estréia Black Sabbath (1970) com seus temas sombrios e místicos rendeu-lhe uma legião de fãs e uma excelente colocação no top 10 das paradas britânicas. Mas foi, definitivamente seu segundo álbum Paranoid ( 1970) com clássicos como War Pigs,Iron Man e Fairies Wear Boots, que lhe assegurou definitivamente um lugar privilegiado no cenário musical de então.
A rebeldia dos anos 70, já não se identificava apenas com questões políticas e filosóficas, compreendia o desregramento dos sentidos, a desmedida, e incorporava o culto ao diabo como uma forma radical de contestação dos valores culturais impostos pela tradição. Pode-se dizer que imperava ainda um certo otimismo ingênuo na cultura da juventude herdado dos anos 60, mas muitas coisas começavam a mudar...

AVENUES

O mundo cabe
Em uma lágrima
E escapa a um pensamento.

È tão pequeno
Que não o percebo...

For we are on
The brink of
Re-relembrance.
I suppose...
In vistas,
Down dark avenues,
Down the avenues...

INVERNO VIRTUAL

Em dias de puro verão
Fico pensando
Se as flores
Não gostariam de um pouco de chuva,

Se minhas dores não sonham
Com um pouco de fuga...

Talvez surja na neve
Presente em alguma parte
Do mundo e do norte
Qualquer sombra de sorte
E primavera
Em absoluto branco e frio
De mil destinos.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

LITERATURA INGLESA XXXIV




Sir William Golding (1911-1993) foi um dos mais fascinantes escritores britânicos do pós guerra. Novelista e poeta graduado em literatura inglesa em Oxford nos anos 30, em 1940 entrou para a Marinha Britânica servindo na Segunda Guerra Mundial. Participou inclusive do histórico desembarque dos aliados na Normandia, em 1944.
Com o fim da guerra passou a lecionar e em 1954 publicou seu primeiro e mais impactante romance: O Senhor das Moscas. Até então só havia publicado uma coletânea de poemas em 1934. Seguiram-se, então, Os Herdeiros (1955) e Queda Livre (1959), dentre outros títulos.
O título de o Senhor das Moscas é uma referência a Belzebu (do nome hebraico Ba’al Zebub, בעל זבו), um sinônimo para o Diabo. Trata-se de uma obra profundamente alegórica e pessimista que nos defronta com o pior e mais elementar da condição humana. Uma das passagens que considero mais significativa desta singular narrativa é o momento em que Simon, um dos meninos perdidos na ilha, imagina uma voz em uma cabeça de porco coberta de moscas. Acreditando que a mesma pertence ao imaginário monstro que habita a ilha, a escuta dizer que jamais escapará dele, pois ele existe no interior de todos os homens. O personagem é pouco depois morto pelos seus próprios companheiros que ao verem saindo de uma floresta o tomam por engano pelo monstro imaginário.
O argumento para essa interessante obra pode ter sido sugerida pela experiência de Golding na Bishop Wordsworths School, uma escola católica para meninos, em Salisbury, na Inglaterra, onde ensinou língua inglesa a partir de 1945. O fato é que O Senhor das Moscas pode ser interpretado como uma critica a teoria do "bom selvagem" formulada por rousseau. Trata-se de um dos livros mais fascinantes que já li ...


" -És um menino tonto! -diz o Deus das Moscas. -Um menino tonto e ignorante!
Simão move a língua inchada, mas não profere palavra.
-Não estás de acordo? -pergunta o Deus das Moscas. Não és um menino
pateta?
Simão replica-lhe na mesma voz silenciosa.
-Ora bem -continua o Deus das Moscas. É melhor saíres daqui
para ires brincar com os outros. Pensam que tu és maluco. Tu não
queres que Rafael pense que és maluco, pois não? Gostas muito do Rafael,
não é verdade? E do Bucha e do Jack?
A cabeça de Simão levanta-se ligeiramente. Os seus olhos não podem
desfitar o Deus das Moscas, ali cravado naquele espaço diante de si.
-Que fazes tu aqui sozinho? Não tens medo de mim? Simão estremece.
-Não há ninguém que te ajude. Só eu. E eu sou a Fera. A boca de Simão
esforça-se, exprime palavras audíveis:
-Cabeça de porco num pau!
-Imagina tu! Pensar que a Fera era alguma coisa que se poderia caçar
e matar! -exclama a cabeça. Durante uns segundos, a mata e todos os
outros recantos indefinidamente entrevistos
ecoam com a paródia do riso. - Tu sabias, não é verdade? Eu sou
parte de ti próprio. Aproxima-te, aproxima-te ainda mais! Sou eu

o motivo por que não se pode ir mais além? Porque é que as coisas são
o que são?
O riso torna a arrepiá-lo.
-Ora vamos! -volve o Deus das Moscas. -Vais ter com os outros e esqueçamos
tudo isto.
A cabeça de Simão vacila. Os seus olhos estão semicerrados como se imitasse
aquela coisa obscena espetada num pau. Pressente que se avizinha
um dos seus momentos. O Deus das Moscas expande-se como um balão.
-É uma parvoíce. Sabes perfeitamente bem que só nos encontraremos lá
em baixo, de maneira que não tentes fugir!
O corpo de Simão arqueia-se, rígido. O Deus das Moscas fala-lhe com a
voz de um professor.
-Esta brincadeira já durou mais do que devia. Meu pobre menino desencaminhado,
tu pensas que sabes mais do que eu?
Uma pausa.
-Aviso-te. Vou zangar-me. Vês? Não precisam de ti. Entendes? Vamos
ter uma grande reinação nesta ilha. Entendes? Vamos
ter uma grande reinação nesta ilha! De modo que não tentes fazer de
esperto comigo, meu pobre menino desencaminhado, ou então...
Simão dá-se conta de que olha para uma bocarra imensa. Lá dentro há
negrume, um negrume que se expande.
-Ou então -prossegue o Deus das Moscas -acabamos contigo. Vês? O
Jack, o Maurício, o Roberto, o BilI, o Bucha e o Rafael. Vês?
Simão era tragado pela bocarra. Cai e perde os sentidos.
Uma visão da morte."

NAUFRAGO

Naufrago de mim mesmo
Abandonei-me
Em ilhas imaginárias
Perdidas no fundo d’alma.

Esqueci rosto
E palavra
Despido de sonho
E vontade.

Cai em minha sombra
Como quem cai em abismos
Mutilado pelos silêncios
Do meu passado entreaberto.

Vislumbro esquecimentos
Em minhas ausências
Degredando futuros
E sonhos selvagens de felicidade.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

MONTY PHYTON: FLYING CIRCUS



IT’s...
No episódio 2 ( Sex and Violence) da primeira temporada de FLAING CIRCUS do Monty Phyton encontramos uma série de sketchs singularmente divertidas e acidas sobre alguns dilemas contemporâneos. Penso particularmente no esquete The Epiloque: A question of Belief ( O Epílogo: Uma questão de crença), simulação de um programa de debates onde na noite em questão, os debatedores representados por um lado pelo Monsenhor Edward Gav, emissário pastoral visitante da Universidade de Teologia Somerset, autor do best seller “Meu Deus” e, por outro lado, pelo Dr. Tom Jack, humanista, jornalista, palestrante e autor de livros como “Ola Marinheiro”, decidem substituir os incansáveis e infrutíferos debates sobre a existência ou não de Deus por uma boa briga em um ringue em uma disputa de três assaltos...
Algumas esquetes depois, em outra simulação de um programa sobre atualidades, The World around us (O mundo a nossa volta) nos confrontamos com o delicado problema da descriminação e preconceito contra os “homens- ratos”, ou seja o caso de homens que pensam que são ratos e adotam um comportamento desviante fantasiando-se como tal e adquirindo hábitos d e ratos.
Mas em que pese todo o preconceito e falta de informação existente sobre o delicado tema, após depoimentos de homens ratos e opiniões de especialistas, somos induzidos a crer que, como demonstram os exemplos históricos de Cezar e Napoleão, os “homens-ratos” podem ocupar um lugar útil na sociedade.
... Já no final do episódio, retomando o esquete The Epilogue, cabe informar o resultado do combate pela existência ou não de Deus: Deus existe por duas quedas contra um nocaute... Resultado que, pessoalmente, considero terrivelmente injusto... Até hoje aguardo pelo sketch de uma revanche que certamente provaria que Deus não existe!

ENIGMA PESSOAL



Nenhum instante
Ou retalho de tempo sentido
Define-me nos dias
Ou na alma.


Significados me fogem
Quando tento
Inutilmente agarrá-los
Em sombras de memórias
E certezas de rosto.


Sou a soma
De perdas e conquistas
No provisório balanço
De mim mesmo.


Entre transformações e buscas
Abandono-me ao vento
Que me desfaz e refaz
No movimento da vida.

PENSAMENTO E CONTEMPORÂNEIDADE


“Sem os punhos de ferro da modernidade,
a pós-modernidade precisa de nervos de
aço”
.
BAUMAN, Zygmunt: Modernidade e Ambivalência

O exercício de pensar na contemporaneidade pressupõe toda economia simbólica como um jogo de linguagem deslocado de qualquer objeto de eleição, de qualquer correspondência viva entre as palavras e as coisas.
A consciência tornou-se, em muitos sentidos, o único sujeito e objeto possível do pensamento que, cada vez mais, volta-se para e contra si mesmo no produzir irrestrito do conhecimento.
Já não é mais possível apropriar-se do mundo pelo pensar, reduzi-lo a uma espécie de ciframento, codificação ou desvelamento de uma realidade passível de revelação. Pois tudo que vemos hoje é uma espiral de conceitos, métodos, ideações e arbitrarias eleições cognitivas que se mesclam em um amalgama de informações inconclusas, historicamente determinadas, em sua inevitável perenidade ou provisório e relativo valor.
Aqueles que ainda se entregam à chamada “vida do espírito” encontram-se diante do desafio de reconhecer o esforço de pensar, antes de tudo, como uma atividade lúdica não mais destinada a fomentar valores morais, princípios e certezas de mundos imaginados como realidades.
O conhecimento hoje em dia, parafraseando Jean Francois Lyotard em A Condição Pos Moderna, é basicamente performance... Acrescentaria ainda: ele é incredubilidade e descrença na fundamentação ultima de todo discurso, isto é, o sentimento de verdade.

A ESSÊNCIA DO FUTURO



Muito do que sou hoje
É puro futuro
Do qual ainda
Não sou capaz.


O porvir, afinal,
É o vazio que da forma
Ao tempo,
Uma insaciável ausência
Que nos faz
Desesperadamente
Viver...


Sem querer,
Entretanto,
Vislumbro apenas passados
Em meus horizontes
E sigo no tempo
Como um sereno vento.