quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O DIABO NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL


O Diabo no Imaginário Cristão do historiador Carlos Roberto F. Nogueira, oferece um erudito panorama sobre a História do Diabo que, diga-se de passagem, confunde-se com a História do próprio Cristianismo.
A singularidade da obra de F. Nogueira encontra-se no fato de acrescentar a sua análise uma reflexão sobre significativas transformações ocorridas no significado da imagem do diabo após o advento da modernidade.
Foi depois das Reformas Protestantes e Católicas que o medo a Satã atingiu seu auge e a personagem alcançou uma grandiosidade trágica conforme comprovam, por exemplo, o fenômeno das chamadas guerras de religião e da caça as bruxas. Parafraseando o autor, as reformas conferiram ao “adversário de cristo” o direito de existir em toda a sua potência convertendo-se no “senhor deste mundo”.
Após as ditas revoluções burguesas”, a didática do medo utilizada pelos missionários cristãos das mais variadas tendências foi substituída por um certo prazer estético com o mal ocasionando uma certa reabilitação do diabo.
Recorrendo a uma passagem da obra aqui comentada:

“ O romantismo transformará Satã no símbolo do espírito leve, de vida alegre, não contra uma lei moral, mas segundo uma lei natural, contrária à aversão por este mundo pregada pela Igreja. Satanás significa liberdade, progresso, ciência e vida. Tornar-se-á moda a identificação com o demônio, assim como procurar refletir no semblante o olhar, o Riso, a zombaria impressos nas feições tradicionais do Diabo. O Lúcifer de Lord Byron é sumamente grandioso, encerrado em seu próprio mistério, filho da própria experiência de rebeldia. Amigo do homem e inimigo de Deus, que estabeleceu a ordem como um tirano, condenando ao sofrimento, à humanidade e à morte todos aqueles que tinham por única culpa o desejo de conhecer, Lúcifer está ao lado do homem, uma vez que, como o homem, ele é condenado ao sofrimento.
O diabo passa a representar a rebelião contra a fé e a moral tradicional, representando a revolta do homem, mas com a aceitação do sofrimento porque este é uma fonte purificadora do espírito, uma nobreza moral, da qual só pode surgir a bem da humanidade. E o demoníaco torna-se o símbolo do romantismo: demoníaco como paixão, como terror do desconhecido, como descoberta do lado irracional existente no homem: a explosão da imaginação contra os obstáculos excessivos da consciência e das leis. Com o Fausto, de Goethe, a visão do demoníaco como o problema do mal, une-se ao problema do conhecimento e da vontade de dominar as forças da natureza, anunciando derradeiramente o fim do terror da fé absoluta da existência do Diabo, pois diz Mefistófeles no “Prólogo”: “Um homem bom, no seu próprio obscuro instinto, é sempre sabedor do reto caminho.”


(Carlos Roberto F Nogueira. O Diabo no imaginário Ocidental. SP: EDUSC,2000, p. 104 et seq)

Um exemplo contemporâneo deste novo lugar do diabo no imaginário ocidental é dado pela original banda de rock alternativo Marilyn Manson. Surgida nos anos 90 do último século, ela se tornou um dos mais controvertidos ícones do cenário musical internacional protagonizando inúmeros enfrentamentos e polêmicas com os setores conservadores da sociedade americana. A principal marca da banda é, entretanto, a paródia e seu satanismo personifica uma critica sarcástica aos valores tradicionais e ao próprio mundo do interterimento..

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

ADIVINHAÇÃO

Consulto a agenda
Dos meus afetos
Para saber
As horas de risos
E dias de vazio
Que me dirão a vida
No ano que corre.

Procuro saber
Os atos futuros
Previamente escritos
No já definido
Do meu presente.

O Amanhã,
Acredito,
Já existe dentro de mim
Mudo e absoluto.

O PARADOXO DA CONTEMPORANEIDADE

Uma das características da contemporaneidade é o fato de que a legitimidade do homem e do mundo já não é exclusivamente estabelecida pelo artifício da experiência de verdade. A cognição não mais se orienta para o verdadeiro ou para a identidade simples entre os discursos e a realidade.
O pensamento pode hoje em dia ser concebido como experiência da virtualidade ontológica que nos define o mundo e as coisas, o grande teatro da atividade humana, em seu fluir ilimitado entre infinitas possibilidades de sentido e significado.Em função disso, não seria errôneo afirmar que a contemporaneidade coexiste com a modernidade e a supera tanto quanto a perpetua.

domingo, 13 de janeiro de 2008

HISTÓRIA

A lembrança
é como um eco
que diz algo mais
que a voz.

Pois aquilo
que dentro de nós
sobrevive distante
vive da vida
de imaginações.

Contemplar o passado
é reiventá-lo...
realiza-lo em sonhos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

ANIMA

Procuro nos ermos porões d’ alma
O secreto nome
De uma misteriosa mulher.

Mas nada lá existe
Além do ermo deserto
Da soma de todos os tempos.

Entre a perplexidade
E a necessidade,
Vislumbro a virgindade
De um sonho esquecido.
Quase esqueço
a face desconhecida
que me inspira
as margens do mundo.

INDIVIDUALIDADE

Utopias esmagam sonhos
No mundo aberto
A minha volta.

Volto ao centro
De mim mesmo
Sem a ilusão de respostas
Para viver sereno
Na ilha d’ alma.

Desfila sem rumo
O tudo das coisas
Em cacafônica festa
De fatos e noticias
Esquecidas.

Na orgia de rotinas
Sofro o esforço de ser
Em vida
Apenas eu mesmo,
Mas me perco
Na confusão dos outros
A cada passo de rosto.

A POETICA DO POS MODERNISMO

POÉTICA DO POS MODERNISMO: HISTÓRIA, TEORIA E FICÇÃO de Linda Hutcheon, professora de inglês da Universidade de Toronto, Canadá, é uma obra interessante para a avaliação do impacto e significado do pós modernismo enquanto teoria e prática cultural contemporânea.
Parafraseando a autora, pode-se dizer que uma poética pós moderna limita-se a sua própria autoconsciência para estabelecer, em relação a modernidade, a contradição metalingüística de estar dentro e fora, de ser cúmplice e distante, de registrar e contestar suas próprias formulações essencialmente provisórias. Seu objetivo é problematizar as implicações da arte e da teoria enquanto processos de produção de significados e sentidos. Trata-se assim tanto de uma poética quanto de uma problemática.
Tal poética pode, portanto, ser definida como a ultrapassagem das margens e fronteiras que definem as convenções sociais e artísticas através do paradoxo e do paródico. Neste sentido, a ficção centrada na subjetividade do autor, em sua originalidade, dão lugar a citação, a seleção e justaposição de imagens diversas e pré existentes, ou ainda a uma descentralização ilimitada do significado de toda representação.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

DEVIR

Pudesse hoje
Viver apenas
Dos melhores dias
Do meu passado,
Não teria da vida
Nada mais que o vento,
Que o impertinente sentimento
Da falta de realidade
Que decora todas as coisas e rostos.
Tudo é breve
No acontecer do mundo,
no quase existir
de nossas vividas verdades.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

ANT MUNDO

Sei apenas
O absoluto grito
Da tarde em migalhas.

Em meu coração
O mundo se desfaz
Na infantil memória
De antigos futuros.

Imerso em natureza
Descrevo,
Esqueço o mundo
Até o limite de viver
Livre e em sopro de embriaguez

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

LITERATURA INGLESA XVIII


Thomas Stearns Eliot ( 1888-1965) nasceu em St. Louis, Missouri, E.U.A. Descendente de imigrantes ingleses vinculados a tradição da Igreja Unitária, adotou em 1927 a cidadania inglesa.
Não é nada fácil definir este dramaturgo, crítico e, acima de tudo, poeta, que traduz em seus versos a tradição viva da poesia universal e, ao mesmo tempo, permanece profundamente moderno.
Sua poética é definitivamente, ao mesmo tempo, metafísica, fragmentária, ambivalente e musical, combinando diversas matrizes composicionais, na síntese de um sentimento ontológico de isolamento e incomunicabilidade diante da fenomenologia do mundo. Nenhum poeta foi mais “clássico” do que ele em sua modernidade.
Para dizer a grandiosidade de sua poética, valho-me aqui muito limitadamente de um insuficiente fragmento da tradução de Ivan Junqueira:

OS HOMENS OCOS ( fragmento)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como oo vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Forma sem forma, sombra sem cor,
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam- se o fazem- não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens espalhados

(T S Eliot. Poesia; tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. RJ: Nova Fronteira, 1981)