quinta-feira, 17 de abril de 2008

LITERATURA INGLESA XXVI


A Projeção alcançada pelo poeta aristocrático Lord Byron (ou Gordon Noel Byron/1788-1824) e por sua personalidade ultra romântica e desafiadora no séc. XIX europeu através do “byronismo”, é um testemunho do impacto de sua sensibilidade e singularidade poética sobre os seus contemporâneos. De muitas maneiras Byron transmutou-se em um mito do romantismo e do aristocracismo que lhe é inerente. Sua imagem foi associada a abuso sexual, incesto, homossexualismo, divórcio, e, cabe ressaltar, segundo me parece, devemos a ele os primeiros escritos sobre o efeito da maconha sobre o organismo humano.
O fato é que Byron viveu uma vida errante e mundana de radical questionamento da cultura tradicional e das certezas do seu tempo no mais profundo estilo romântico.Percorreu as paisagens inglesas, suíças, italianas e gregas, etc. em um radical grito de plena e intensa individualidade e liberdade. Na Itália, particularmente, participou ativamente do movimento dos Carbonários.
Com o ingênuo intuito de aqui deixar algo de sua poderosa e singular personalidade reproduzo dois dos seus poemas:


TREVAS
(Tradução de Castro Alves)

Eu tive um sonho que não era em todo um sonho
O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas
Vagueavam escuras pelo espaço eterno,
Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra
Girava cega e negrejante no ar sem lua;
Veio e foi-se a manhã - Veio e não trouxe o dia;
E os homens esqueceram as paixões, no horror
Dessa desolação; e os corações esfriaram
Numa prece egoísta que implorava luz:
E eles viviam ao redor do fogo; e os tronos,
Os palácios dos reis coroados, as cabanas,
As moradas, enfim, do gênero que fosse,
Em chamas davam luz; As cidades consumiam-se
E os homens juntavam-se junto às casas ígneas
Para ainda uma vez olhar o rosto um do outro;
Felizes enquanto residiam bem à vista
Dos vulcões e de sua tocha montanhosa;
Expectativa apavorada era a do mundo;
Queimavam-se as florestas - mas de hora em hora
Tombavam, desfaziam-se - e, estralando, os troncos
Findavam num estrondo - e tudo era negror.
À luz desesperante a fronte dos humanos
Tinha um aspecto não terreno, se espasmódicos
Neles batiam os clarões; alguns, por terra,
Escondiam chorando os olhos; apoiavam
Outros o queixo às mãos fechadas, e sorriam;
Muitos corriam para cá e para lá,
Alimentando a pira, e a vista levantavam
Com doida inquietação para o trevoso céu,
A mortalha de um mundo extinto; e então de novo
Com maldições olhavam para a poeira, e uivavam,
Rangendo os dentes; e aves bravas davam gritos
E cheias de terror voejavam junto ao solo,
Batendo asas inúteis; as mais rudes feras
Chagavam mansas e a tremer; rojavam víboras,
E entrelaçavam-se por entre a multidão,
Silvando, mas sem presas - e eram devoradas.
E fartava-se a Guerra que cessara um tempo,
E qualquer refeição comprava-se com sangue;
E cada um sentava-se isolado e torvo,
Empanturrando-se no escuro; o amor findara;
A terra era uma idéia só - e era a de morte
Imediata e inglória; e se cevava o mal
Da fome em todas as entranhas; e morriam
Os homens, insepultos sua carne e ossos;
Os magros pelos magros eram devorados,
Os cães salteavam seus donos, exceto um,
Que se mantinha fiel a um corpo, e conservava
Em guarda as bestas e aves e famintos homens,
Até a fome os levar, ou os que caíam mortos
Atraírem seus dentes; ele não comia,
Mas com um gemido comovente e longo, e um grito
Rápido e desolado, e relambendo a mão
Que já não o agradava em paga - ele morreu.
Finou-se a multidão de fome, aos poucos; dois,
Dois inimigos que vieram a encontrar-se
Junto às brasas agonizantes de um altar
Onde se haviam empilhado coisas santas
Para um uso profano; eles a resolveram
E trêmulos rasparam, com as mãos esqueléticas,
As débeis cinzas, e com um débil assoprar
E para viver um nada, ergueram uma chama
Que não passava de arremedo; então alçaram
Os olhos quando ela se fez mais viva, e espiaram
O rosto um do outro - ao ver gritaram e morreram
- Morreram de sua própria e mútua hediondez,
- Sem um reconhecer o outro em cuja fronte
Grafara o nome "Diabo". O mundo se esvaziara,
O populoso e forte era uma informe massa,
Sem estações nem árvore, erva, homem, vida,
Massa informe de morte - um caos de argila dura.
Pararam lagos, rios, oceanos: nada
Mexia em suas profundezas silenciosas;
Sem marujos, no mar as naus apodreciam,
Caindo os mastros aos pedaços; e, ao caírem,
Dormiam nos abismos sem fazer mareta,
mortas as ondas, e as marés na sepultura,
Que já findara sua lua senhoril.
Os ventos feneceram no ar inerte, e as nuvens
Tiveram fim; a escuridão não precisava
De seu auxílio - as trevas eram o Universo.


UMA TAÇA FEITA DE UM CRÂNIO HUMANO
(Tradução de Castro Alves)

Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria -
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
- Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...

DESAFIO

Procuro no breu da existência
Qualquer sorte
Maior do que
O grito da vida
A se espalhar no tempo
Em busca
De outra face
De si mesma.

Procuro o perder
Do meu orgulho
No negar aos outros
E ao mundo
O próprio rosto,
A vã certeza
De que em tudo
Há um rumo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

VIAGEM

Toda viagem
É um afastar-se do que somos
no aprendizado das coisas
Em si mesmas,
Uma aventura estranha
Na qual cada momento
Pressupõe um uso único
Da vida.

Viajar é perder-se
No mover-se em desconhecidos
Instantes de sensações,
É esquecer-se em
Destinos
E mundos em labirintos,
É guardar na alma
Um inexplicável sabor
De nada
Que nos preenche de um novo,
De sorte e de morte,
no fluir da existência.

ADIVINHAÇÃO E SINCRONICIDADE


Marie Louise von Franz, em Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa, ocupa-se basicamente do significado do Irracional em Psicologia Analítica, mediante a reunião de uma série de palestras sobre o tema realizadas no Instituto Jung de Zurich no outono de 1969.
Assim sendo, o foco central de suas considerações confunde-se com a busca pela delimitação do fundamento psíquico sobre o qual o fenômeno da adivinhação se assenta; o que nos conduz ao principio da acausalidade ou, como denominou Jung, da sincronicidade.
Como nos esclarece a autora em uma interessante comparação entre o modo de pensar europeu/ocidental e o do chinês tradicional ou arcaico:

“... O modo ocidental de pensar é uma orientação extrospectiva, ou seja, primeiro observamos, ou seja, primeiro observamos os eventos e depois extraímos um modelo matemático. O modo chinês ou oriental consiste em usar um modelo mental intuitivo para ler os eventos, a saber, os números inteiros naturais. Eles se voltam primeiro para o evento de lançar ao ar cara ou coroa, que é um evento psíquico e psicofísico. A pergunta do adivinhador é psíquica, ao passo que o evento é a moeda cair ou de cara ou de coroa, fato a partir do qual os eventos internos e externos subseqüentes podem ser interpretados. Logo, trata-se de um modo de ver inteiramente complementar ao nosso.
O que é importante na China, conforme também sublinhou Jung em seu ensaio intitulado “
Sincronicidade: Um Principio de Conexão Acausal”, é o fato de os chineses não terem se fixado, como aconteceu em muitas outras civilizações primitivas, no uso de métodos divinatórios somente para predizer o futuro- por exemplo, se um homem deve ou não se casar. Pergunta-se ao sacerdote e ele diz: “ Não, não a conseguirá.” Ou “ Sim, vai consegui-la.” Isso é algo praticado no mundo inteiro, não só oficialmente, mas por muitas pessoas no silêncio de suas salas, quando dispõem sobre a mesa as cartas do Taro, etc..., ou quando se dedicam a pequenos rituais: “ Se hoje brilhar o sol, então farei isso ou aquilo.” O homem pensa constantemente desse modo e até os cientistas tem essas pequenas superstições, dizendo para si mesmos que, como o sol brilhou no quarto deles, ao saltarem da cama, sabem que hoje tal e tal coisa correrá a mil maravilhas. Mesmo que rejeitemos em nossa Weltanschauung consciente tais superstições, o homem primitivo que existe em nós, usa esse tipo de prognóstico do futuro com a mão esquerda, por assim dizer, e depois nega-o envergonhado ao seu irmão nacionalista, embora fique muito aliviado ao descobrir que o outro faz a mesma coisa!”

(Marie Louise von Franz. Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa./ tradução de Álvaro Cabral. SP: Cultrix, s/d, p.11)

Tal complementalidade, nos termos aqui expostos, ente o modo de pensar ocidental e oriental, foi que levou Jung reformular o conceito de Unus Mundus, de origem medieval:

“Em seu estudo sobre a sincronicidade, Jung enfatiza que, como os domínios físico e psíquico coincidem dentro do evento sincronistico, deve existir em algum lugar, ou de algum modo, uma realidade unitária- uma realidade dos domínios físico e psíquicos, para a qual ele usou a expressão latina unus mundus, o mundo uno, conceito que já existia na mente de alguns filósofos medievais. Esse mundo, diz Jung, não pode ser vislumbrado por nós e transcende, por completo, a nossa apreensão consciente. Só podemos concluir ou pressupor a existência em lugar de tal realidade, uma realidade psicofísica, como poderíamos chamá-la, que se manifesta esporadicamente no evento sincronístico. Mais tarde, em Mysterium Conjunctionis, Jung diz que a mandala é o equivalente psíquico interno do unus mundus.
Isso significa, como sabemos, que a mandala representa a unicidade essencial da realidade interna e externa, e aponta para um conteúdo psicológico transcendente, que só pode ser apreendido indiretamente, através de símbolos. As muitas formas de mandalas parecem apontar para essa unicidade, sendo os eventos sincronisticos o equivalente parapsicológico do unus mundus e apontando, também, para essa mesma unicidade dos universos psíquico e físico. Portanto, não surpreende encontrar na história combinações desses dois motivos, isto é, das estruturas da mandala e das tentativas de passadas de adivinhação, a fim de apreender a sincronicidade. Eu chamo essas mandalas, mandalas adivinhatórias.”

( idem p. 117)

ADIVINHAÇÃO, TEMPO E ACASO


Toda forma oracular pressupõe o acaso, o ato único de um evento aleatório, material e concreto, como fonte de informações sobre a totalidade de uma dada situação psicológica interna e externamente vivida ou determinada. Há, em outros termos, uma fusão entre a materialidade do instrumento e a imaterialidade do resultado na aventura lúdica da consulta.
Trata-se de um modo de se ler os eventos da vida através de qualquer código simbólico onde o significado surge como meta-linguagem, como experiência psíquica e irracional que não deriva da necessariamente do ato ou evento concreto que lhe originou em termos ingênuos do pensar em causas e efeitos. Diga-se de passagem, é o estado/intensidade emocional experimentado pelo indivíduo que consulta um oráculo que condiciona à maior ou menor eficácia da experiência.
Nesse sentido, um argumento muito comum contra as mancias é o diagnóstico de sua imprecisão lingüística e abstração simbólica que, em tese, permitiria a validade de qualquer resposta desde que “interpretada” subjetivamente a contento.
Os defensores deste tipo de argumentação se esquecem, entretanto, de que em uma consulta oracular, não é necessariamente o pré-dizer de um acontecimento determinado, o que teria por pressuposto qualquer forma ingênua de fatalismo. Mas sim a delimitação de um campo qualitativo de eventos, possibilidades e probabilidades circunscritas a experiência emocional e concreta de um dado recorte temporal e temático de existência. O que realmente se busca através de um oráculo é um padrão de leitura da realidade; isto significa uma experiência introspectiva do real tanto quanto a integração do inconsciente, premissa que nos leva a questão de um ordenamento acausal do mundo físico e humano onde a psique se faz matriz de toda idéia de consciência de uma dada imagem de realidade.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

CRÔNICA RELÂMPAGO XXIV


Há algo de inevitavelmente limitado em todas as nossas considerações sobre as coisas. Algo que pressupõe a maior ou menor “eficácia” de nosso auto sentimento de mundo nas constâncias e variações do ato de viver.
Falar sobre tal limitação é perceber também a pequenez de nosso mínimo universo vivido frente à vastidão do mundo que nos cerca e suas possibilidades e diversidades infinitas. Nesse sentido, a limitação é uma condição ontológica da própria individualidade, algo incontornável.
Admitir nossos limites, ou nosso limite ontológico frente à vastidão que nos cerca e da qual raramente nos damos conta em toda a sua complexidade, é um verdadeiro e amargo desafio cuja única finalidade é a plena consciência do que não somos, das imprecisões de nossas auto representações.
Cada um de nós é um quase nada de mundo... vislumbrando em tudo uma oportunidade de laica transcendência. Não se trata absolutamente de preservar a mera auto- estima, mas de nos levarmos mais a sério do que deveriamos.

ABSTRAÇÕES DA VIDA

Um devanear imprudente
Sobre as sobras do ontem
Inaugura o dia
Em uma preguiçosa manhã
De abril.

Todo dizer possível
Não cabe em uma única frase
De dizível percepção
Das coisas.

A vida sabe nos surpreender
A todo tempo
Confidenciando ao acaso
Nossos limites e desrazões,
Nosso viver fechado
Em pensamentos
E certezas vãs.

sábado, 12 de abril de 2008

SENTIMENTO DE OUTONO


O fundo fosco da natureza
em serenidades
que definem o outono,
conduz meu sentir
a abstratos espaços
de lugar comum
e nenhum
de não pensamentos.
Deito-me nas horas vazias
do dia de hoje,
para mim já esquecido,
vislumbrando meus tempos perdidos,
saboreando o depois
de todos os atos,
sabendo em tudo
um ngolpe de acaso
e aleatório desejo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

NOSTALGIA

Leio os silêncios
Entre os rabiscos
De versos antigos
Tentando reencontrar
Meus tantos rostos
Que se perderam
No tempo.
Como se fosse possível
Desfazer-me
Dos vazios presentes
E mergulhar em passados
Até recuperar prometidos futuros.

LITERATURA INGLESA XXV


Charles John Huffam Dickens (1812-1870) pode ser considerado o mais popular e influente dentre os romancistas ingleses e britânicos da chamada era Vitoriana. A vitalidade sua obra é atestada por sua sobrevivência nos dias de hoje por intermédio de inúmeras adaptações cinematográficas e de animações.
Definitivamente, Dickens é um clássico britânico e principalmente anglófico.
Vale à pena observar que boa parte de seus romances e contos foram escritos em episódios regularmente publicados em jornais, o que proporcionava uma interação curiosa e única entre o autor e seus leitores que, mediante o maior ou menor numero de vendas dos exemplares, influenciava os rumos da narrativa; mas sem diminuir a qualidade do texto...
Embora um tanto quanto melodramático, os romances de Dickens são em grande parte obras de critica social, embora mais voltadas para o enterterimento do que para qualquer modalidade de “realismo”.
Grandes Esperanças ( Great Expectations) e o quase auto biográfico David Corpperfeld são considerados seus mais perfeitos romances. Mesmo assim sendo, emntretanto, vale a pena destacar, dentro do conjunto de sua produção, o romance histórico “ Um Conto de duas cidades” sobre a Revolução Francesa e a Revolução Industrial Inglesa.
Seu conto “Canção de Natal” é, entretanto, o mais conhecido e popular dentre seus escritos.