O Diabo no Imaginário Cristão do historiador Carlos Roberto F. Nogueira, oferece um erudito panorama sobre a História do Diabo que, diga-se de passagem, confunde-se com a História do próprio Cristianismo.
A singularidade da obra de F. Nogueira encontra-se no fato de acrescentar a sua análise uma reflexão sobre significativas transformações ocorridas no significado da imagem do diabo após o advento da modernidade.
Foi depois das Reformas Protestantes e Católicas que o medo a Satã atingiu seu auge e a personagem alcançou uma grandiosidade trágica conforme comprovam, por exemplo, o fenômeno das chamadas guerras de religião e da caça as bruxas. Parafraseando o autor, as reformas conferiram ao “adversário de cristo” o direito de existir em toda a sua potência convertendo-se no “senhor deste mundo”.
Após as ditas revoluções burguesas”, a didática do medo utilizada pelos missionários cristãos das mais variadas tendências foi substituída por um certo prazer estético com o mal ocasionando uma certa reabilitação do diabo.
Recorrendo a uma passagem da obra aqui comentada:
“ O romantismo transformará Satã no símbolo do espírito leve, de vida alegre, não contra uma lei moral, mas segundo uma lei natural, contrária à aversão por este mundo pregada pela Igreja. Satanás significa liberdade, progresso, ciência e vida. Tornar-se-á moda a identificação com o demônio, assim como procurar refletir no semblante o olhar, o Riso, a zombaria impressos nas feições tradicionais do Diabo. O Lúcifer de Lord Byron é sumamente grandioso, encerrado em seu próprio mistério, filho da própria experiência de rebeldia. Amigo do homem e inimigo de Deus, que estabeleceu a ordem como um tirano, condenando ao sofrimento, à humanidade e à morte todos aqueles que tinham por única culpa o desejo de conhecer, Lúcifer está ao lado do homem, uma vez que, como o homem, ele é condenado ao sofrimento.
O diabo passa a representar a rebelião contra a fé e a moral tradicional, representando a revolta do homem, mas com a aceitação do sofrimento porque este é uma fonte purificadora do espírito, uma nobreza moral, da qual só pode surgir a bem da humanidade. E o demoníaco torna-se o símbolo do romantismo: demoníaco como paixão, como terror do desconhecido, como descoberta do lado irracional existente no homem: a explosão da imaginação contra os obstáculos excessivos da consciência e das leis. Com o Fausto, de Goethe, a visão do demoníaco como o problema do mal, une-se ao problema do conhecimento e da vontade de dominar as forças da natureza, anunciando derradeiramente o fim do terror da fé absoluta da existência do Diabo, pois diz Mefistófeles no “Prólogo”: “Um homem bom, no seu próprio obscuro instinto, é sempre sabedor do reto caminho.”
A singularidade da obra de F. Nogueira encontra-se no fato de acrescentar a sua análise uma reflexão sobre significativas transformações ocorridas no significado da imagem do diabo após o advento da modernidade.
Foi depois das Reformas Protestantes e Católicas que o medo a Satã atingiu seu auge e a personagem alcançou uma grandiosidade trágica conforme comprovam, por exemplo, o fenômeno das chamadas guerras de religião e da caça as bruxas. Parafraseando o autor, as reformas conferiram ao “adversário de cristo” o direito de existir em toda a sua potência convertendo-se no “senhor deste mundo”.
Após as ditas revoluções burguesas”, a didática do medo utilizada pelos missionários cristãos das mais variadas tendências foi substituída por um certo prazer estético com o mal ocasionando uma certa reabilitação do diabo.
Recorrendo a uma passagem da obra aqui comentada:
“ O romantismo transformará Satã no símbolo do espírito leve, de vida alegre, não contra uma lei moral, mas segundo uma lei natural, contrária à aversão por este mundo pregada pela Igreja. Satanás significa liberdade, progresso, ciência e vida. Tornar-se-á moda a identificação com o demônio, assim como procurar refletir no semblante o olhar, o Riso, a zombaria impressos nas feições tradicionais do Diabo. O Lúcifer de Lord Byron é sumamente grandioso, encerrado em seu próprio mistério, filho da própria experiência de rebeldia. Amigo do homem e inimigo de Deus, que estabeleceu a ordem como um tirano, condenando ao sofrimento, à humanidade e à morte todos aqueles que tinham por única culpa o desejo de conhecer, Lúcifer está ao lado do homem, uma vez que, como o homem, ele é condenado ao sofrimento.
O diabo passa a representar a rebelião contra a fé e a moral tradicional, representando a revolta do homem, mas com a aceitação do sofrimento porque este é uma fonte purificadora do espírito, uma nobreza moral, da qual só pode surgir a bem da humanidade. E o demoníaco torna-se o símbolo do romantismo: demoníaco como paixão, como terror do desconhecido, como descoberta do lado irracional existente no homem: a explosão da imaginação contra os obstáculos excessivos da consciência e das leis. Com o Fausto, de Goethe, a visão do demoníaco como o problema do mal, une-se ao problema do conhecimento e da vontade de dominar as forças da natureza, anunciando derradeiramente o fim do terror da fé absoluta da existência do Diabo, pois diz Mefistófeles no “Prólogo”: “Um homem bom, no seu próprio obscuro instinto, é sempre sabedor do reto caminho.”
(Carlos Roberto F Nogueira. O Diabo no imaginário Ocidental. SP: EDUSC,2000, p. 104 et seq)
Um exemplo contemporâneo deste novo lugar do diabo no imaginário ocidental é dado pela original banda de rock alternativo Marilyn Manson. Surgida nos anos 90 do último século, ela se tornou um dos mais controvertidos ícones do cenário musical internacional protagonizando inúmeros enfrentamentos e polêmicas com os setores conservadores da sociedade americana. A principal marca da banda é, entretanto, a paródia e seu satanismo personifica uma critica sarcástica aos valores tradicionais e ao próprio mundo do interterimento..