quarta-feira, 21 de maio de 2008

OBLIVION

Ela percorre muda
Os antigos labirintos
De dias perdidos.
Não se esconde
Em um nome
E não revela origem.
Ela é apenas a senhora
Dos sonhos distantes,
Dos ocasos, noites
E mortes...
She is seeking her oblivion...

terça-feira, 20 de maio de 2008

SUSTO ONTOLOGICO

O dia termina lá fora
E algo impreciso
Tem inicio aqui dentro;

Um embaralhamento
Dos sentidos e afetos
Na imprecisão fria
De todos os sentimentos.

Talvez seja um medo
Ou um assombro
De saber o existir
E a perenidade de tudo
A sombra das eternidades.

SLEEPING

Apago um pouco o mundo
Bocejando o dia
No ato vago
De esquecer-me provisoriamente.

Vivo intensamente
O belo do outono
At peace,
In peace...
É quase inverno,
É quase silêncio,
E uma noite imensa
E fria
Desaba sobre tudo
Que sou e fui
impunimente.

domingo, 18 de maio de 2008

LITERATURA INGLESA XXIX


“We are the fools of time and terror


Lord Byron in Mnafred

Salman Rushdie (1947- ) é sem sombra de duvida um dos mais representativos autores contemporâneos da literatura inglesa. Nascido no seio de uma prospera família mulçumana em Bombaim, tornou-se súdito britânico após alguns anos de estudos na Inglaterra. Inicio a carreira de escritor em 1981 com a publicação do seu aclamado romance intitulado Os filhos da Meia Noite. Seu prestigio cresceu significativamente, entretanto, com a publicação de seu bombasticamente polêmico Versos Satânicos em 1988. Alem de reconhecimento e prêmios a obra lhe valeu uma sentença de morte promulgada pelo então aiatolá Khomeini, uma das mais bizarras personalidades publicas e globais do ultimo século. Cabe registrar, entretanto, que sua suposta ofensa ao islamismo é absolutamente fantasiosa e só se justifica pela miopia e irracionalidade do fundamentalismo islâmico.
O Ultimo suspiro do Mouro (1995), seu primeiro romance após a sentença de morte que lhe obriga até hoje a viver escondido e sobre proteção policial, nos apresenta um universo hibrido e plural onde a pluralidade e a diversidade apresenta-se como um traço essencial a nossas sensibilidades contemporâneas e uma alternativa fecunda aos fundamentalismos étnicos e políticos que ainda nos assombram no limiar deste novo milênio, apesar dos deslocamentos idenditários impostos pelo dinamismo vivo das gobalizações.
Surpreendentemente, a citada obra não possui qualquer referência direta ao absurdo episódio da condenação arbitraria do autor. Ela nos oferece apenas uma leitura saborosa, recheada de certo humor, perplexidade, crueldade, sofrimento, irracionalismos e todos os altos e baixos que compõe a aventura da vida humana sobre a terra.
Quanto ao apelo à pluralidade e ao hibridismo ou indeterminação identidária atualmente em pauta na experiência cultural ocidental, basta dizer que o herói narrador da narrativa é o filho de um judeu de ascendência espanhola e nome árabe com uma católica de ascendência portuguesa em uma India dividida pelo conflito entre hindus e mulçumanos.
Deixo aqui um significativo fragmento do comentado romance como uma insuficiente amostra do talento e da contemporaneidade da literatura de Rushdie que, através de seus romances, ainda é capaz de dizer o horror do mundo na peculiar lucidez de seu olhar literário.

“... Mas, pensando bem, não é necessário por a culpa em ancestrais e amantes. Minha carreira de espancador- minha fase martelo- foi fruto de um capricho da natureza, que me deu um punho direito tão poderoso, ainda que inútil para outros fins. Até então eu jamais matara ninguém; mas isso era mais uma questão de sorte, tendo em vista alguma surras violentíssimas e prolongadas que eu administrara. Se, no caso de Raman Keats, atribui-me as funções de juiz, júri e verdugo, o fiz em conformidade com minha própria natureza.
A civilização é um truque de prestidigitação que oculta de nós mesmos nossa verdadeira natureza. Minha mão, prezado leitor, não tinha dígitos capazes de executar um presto; mas ela entendia do assunto.
Assim, a sede de sangue estava no meu sangue, e nos meus ossos também. Uma tomada a decisão, jamais exitei; resolvi que me vingaria, ou então morreria tentando me vingar. Eu vinha pensando muito na morte. Agora encontrara uma maneira de dar sentido a uma morte inexpressiva. Dei-me conta, com uma espécie de surpresa abstrata, de que estava disposto a morrer, desde que o cadáver de Raman Keats estivesse junto ao meu. Ou seja: também eu me transformara num assassino fanático. ( Ou num vingador coberto de razão; escolha o que preferir.)
Violência é violência, assassinato é assassinato, um mal não justifica outro: eu tinha plena consciência dessas verdades. E também desta: quando descemos ao nível do adversário, perdemos nossa superioridade moral. Nos dias que se seguiram à destruição de Babri Masjid, “mulçumanos indignados”/ “assassinos fanáticos” ( mais uma vez, risque a opção que menos lhe agradar) destruíram templos hinduístas e mataram hindus, na Índia e no Paquistão também. Nesses surtos de violência coletiva chegamos a um ponto em que se torna irrelevante perguntar: “Quem foi que começou?” As conjugações múltiplas da morte se divorciam de qualquer possibilidade de justificação, muito menos de justiça. Hindus e mulçumanos irrompem a nossa voltam, de um lado e do outro, com facas e pistolas, matando, queimando, saqueando e brandindo os punhos erguidos em direção ao céu esfumaçado. Como seus atos, as causas que defendem se conspurcam; ambas perdem o direito de reivindicar qualquer virtude; uma se transforma no tormento da outra.
Não me eximo desta culpa. Fui um agente da violência por muito tempo, e na noite do dia em que Raman Keats insultou minha mãe na televisão dei fim a sua vida maldita por meio de um ato brutal. E, ao matá-lo, fiz com que minha própria existência fosse amaldiçoada.”


(SALMAN RUSHDIE. O ULTIMO SUSPIRO DO MOURO/ TRADUÇÃO DE PAULO HENRIQUE BRITTO. SP: COMPANHIA DAS LETRAS, 1996, P. 381 E 382)

LIVE

Há tantas formas de viver
Quanto pessoas
No mundo,
Tantos psicodélicos sentidos
Brincando o real de cada dia
Que é impossível pensar
Alem das melancolias.

Tudo no mundo
É uma questão
De saber o intimo infinito
Que nos leva
A ser em intensa singularidade.

Tudo é aposta em imaginações,
Acasos e ilusões de vida.

LIMITES ABERTOS

Não sei que finito
Se faz
No acaso mágico
Dos meus infinitos
Caminhos.

Preocupa-me
Apenas
O dia seguinte,
Incerto e planejado.

Depois disso
Vejo apenas
O limite
Entre a rotina
E o sonho.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

DESCONSTRUÇÃO

Certezas correm ébrias
Entre esquecimentos
E abismos
Buscando discursos híbridos
Entre babeis de fé.

Uma ilha em meu caminho
Traduz a vida
Em avessos de significados.
Pois todo dizer
Do mundo
É um apagado tentar
Desdizer algo
Em paisagens de caos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

SINATRA: O MITO 10 ANOS DEPOIS...


Flank Albert Sinatra foi o cantor mais expressivo da América do pós guerra, a encarnação viva do american way of live, do self made man e, de algum modo, um ícone que nos permite ler as sensibilidades que definem em parte o séc. XX. Nos anos 50, era sua voz, the voice, que embalava os sonhos e emoçõesda ingênua rebeldia da chamada “juventude transviada” através de um misto de swing, sensualidade, romantismo, humor, melancolia e irreverência, em um momento em que a musica popular se consolidava, através da conversão em uma poderosa industria, em uma presença marcante e significativa no cotidiano dos indivíduos, seja como pano de fundo ou como trilha sonora de suas próprias vidas.
Embora avesso ao rock and roll, cabe registrar que foi justamente Sinatra que em 1960, no episódio final de seu programa de variedades para a TV americana, The Frank Sinatra Show, que recebeu o jovem Elvis Presley, então recém chegado aos Estados Unidos após a conclusão de seu serviço militar.
Também é digna de nota sua ótima versão de uma das mais belas cançãos dos Beatles, Something, by George Harrison e, por que não, as divertidas e heréticas versões de um de seus maiores sucessos, My Way, pelo Sex Pistols e, posteriormente Nina Hagen.
O que realmente importa é que dez anos após sua morte a memória e o gramour de Sinatra ainda seduz nossas imaginações e sensibilidades intensa e profundamente. The Voice ainda é um dos maiores símbolos da cultura ocidental.
Arnold Shaw na overture de sua biografia sobre o cantor, escrita em fins dos anos 60 e muito propriamente intitulada Sinatra: Romântico do séc. XX, assim define esse complexo e contraditório homem que se fez voz e mito:


“ O atrativo de Sinatra como um romântico do século XX provem de um grupo de contradições. Na hierarquia de nossos símbolos do sexo e deuses do amor, ele tem sido o amante torturado, tão vulnerável quanto triunfante, magoando e sendo magoado. Se continha muito de Balzac, cuja bengala trazia a inscrição: “Seja o que for que me atrapalhe, eu esmago”, também havia nele qualquer coisa de Kafka, que gravou em sua bengala: “Tudo aquilo que me atrapalha, me esmaga!” É essa contradição constante de violência e ternura que compôs a personalidade magnética e enigmática de Sinatra. E foi a projeção dessas polaridades em seu modo de cantar que contribuiu para torná-lo o cantor máximo dos nossos tempos.”

(Arnold Shaw. Sinatra: Romântico do Século XX. Tradução de Luiz Fernandes. RJ: Mundo Musical, 1969,p. 4)

O INVENTADO

Saudades tenho
Do que nunca vivi,
De lugares e pessoas
Jamais conhecidas,
Como se fosse
O trágico exilado
De alguma outra vida.

Há mais verdades
Em minhas fantasias
Do que realidades
No mundo...

Pois sei que sou
Uma sombra
De sonho impossível
A apagar-se em medíocre existência.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

UMA BREVE LEITURA DO LED ZEPPELIN


Originalmente formada em julho de 1968 pelo guitarrista Jimmy Page e pelo baixista Chris Dreja com o nome de "The New Yardbirds", teve inicio a fascinante tragetória de uma das maiores bandas de Rock and Roll dos anos 70: o Led Zeppelin.
O nome tem origem em um comentário de Keith Moon e John Entwistle do The Who durante uma entrevista sobre sobre um "supergrupo" contendo eles dois, Jimmy Page e Jeff Beck, que, na opinião dos entrevistados, viajava como uma balão de gas.
Lançado em outubro de 1968, com a formação definitiva da banda, ou seja, Jimmy Page, Jonh Paul Jones, Robert Plant e John "Bonzo" Bonhan, o primeiro disco do Led combinava o blues, rock e influências orientais com amplificações distorcidas, o que lhe fez por merecer, ao lado do Black Sabbath, a condição de uma das bandas precursoras do futuro heavy metal.
O segundo álbum, chamado simplesmente Led Zeppelin II, continuou e aprofundou o mesmo estilo, e incluía o singular sucesso "Whole Lotta Love".
As performances ao vivo do Led Zeppelin, muito frequentemente, alcançavam 2 horas ou mais de duração podendo chegar a 4 horas seguidas. Constituiam verdadeiras viagens e delirios musicais que a levaram ao titulo de melhor banda ao vivo dos anos 70.

Vale a pena ressaltar que a gravação do seu terceiro álbum, Led Zeppelin III, conduziu-a, significativamente, a experiência de retirar-se em "Bron-Yr-Aur", uma cabana isolada em Snowdonia/pais de Gales, em busca do resgate do imaginário celtico, o que propiciou ao album uma sonolidade acústico e folk realmente singular. Tal atmosfera mágica e insolita transformou-se em uma das marcas registradas da banda, assim como a sintese perfeita entre as várias tendências musicais que incorporava.
Certamente ainda tenho muito o que dizer sobre o Led Zeppelin por aqui...