I am stuck...
Entre o crescimento
e a queda
no viver do tempo.
I am stuck...
Entre certezas de realidade
E incertezas de mim mesmo.
I am stuck...
Diante do rosto dos outros
Que quase não sabem
O fundo escuro
De si mesmos.
I am stuck…
Encarando o acaso
Em delírios
De futuros
Quase perfeitos.
I am stuck…
No impasse desses versos
Que não me levam
Alem da equivoca palavra
Que me apresenta o mundo.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
sexta-feira, 14 de março de 2008
O BEM E O MAL NA PSICOLOGIA ANALITICA
O bem e o mal na Psicologia Analítica é o titulo de um pequeno ensaio publicado no décimo volume das obras completas de C G Jung. Originalmente ele foi apresentado em um encontro de fim de semana do grupo de trabalho “ Arzt und Seelsorges” de Stuttgart no outono de 1958.
Como alerta o próprio autor, sua posição sobre o assunto não se enquadra em qualquer especulação moral apriorística ou teórica. Seu ponto de vista é essencialmente empírico e ancora-se em sua experiência como psico-terapeuta. Nesta perspectiva, a problemática do bem e do mal nos conduz a cisão e conflito entre opostos que configuram a milênios a consciência e cultura ocidental. Em termos de psicologia analítica, dentre outras coisas, trata-se do delicado problema de conscientização e assimilação da sombra, imagem arquétipo que corresponde à experiência psicológica de nosso intimo outro, daquelas faces de nós mesmos que por uma série de razões normalmente ignoramos. Cabe ainda considerar a os limites de todo código comportamental inspirado pela moral tradicional.
Segue um fragmento deste instigante texto:
“... Também na questão do bem e do mal nós, terapeutas, só podemos confiar estarmos vendo as coisas de modo certo, mas não se pode ter certeza absoluta. Enquanto terapeuta, não posso abordar, em casos concretos, o problema do bem e do mal de modo teológico ou filosófico, mas apenas de modo empírico. Sendo minha atitude empírica, isto não quer dizer que relativizo em si o bem e o mal. Sei muito bem: isto é mau, mas o paradoxo é que nesta pessoa, nesta situação concreta, neste determinado grau de seu amadurecimento isto pode ser bom. Por outro lado, também vale: o bom no momento errado e no lugar impróprio se torna o pior. Se assim não fosse, tudo seria muito simples demais. Se não fizer um juízo a priori mas escutar os fatos concretos, não sei de antemão o que é bom ou mau para o paciente. Muitas coisas se nos apresentam mas não conseguimos desvendar seu significado.”
“...A realidade do bem e do mal consiste em coisas, situações que acontecem, que ultrapassam nosso pensamento, em que a gente está, por assim dizer, diante da vida e da morte. O que me sobrevém nesta força e intensidade eu experimento como algo numinoso, não importa se o designo como divino, demoníaco ou causado pelo destino. Esta atuando algo mais forte, insuperável com o qual me confronto. A dificuldade esta em que estamos acostumados a pensar estes problemas a ponto ficarem claros “como dois mais dois são quatro” . Mas na prática isto não funciona; não chegamos a uma solução, em principio, de como devemos proceder. Querer isto é errado. È como nas leis da natureza que a gente acha que são validas em toda parte. A moral tradicional é exatamente como a física clássica: uma verdade e sabedoria estatísticas. O físico de hoje sabe que a causalidade é uma verdade estatística. Mas no caso prático sempre procurará saber qual a lei aplicável a este caso. O mesmo se da no campo da moralidade. Não podemos supor que tenhamos dito algo de validade absoluta quando opinamos num caso concreto: isto é bom, isto é mau. É certo que muitas vezes devemos pronunciar um julgamento, não da para fugir. E pode acontecer que digamos inclusive a verdade, que acertemos na mosca. Mas considerar nosso julgamento simplesmente como valido seria disparate, seria querer ser como Deus. Mesmo que na prática uma ação moral nem sempre estuda sua qualidade moral mais profunda, a soma dos motivos conscientes e inconscientes que a fundamentam. E muito menos quem julga a ação de outro, que só a percebe de fora, em sua aparência e não em seu ser mais profundo. Kant diz com razão que o indivíduo e a sociedade deveriam passar de uma “ética da ação” para uma “ética da convicção”. Mas só Deus pode perscrutar a última e mais profunda convicção que está por trás da ação. Por isso, nosso julgamento sobre o que é bom ou mau concretamente deve ser muito prudente e hipotético. Jamais apodítico como se pudéssemos ver claramente todos os fundamentos últimos. As concepções morais são muitas vezes tão divergentes quanto diverge nosso paladar do dos esquimós no tocante a guloseimas.”
( C G Jung. O Bem e o Mal na Psicologia Analítica, in Obras Completas. Vol. X/3. Civilização em Transição. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 185 et seq.)
Como alerta o próprio autor, sua posição sobre o assunto não se enquadra em qualquer especulação moral apriorística ou teórica. Seu ponto de vista é essencialmente empírico e ancora-se em sua experiência como psico-terapeuta. Nesta perspectiva, a problemática do bem e do mal nos conduz a cisão e conflito entre opostos que configuram a milênios a consciência e cultura ocidental. Em termos de psicologia analítica, dentre outras coisas, trata-se do delicado problema de conscientização e assimilação da sombra, imagem arquétipo que corresponde à experiência psicológica de nosso intimo outro, daquelas faces de nós mesmos que por uma série de razões normalmente ignoramos. Cabe ainda considerar a os limites de todo código comportamental inspirado pela moral tradicional.
Segue um fragmento deste instigante texto:
“... Também na questão do bem e do mal nós, terapeutas, só podemos confiar estarmos vendo as coisas de modo certo, mas não se pode ter certeza absoluta. Enquanto terapeuta, não posso abordar, em casos concretos, o problema do bem e do mal de modo teológico ou filosófico, mas apenas de modo empírico. Sendo minha atitude empírica, isto não quer dizer que relativizo em si o bem e o mal. Sei muito bem: isto é mau, mas o paradoxo é que nesta pessoa, nesta situação concreta, neste determinado grau de seu amadurecimento isto pode ser bom. Por outro lado, também vale: o bom no momento errado e no lugar impróprio se torna o pior. Se assim não fosse, tudo seria muito simples demais. Se não fizer um juízo a priori mas escutar os fatos concretos, não sei de antemão o que é bom ou mau para o paciente. Muitas coisas se nos apresentam mas não conseguimos desvendar seu significado.”
“...A realidade do bem e do mal consiste em coisas, situações que acontecem, que ultrapassam nosso pensamento, em que a gente está, por assim dizer, diante da vida e da morte. O que me sobrevém nesta força e intensidade eu experimento como algo numinoso, não importa se o designo como divino, demoníaco ou causado pelo destino. Esta atuando algo mais forte, insuperável com o qual me confronto. A dificuldade esta em que estamos acostumados a pensar estes problemas a ponto ficarem claros “como dois mais dois são quatro” . Mas na prática isto não funciona; não chegamos a uma solução, em principio, de como devemos proceder. Querer isto é errado. È como nas leis da natureza que a gente acha que são validas em toda parte. A moral tradicional é exatamente como a física clássica: uma verdade e sabedoria estatísticas. O físico de hoje sabe que a causalidade é uma verdade estatística. Mas no caso prático sempre procurará saber qual a lei aplicável a este caso. O mesmo se da no campo da moralidade. Não podemos supor que tenhamos dito algo de validade absoluta quando opinamos num caso concreto: isto é bom, isto é mau. É certo que muitas vezes devemos pronunciar um julgamento, não da para fugir. E pode acontecer que digamos inclusive a verdade, que acertemos na mosca. Mas considerar nosso julgamento simplesmente como valido seria disparate, seria querer ser como Deus. Mesmo que na prática uma ação moral nem sempre estuda sua qualidade moral mais profunda, a soma dos motivos conscientes e inconscientes que a fundamentam. E muito menos quem julga a ação de outro, que só a percebe de fora, em sua aparência e não em seu ser mais profundo. Kant diz com razão que o indivíduo e a sociedade deveriam passar de uma “ética da ação” para uma “ética da convicção”. Mas só Deus pode perscrutar a última e mais profunda convicção que está por trás da ação. Por isso, nosso julgamento sobre o que é bom ou mau concretamente deve ser muito prudente e hipotético. Jamais apodítico como se pudéssemos ver claramente todos os fundamentos últimos. As concepções morais são muitas vezes tão divergentes quanto diverge nosso paladar do dos esquimós no tocante a guloseimas.”
( C G Jung. O Bem e o Mal na Psicologia Analítica, in Obras Completas. Vol. X/3. Civilização em Transição. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 185 et seq.)
quarta-feira, 12 de março de 2008
ROMEU E JULIETA
É controvertido o titulo de primeira tragédia escrita por Shakespeare. Tito Andronico ou Romeu e Julieta? Sem entrar nesta polêmica ocupar-me-ei aqui exclusivamente desta última.
Para inicio de conversa, poucas histórias gozam da mesma popularidade do que a de Romeu e Julieta. Ela povoa o imaginário ocidental de um modo tão profundo que desafia o limite entre ficção e realidade.
Difícil precisar a data em que a tragédia foi escrita. O fato é que sua primeira publicação ocorreu em 1597.
As fontes imediatas utilizadas por Shakspeare para a composição desta obra foram muito provavelmente um poema de Arthur Booke e uma versão da história contida no livro Palace of Pleasure de Paynter. O tema, entretanto, tem suas origens em novelas italianas o que torna compreensível sua ambientação em Verona. Mas foi definitivamente a versão shakespeareana que imortalizou a trágica história de amor entre dois adolescentes pertencentes a famílias rivais.
Romeu e Julieta personifica o ideal do amor romântico encarnado pelos amantes que, transcendendo preconceitos e dificuldades diversas, afirmam a força do seu laço. Apesar do fatal desencontro que lhe sela como tragédia, a historia figura entre as mais sublimes e líricas apologias do amor já concebidas pelo imaginário ocidental. Amor que, contrariando códicos e convenções sociais afirma-se como vivência da subjetividade e da individualidade como referências primais do agir humano.
« uas casas, iguais em dignidade – na formosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento. »
(Coro, Prólogo)
Para inicio de conversa, poucas histórias gozam da mesma popularidade do que a de Romeu e Julieta. Ela povoa o imaginário ocidental de um modo tão profundo que desafia o limite entre ficção e realidade.
Difícil precisar a data em que a tragédia foi escrita. O fato é que sua primeira publicação ocorreu em 1597.
As fontes imediatas utilizadas por Shakspeare para a composição desta obra foram muito provavelmente um poema de Arthur Booke e uma versão da história contida no livro Palace of Pleasure de Paynter. O tema, entretanto, tem suas origens em novelas italianas o que torna compreensível sua ambientação em Verona. Mas foi definitivamente a versão shakespeareana que imortalizou a trágica história de amor entre dois adolescentes pertencentes a famílias rivais.
Romeu e Julieta personifica o ideal do amor romântico encarnado pelos amantes que, transcendendo preconceitos e dificuldades diversas, afirmam a força do seu laço. Apesar do fatal desencontro que lhe sela como tragédia, a historia figura entre as mais sublimes e líricas apologias do amor já concebidas pelo imaginário ocidental. Amor que, contrariando códicos e convenções sociais afirma-se como vivência da subjetividade e da individualidade como referências primais do agir humano.
« uas casas, iguais em dignidade – na formosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento. »
(Coro, Prólogo)
terça-feira, 11 de março de 2008
CRÔNICA RELÂMPAGO XXI
Não raramente a vida se apresenta como uma constelação de incertezas e duvidas das mais diversas naturezas e contextos. Nada me parece nessas ocasiões definitivo, satisfatório ou, muito menos, determinado.
A imagem da fumaça de um cigarro que a dissipar-se aleatoriamente no vazio surge como a alegoria perfeita para a definição de todas as coisas que compõe a vida...
Um pouco ausente de tudo tento construir-me como continuidade, como certeza, sem realmente acreditar em qualquer coisa....
A imagem da fumaça de um cigarro que a dissipar-se aleatoriamente no vazio surge como a alegoria perfeita para a definição de todas as coisas que compõe a vida...
Um pouco ausente de tudo tento construir-me como continuidade, como certeza, sem realmente acreditar em qualquer coisa....
LITERATURA INGLESA XXI
“Alguém disse que sou o último americano a viver a tragédia européia”
E. Pound
Quando li pela primeira vez Os Cantos do grande poeta norte americano Ezra Pound ( 1885-1972) fui tomado por certa perplexidade e surpresa. Sua poética não se comparava a qualquer outra que até então eu conhecia. ´De fato, mesmo para um leitor contemporâneo, habituado com inovações lingüísticas, a técnica de composição fundada em colagens de fragmentos que incorporam até mesmo ideogramas chineses e citações em grego afigura-se como surpreendentemente original. Isso para não falar da densidade de seus versos e da experiência ontológica que procuram traduzir.
Na breve introdução que faz para sua tradução da obra aqui comentada, Jose Lino Grünewald assim apresenta esse poeta singular:
“Ezra Pound é- com todas as honras- o maior poeta pagão neste mundo “cristão e ocidental”. Mas não se trata apenas disso. Ele é também o maior poeta “participante” dentro deste mesmo mundo “cristão e ocidental”- o maior poeta anti capitalista. E, nisso, durante diversas parte de Os Cantos, sabe contrapor a naturalidade do comportamento, do estar pagão, à hipocrisia da civilização cristã. Dizia que seria legitimo substituir o Velho Testamento, como texto sagrado, pelas Metamorfoses, de Ovídio. Enfim, em matéria de criar, do fazer, constitui a sua obra um dos lances mais elevados da poesia do século atual.”
(José Lino Grünewald. Introdução in Ezra Pound. Os Cantos. RJ: Nova Fronteira, 1986, p. 12)
Pound inaugurou o modernismo na poesia de língua inglesa tendo participado de dois movimentos vanguardistas: O Imagismo e o Vorticismo. Influenciou autores como James Joyce, T.S. Eliot, Virginia Wolf e William Carlos Williams. Alem de poeta foi musico, ensaísta, teórico e um grande escritor de epistolas. Deixo aqui , na tradução de José Lino Grünewald um de seus Cantos, como exemplo de sua poética singular e, ainda nos dias de hoje, “revolucionária” :
E. Pound
Quando li pela primeira vez Os Cantos do grande poeta norte americano Ezra Pound ( 1885-1972) fui tomado por certa perplexidade e surpresa. Sua poética não se comparava a qualquer outra que até então eu conhecia. ´De fato, mesmo para um leitor contemporâneo, habituado com inovações lingüísticas, a técnica de composição fundada em colagens de fragmentos que incorporam até mesmo ideogramas chineses e citações em grego afigura-se como surpreendentemente original. Isso para não falar da densidade de seus versos e da experiência ontológica que procuram traduzir.
Na breve introdução que faz para sua tradução da obra aqui comentada, Jose Lino Grünewald assim apresenta esse poeta singular:
“Ezra Pound é- com todas as honras- o maior poeta pagão neste mundo “cristão e ocidental”. Mas não se trata apenas disso. Ele é também o maior poeta “participante” dentro deste mesmo mundo “cristão e ocidental”- o maior poeta anti capitalista. E, nisso, durante diversas parte de Os Cantos, sabe contrapor a naturalidade do comportamento, do estar pagão, à hipocrisia da civilização cristã. Dizia que seria legitimo substituir o Velho Testamento, como texto sagrado, pelas Metamorfoses, de Ovídio. Enfim, em matéria de criar, do fazer, constitui a sua obra um dos lances mais elevados da poesia do século atual.”
(José Lino Grünewald. Introdução in Ezra Pound. Os Cantos. RJ: Nova Fronteira, 1986, p. 12)
Pound inaugurou o modernismo na poesia de língua inglesa tendo participado de dois movimentos vanguardistas: O Imagismo e o Vorticismo. Influenciou autores como James Joyce, T.S. Eliot, Virginia Wolf e William Carlos Williams. Alem de poeta foi musico, ensaísta, teórico e um grande escritor de epistolas. Deixo aqui , na tradução de José Lino Grünewald um de seus Cantos, como exemplo de sua poética singular e, ainda nos dias de hoje, “revolucionária” :
CANTO 1
E pois com a nau no mar,
E pois com a nau no mar,
Assestamos a quilha contra as vagas
E frente ao mar divino içamos vela
No mastro sobre aquela nave escura,
Levamos as ovelhas a bordo e
Nossos corpos também no pranto aflito,
E ventos vindos pela popa nos
Impeliam adiante, velas cheias,
Por artifício de Circe,
A deusa benecomata.
Assim no barco assentados
Cana do leme sacudida em vento
Então com vela tensa, pelo mar
Fomos até o término do dia.
Sol indo ao sono, sombras sobre o oceano
Chegamos aos confins das águas mais profundas.
Até o território cimeriano,
E cidades povoadas envolvidas
Por um denso nevoeiro, inacessível
Ao cintilar dos raios do sol, nem a
O luzir das estrelas estendido,
Nem quando torna o olhar do firmamento
Noite, a mais negra sobre os homens fúnebres.
Refluindo o mar, chegamos ao local
Premeditado por Circe.
Aqui os ritos de Perímedes e Euríloco e
“De espada a cova cubital escavo
Vazamos libações a cada morto,
Primeiro o hidromel, depois o doce
Vinho mais água com farinha branca
E orei pela cabeça dos finados;
Em Ítaca, os melhores touros estéreis
Para imolar, cercada a pira de oferendas,
Um carneiro somente de Tirésias,
Carneiro negro e com guizos.
Sangue escuro escoou dentro do fosso,
Almas vindas do Erebus, mortos cadavéricos,
De noivas, jovens, velhos, que muito penaram;
Úmidas almas de recentes lágrimas,
Meigas moças, muitos homens
Esfolados por lanças cor de bronze,
Desperdício de guerra, e com armas em sangue
Eles em turba em torno de mim, a gritar,
Pálido, reclamei-lhes por mais bestas;
Massacraram os rebanhos, ovelhas sob lanças;
Entornei bálsamos, clamei aos deuses,
Plutão, o forte, e celebrei Prosérpina;
Desembainhada a diminuta espada,
Fiquei para afastar a fúria dos defuntos,
Até que ouvisse Tirésias.
Mas primeiro veio Elpenor, o amigo Elpenor,
Insepulto, jogado em terra extensa.
Membros que abandonamos em casa de Circe,
Sem agasalho ou choro no sepulcro,
Já porque outras labutas nos urgiam.
Triste espírito. E eu gritei em fala rápida:
‘‘Elpenor, como veio a esta praia escura ?
Veio a pé, mais veloz que os marinheiros?”
E ele, taciturno:
Azar e muito vinho. Adormeci
Na morada de Circe ao pé do fogo.
Descendo a escadaria distraído
Desabei sobre a pilastra,
Com o nervo da nuca estraçalhado,
O espírito procurou o Avernus.
Mas, ó Rei, me lembre, eu peço,
E sem agasalho ou choro,
Empilhe minhas armas numa tumba
A beira—mar com esta gravação:
Um homem sem fortuna e com um nome a vir.
E finque o remo que eu rodava entre os amigos
lá, ereto, sobre a tumba.”
Veio Anticléia, a quem eu, repelia,
E então Tirésias tebano,
Levando o seu bastão de ouro, viu —me
E falou primeiro:
“Uma segunda vez? Por quê? homem de maus fados,
Face aos mortos sem sol e este lugar sem gáudio?
Além do fosso! eu vou sorver o sangue
Para a profecia.”
E eu retrocedi,
E ele, vigor sangüíneo: “Odysseus
Deverás retornar por negros mares
Através dos rancores de Netuno,
Todos teus companheiros perderás.
Depois veio Anticléia.
Divus, repouse em paz, digo, Andreas Divus,
In ofiicina Wecheli, 1538, vindo de Homero.
E ele velejou entre Sereias ao
largo e além até Circe.
Venerandam,
Na frase em Creta, e áurea coroa, Afrodite,
Cypri munimenta sortita est, alegre, orichalchi, com dourados
Cintos, faixas nos seios, tu, com pálpebras de ébano
Levando o ramo de ouro de Argicida. Assim:
segunda-feira, 10 de março de 2008
MEDO...
Tenho medo
Do dia seguinte,
Da noite seguinte,
Das dúvidas seguintes,
Dos atos seguintes...
No incerto acaso
Que me faz matéria concreta
No existir do mundo.
Viver, é uma aposta,
Um vício,
Ou descaso de verdades
Que em solavancos e equivocos
Traduzem a presença do mundo
E do medo
Em magico movimnento
Do dia seguinte,
Da noite seguinte,
Das dúvidas seguintes,
Dos atos seguintes...
No incerto acaso
Que me faz matéria concreta
No existir do mundo.
Viver, é uma aposta,
Um vício,
Ou descaso de verdades
Que em solavancos e equivocos
Traduzem a presença do mundo
E do medo
Em magico movimnento
alegria e felicidade
O momento da alegria
E a certeza da felicidade
Brigam dentro do dia
No incerto do azul
Que conduz a noite.
Não há palavra
Que me diga
O inequívoco do mundo.
Tudo é duvida,
É ontem e hoje
Em um amanhã que se transforma.
Tudo é provisório estado
De mim mesmo
Em multiplas variações de eu
E liberdade de infinito.
E a certeza da felicidade
Brigam dentro do dia
No incerto do azul
Que conduz a noite.
Não há palavra
Que me diga
O inequívoco do mundo.
Tudo é duvida,
É ontem e hoje
Em um amanhã que se transforma.
Tudo é provisório estado
De mim mesmo
Em multiplas variações de eu
E liberdade de infinito.
sábado, 8 de março de 2008
O FEMININO E O MISTÉRIO DA CRIAÇÃO
A imagem que mais aproxima da experiência da mulher e do feminino, enquanto configuração simbólica e realidade cultural, da vivência da mulher concreta que nos povoa o dia a dia, é sem duvida a do "milagre" da criação enquanto um atributo essencialmente feminino. È em seu corpo que acontece o segredo da vida e da morte, em que a aventura de cada um de nós pelo mundo tem inicio. Este simples fato é suficiente para justificar a aura de sacralidade e impreciso respeito que paira em torno de sua condição humana.
A mulher encontra-se de muitas formas mais próxima da vivência e ritmos da natureza fisica e psíquica m seu se fazer no mundo. Mesmo que constatemos que não existe qualquer "tipo ideal" de mulher e que o feminino, em sua esência é multiplo e mutável no devir de ciclos e renascimentos.
A ontologia da mulher é, em poucas palavras, um acontecer de fertilidade e criatividade na meta razão da mais profunda experiência e consciência do ser da própria existência.
sexta-feira, 7 de março de 2008
FEMINILIDADE E VIDA
O tecer-se
De cada mulher
Guarda telúricos mistérios
No fazer-se e refazer-se
Plural do feminino.
Nos ciclos e movimentos
Da deusa lua
A vida surge
Como espiral
Reinventando o tempo
No perfume
De um abstrato Eros.
Costuram-se
Coisas, pessoas
E tempos
No mágico exercício
Do ser da feminilidade
Em corpo e alma,
Da fertilidade em carne
E ato.
De cada mulher
Guarda telúricos mistérios
No fazer-se e refazer-se
Plural do feminino.
Nos ciclos e movimentos
Da deusa lua
A vida surge
Como espiral
Reinventando o tempo
No perfume
De um abstrato Eros.
Costuram-se
Coisas, pessoas
E tempos
No mágico exercício
Do ser da feminilidade
Em corpo e alma,
Da fertilidade em carne
E ato.
TERRA MATER
É universalmente difundido o mitologema da Terra Mater ou Tellus Mater, que origina todos os seres vivos e inanimados. Enquanto Genetrix universal , a terra seria uma entidade viva e fecunda e tudo por ela produzido seria a um só tempo orgânico e anímico. Tudo o que encerra em suas entranhas seria comparável a embriões, a seres vivos em vias de “amadurecer”, de crescer e desenvolver-se. Imagem que influência profundamente, por exemplo a simbólica da alquimia ocidental.
Na coletânea de ensaios MITOS, SONHOS E MISTÉRIOS do consagrado historiador das religiões Mircea Eliade podemos encontrar um interessantíssimo ensaio sobre o tema cujo uma passagem gostaria de reproduzir aqui:
“Que os humanos tenham sido gerados pela terra é uma crença universalmente difundida: Só precisamos de folhear alguns livros escritos sobre este assunto, por exemplo “Mutter Erde” de Dietrich, ou “ Kind und Erdre” de Nyberg. Em numerosas línguas, o homem é chamado: “nascido da terra” (Canções russas, mitos dos Lapões e dos Estónios, etc.- Dietrich, pág. 14). Acredita-se que as crianças “vêem” do fundo da Terra, das cavernas, das grutas, das fendas, mas também dos mares, das nascentes, dos ribeiros. Sob a forma de lenda, de superstição ou simplesmente de metáfora, crenças similares sobreviveram ainda na Europa. Cada região e quase cada cidade e aldeia conhece um rochedo ou uma nascente que “traz” as crianças: são Kinderbrunnen, Kinderteiche, Bubenquelen ( Diretrich op cit, págs 19 e segs., 126 e segs)
Evitemos crer que estas superstições e estas metáforas são só explicações para crianças. A realidade é mais complexa. Até entre os Europeus dos nossos dias sobrevive o sentimento obscuro de uma solidariedade mística com a Terra natal. Não se trata de um sentimento profano de amor pela pátria ou pela província natal; não é a admiração pela paisagem familiar ou a veneração dos antepassados, enterrados desde há gerações à volta das igrejas das aldeias. Existe um aspecto diferente: a experiência mística da autoctonia, o sentimento profundo de que se emergiu do solo, que se foi gerado pela Terra da mesma forma que ela fez nascer, com uma fecundidade inesgotável, rochedos, ribeiros, árvores, flores. É neste sentido que se deve compreender a autoctonia: sentimo-nos pertencer à gente da terra, e ai está um sentimento de estrutura cósmica que ultrapassa em muito a solidariedade familiar e ancestral. Sabe-se que em numerosas culturas o pai desempenha um papel apagado: limita-se a legitimar a criança, reconhecê-la. Mater semper certa, pater incertus.
(Mircea Eliade. Mitos Sonhos e Mistérios.Portugal: Edições 70, s/d, p. 140)
Na coletânea de ensaios MITOS, SONHOS E MISTÉRIOS do consagrado historiador das religiões Mircea Eliade podemos encontrar um interessantíssimo ensaio sobre o tema cujo uma passagem gostaria de reproduzir aqui:
“Que os humanos tenham sido gerados pela terra é uma crença universalmente difundida: Só precisamos de folhear alguns livros escritos sobre este assunto, por exemplo “Mutter Erde” de Dietrich, ou “ Kind und Erdre” de Nyberg. Em numerosas línguas, o homem é chamado: “nascido da terra” (Canções russas, mitos dos Lapões e dos Estónios, etc.- Dietrich, pág. 14). Acredita-se que as crianças “vêem” do fundo da Terra, das cavernas, das grutas, das fendas, mas também dos mares, das nascentes, dos ribeiros. Sob a forma de lenda, de superstição ou simplesmente de metáfora, crenças similares sobreviveram ainda na Europa. Cada região e quase cada cidade e aldeia conhece um rochedo ou uma nascente que “traz” as crianças: são Kinderbrunnen, Kinderteiche, Bubenquelen ( Diretrich op cit, págs 19 e segs., 126 e segs)
Evitemos crer que estas superstições e estas metáforas são só explicações para crianças. A realidade é mais complexa. Até entre os Europeus dos nossos dias sobrevive o sentimento obscuro de uma solidariedade mística com a Terra natal. Não se trata de um sentimento profano de amor pela pátria ou pela província natal; não é a admiração pela paisagem familiar ou a veneração dos antepassados, enterrados desde há gerações à volta das igrejas das aldeias. Existe um aspecto diferente: a experiência mística da autoctonia, o sentimento profundo de que se emergiu do solo, que se foi gerado pela Terra da mesma forma que ela fez nascer, com uma fecundidade inesgotável, rochedos, ribeiros, árvores, flores. É neste sentido que se deve compreender a autoctonia: sentimo-nos pertencer à gente da terra, e ai está um sentimento de estrutura cósmica que ultrapassa em muito a solidariedade familiar e ancestral. Sabe-se que em numerosas culturas o pai desempenha um papel apagado: limita-se a legitimar a criança, reconhecê-la. Mater semper certa, pater incertus.
(Mircea Eliade. Mitos Sonhos e Mistérios.Portugal: Edições 70, s/d, p. 140)
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