Busco fugazes belezas
De mero cotidiano
E brandas respostas
Para o
Exercício da vida.
Busco a fórmula mágica
De viver imerso
Em todas as coisas
No paradoxo da manhã aberta.
Busco tudo aquilo que se perde
Na inconstância e fluir da existência.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XV
A fala e o corpo da chuva lá fora me comunicam a serenidade máxima de todas as coisas. Por alguns imprecisos momentos tudo se faz o encontro da terra e do céu no fluir gratuito da natureza, na serenidade de não pensar em nada rendido a inércia da existência. Preguiças metafísicas roubam-me os atos no vazio de projetos, sonhos e sombras. A própria vida não vai além do cândido silêncio das horas cinzas e chuvosas. Absolutamente nada mais importa, nada possui realidade ou valor. Viver é a única meta possível no involuntário exercício de ser em meio ao deserto fenomenológico das apreensões do mundo.
SAMUEL JOHNSON: PREFÁCIO A SHAKESPEARE
Publicado em 1765, o Prefácio a Shakespeare do crítico e dramaturgo Samuel Johnson ( 1709-1784), apesar de polêmico, permanece sendo uma referência para uma leitura e avaliação do universo literário Shakespeariano.
Com o declarado propósito de examinar sob a perspectiva do tempo as virtudes e os defeitos da obra do grande bardo, Johnson recusa o convencional caminho da apologia e afirmação fácil do inegável talento de Shakeapeare. Sua preocupação maior é com a afirmação de uma universalidade ética através da arte, com a qualidade moral de uma obra, coisa que ele deixa bem claro ao considerar as deficiências e limites do autor, que atribui em parte a rudeza do tempo e da sociedade para a qual escrevia e, em parte a displicência de sua escrita.
Independentemente de concordarmos com Johnson, sua critica ainda nos dias de hoje é incontornável. Seguem dois significativos fragmentos da comentada obra:
"A Inglaterra, à época de Shakespeare, ainda estava lutando para sair da barbárie. A filologia tinha sido transplantada para cá no reinado de Henrique VIII e as línguas eruditas haviam sido cultivadas com êxito por Lilly, Linacer e More; por Pole, Cheke e Gardiner e depois por Smith, Clerk, Haddon e Ascham. O grego era agora ensinado aos meninos nas principais escolas, e quem aliviava o requinte à instrução lia com grande empenho os poetas italianos e espanhóis. Mas a literatura ainda estava restrita aos eruditos notórios ou a homens e mulheres de alta posição. O povo era rude e ignorante, e saber ler e escrever era uma qualidade ainda valorizada Por sua escassez.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p.54)
“ Shakespeare, tanto quanto qualidades, possui defeitos, e defeitos suficientes para obscurecer e superar qualquer outro mérito. Eu os explorei conforme me vinha a mente, sem malícia invejosa ou veneração cega. Nenhum assunto pode ser discutido de maneira mais inofensiva do que as aspirações de um poeta morto à celebridade, e não merece atenção o fanatismo que eleva a inventividade acima da verdade.
Seu primeiro defeito é aquele a qual pode ser imputado a maioria dos males nos livros e nos homens. Ele sacrifica a virtude à conveniência, e sua preocupação em agradar é tão maior do que em instruir que ele parece escrever sem nenhum objetivo moral. De suas obras, sem dúvida, pode-se compor uma ordem de deveres sociais, pois quem raciocina com sensatez necessariamente pensa segundo princípios morais; mas seus preconceitos e axiomas brotam casualmente; ele não distribui com justiça o bem e o mal nem cuida de mostrar no virtuoso a censura ao perverso; conduz seus personagens sem nenhum outro cuidado, deixando seus exemplos agirem ao acaso. Esse defeito a barbárie da sua época não pode justificar, pois o dever de um escritor é sempre tornar o mundo melhor, e a justiça é uma virtude independente do tempo e do lugar.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p. 45)
Com o declarado propósito de examinar sob a perspectiva do tempo as virtudes e os defeitos da obra do grande bardo, Johnson recusa o convencional caminho da apologia e afirmação fácil do inegável talento de Shakeapeare. Sua preocupação maior é com a afirmação de uma universalidade ética através da arte, com a qualidade moral de uma obra, coisa que ele deixa bem claro ao considerar as deficiências e limites do autor, que atribui em parte a rudeza do tempo e da sociedade para a qual escrevia e, em parte a displicência de sua escrita.
Independentemente de concordarmos com Johnson, sua critica ainda nos dias de hoje é incontornável. Seguem dois significativos fragmentos da comentada obra:
"A Inglaterra, à época de Shakespeare, ainda estava lutando para sair da barbárie. A filologia tinha sido transplantada para cá no reinado de Henrique VIII e as línguas eruditas haviam sido cultivadas com êxito por Lilly, Linacer e More; por Pole, Cheke e Gardiner e depois por Smith, Clerk, Haddon e Ascham. O grego era agora ensinado aos meninos nas principais escolas, e quem aliviava o requinte à instrução lia com grande empenho os poetas italianos e espanhóis. Mas a literatura ainda estava restrita aos eruditos notórios ou a homens e mulheres de alta posição. O povo era rude e ignorante, e saber ler e escrever era uma qualidade ainda valorizada Por sua escassez.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p.54)
“ Shakespeare, tanto quanto qualidades, possui defeitos, e defeitos suficientes para obscurecer e superar qualquer outro mérito. Eu os explorei conforme me vinha a mente, sem malícia invejosa ou veneração cega. Nenhum assunto pode ser discutido de maneira mais inofensiva do que as aspirações de um poeta morto à celebridade, e não merece atenção o fanatismo que eleva a inventividade acima da verdade.
Seu primeiro defeito é aquele a qual pode ser imputado a maioria dos males nos livros e nos homens. Ele sacrifica a virtude à conveniência, e sua preocupação em agradar é tão maior do que em instruir que ele parece escrever sem nenhum objetivo moral. De suas obras, sem dúvida, pode-se compor uma ordem de deveres sociais, pois quem raciocina com sensatez necessariamente pensa segundo princípios morais; mas seus preconceitos e axiomas brotam casualmente; ele não distribui com justiça o bem e o mal nem cuida de mostrar no virtuoso a censura ao perverso; conduz seus personagens sem nenhum outro cuidado, deixando seus exemplos agirem ao acaso. Esse defeito a barbárie da sua época não pode justificar, pois o dever de um escritor é sempre tornar o mundo melhor, e a justiça é uma virtude independente do tempo e do lugar.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p. 45)
DESTINY
Em algum ponto
Do caminho
Perdi o sonho
De qualquer amanhã.
Calei-me na certeza única
Do existir presente
Vestindo da noite
O manto.
Do you need help?
Pergunta o vento do norte
Enquanto as Nornas
Escrevem-me destinos.
Do caminho
Perdi o sonho
De qualquer amanhã.
Calei-me na certeza única
Do existir presente
Vestindo da noite
O manto.
Do you need help?
Pergunta o vento do norte
Enquanto as Nornas
Escrevem-me destinos.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
POEMA INCREDULO
Nunca fui
Estúpido e crédulo
Devoto
Das tolas certezas
Do céu e do mundo.
Sou filho impróprio
Do absurdo
A escrever paradoxos
Nas horas contínuas
E infinitas
Que aos poucos
Me desfazem e apagam
da infinitude do humano.
Estúpido e crédulo
Devoto
Das tolas certezas
Do céu e do mundo.
Sou filho impróprio
Do absurdo
A escrever paradoxos
Nas horas contínuas
E infinitas
Que aos poucos
Me desfazem e apagam
da infinitude do humano.
WILLIAM SHAKESPEARE: SONETOS
Muito pouco se pode falar com segurança sobre a difusão do soneto na Inglaterra elisabetana, quando começou ou quanto tempo durou, pode-se apenas atestar o quanto ele contribuiu para enriquecer a lírica inglesa tendo, aliais, surgido antes mesmo da dinastia Tudor e sob o reinado de Henrique VIII através da pena de um certo Wyatt.
Não é menor a obscuridade que envolvem os sonetos escritos por Shakespeare que, aliais, foram publicados originalmente em 1609 por Thomas Thorpe a revelia do próprio autor.
O que, entretanto, realmente importa aqui é sabor mágico e atemporal destes versos que apenas reafirmam a originalidade e brilho do velho bardo mesmo que na “pseudo-tradução” competente de Ivo Barroso:
“Quando observo que tudo quanto cresce
Desfruta a perfeição de um só momento,
Que neste palco imenso se obedece
A secreta influição do firmamento;
Quando percebo que ao homem, como à planta,
Esmaga o mesmo céu que lhe deu glória,
Que se ergue em seiva e, no ápice, aquebranta
E um dia enfim se apaga da memória:
Esse conceito da inconstante sina
Mais jovem faz-se ao meu olhar agora,
Quando o Tempo se alia com a Ruína
Para tornar em noite a tua aurora.
E crua guerra contra o Tempo enfrento,
Pois tudo que te toma eu te acrescento.”
“Tempo voraz, ao leão cegas as garras
E à terra fazes devorar seus genes;
Ao tigre as presas hórridas desgarras
E ardes no próprio sangue a eterna fênix.
Pelo caminho vão teus pés ligeiros
Alegres, tristes estações deixando;
Impões-te ao mundo e aos gozos passageiros,
Mas proíbo-te um crime mais nefando:
De meu amor não vinques o semblante
Nem nele imprimas o teu traço duro.
Oh! Permite que intacto siga avante
Como padrão do belo no futuro.
Ou antes, velho Tempo, sê perverso:
Pois jovem sempre há-de o manter meu verso.”
(William Shakespeare: 24 Sonetos./ Tradução de Ivo Barroso. RJ: Nova fronteira, s/d. )
Não é menor a obscuridade que envolvem os sonetos escritos por Shakespeare que, aliais, foram publicados originalmente em 1609 por Thomas Thorpe a revelia do próprio autor.
O que, entretanto, realmente importa aqui é sabor mágico e atemporal destes versos que apenas reafirmam a originalidade e brilho do velho bardo mesmo que na “pseudo-tradução” competente de Ivo Barroso:
“Quando observo que tudo quanto cresce
Desfruta a perfeição de um só momento,
Que neste palco imenso se obedece
A secreta influição do firmamento;
Quando percebo que ao homem, como à planta,
Esmaga o mesmo céu que lhe deu glória,
Que se ergue em seiva e, no ápice, aquebranta
E um dia enfim se apaga da memória:
Esse conceito da inconstante sina
Mais jovem faz-se ao meu olhar agora,
Quando o Tempo se alia com a Ruína
Para tornar em noite a tua aurora.
E crua guerra contra o Tempo enfrento,
Pois tudo que te toma eu te acrescento.”
“Tempo voraz, ao leão cegas as garras
E à terra fazes devorar seus genes;
Ao tigre as presas hórridas desgarras
E ardes no próprio sangue a eterna fênix.
Pelo caminho vão teus pés ligeiros
Alegres, tristes estações deixando;
Impões-te ao mundo e aos gozos passageiros,
Mas proíbo-te um crime mais nefando:
De meu amor não vinques o semblante
Nem nele imprimas o teu traço duro.
Oh! Permite que intacto siga avante
Como padrão do belo no futuro.
Ou antes, velho Tempo, sê perverso:
Pois jovem sempre há-de o manter meu verso.”
(William Shakespeare: 24 Sonetos./ Tradução de Ivo Barroso. RJ: Nova fronteira, s/d. )
DELÍRIO
Percorro a vasta
Iimaginação
De um pós pensamento
Na quase palavra
Das emoções grávidas
De abismos.
Afogueado e febril
Invento mundos
Dentro do mundo
Contemplando a ígnea alma
De múltiplas irrealidades.
Sinto o frio do absurdo
Em perene consciência
De tudo que explode
Além de todo absoluto.
Iimaginação
De um pós pensamento
Na quase palavra
Das emoções grávidas
De abismos.
Afogueado e febril
Invento mundos
Dentro do mundo
Contemplando a ígnea alma
De múltiplas irrealidades.
Sinto o frio do absurdo
Em perene consciência
De tudo que explode
Além de todo absoluto.
A CONSCIÊNCIA E O CAOS-MUNDO
O que chamamos de ego ou complexo de eu é a sincronização de processos e conteúdos diversos, uma multiplicidade que forma uma frágil unidade através do fenômeno da consciência. Alem dele existe a vastidão da psique coletiva que podemos provisoriamente definir como algo informe onde todos os conteúdos e imagens se fundem, onde não existe qualquer contradição interna e tudo é a serenidade pertubadora de um indefinível vazio.
Através do confronto entre a consciência e este inconcebível inconsciente no jogo mágico interior/exterior que define a psique individual que, mediante o intelecto, introduz-se como imagem e realidade psíquica a natureza inconciliável dos opostos como essência de toda percepção e experiência de vida e existência. Noções como “ordem” ou “cosmos”, não passa de uma imagem da psique na qual quase não existimos na paradoxal totalidade dos múltiplos rostos que nos compõe.
Toda consciência das coisas dentro e fora de nós é o fluir de uma ilusão verdadeira em direção a si mesma.
Através do confronto entre a consciência e este inconcebível inconsciente no jogo mágico interior/exterior que define a psique individual que, mediante o intelecto, introduz-se como imagem e realidade psíquica a natureza inconciliável dos opostos como essência de toda percepção e experiência de vida e existência. Noções como “ordem” ou “cosmos”, não passa de uma imagem da psique na qual quase não existimos na paradoxal totalidade dos múltiplos rostos que nos compõe.
Toda consciência das coisas dentro e fora de nós é o fluir de uma ilusão verdadeira em direção a si mesma.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
REVELAÇÃO
Procuro a alegria
De uma morna manhã
De outono
Que anuncie
A realidade de um novo dia,
De uma festa de vida,
Na realização possível
De mim mesmo,
Onde eu reencontre
O menino que fui
E aprenda a beleza simples
De mil antiguidades
Até o cair
Da definitiva noite
Do meu rosto.
De uma morna manhã
De outono
Que anuncie
A realidade de um novo dia,
De uma festa de vida,
Na realização possível
De mim mesmo,
Onde eu reencontre
O menino que fui
E aprenda a beleza simples
De mil antiguidades
Até o cair
Da definitiva noite
Do meu rosto.
C.G. JUNG E O PARADOXO DA CONSCIÊNCIA
O nome de Carl Gustav Jung, quando lembrado fora dos círculos da psicologia analítica, não raramente é vinculado a suas formulações em torno do inconsciente coletivon e seus interesse pelas imagens e simbolos religiosos. Justamente por isso, é pertinente ressaltar que que sua psicologia tem por centro uma outra questão: o processo de individuação e, consequentemente, a fenomenologia da consciência e sua estreita relação com o inconsciente.
Segundo Jung, existe um estado de profunda inter dependência entre a consciência e o inconsciênte cujo carater é compensatório. Longe dos ingênuos sonhos do racionalismo moderno, a consciência nasce do inconsciente e se expande na medida em que integra seus conteúdos no longo aprendizado de sua matriz irracional.
Não é, portanto, qualquer opção racional ou moral de vida ou imagem de mundo que nos define como seres humanos no curto tempo e espaço de nossas existências; mas o confronto criativo com nossas fantasias e emoções mais intensas, que nos permite apreender e aprender o que somos na paisagem mágica do estar-presente nos dias.
O inconsciente ( psique objetiva) nos pensa na medida em que o pensamos afirmando-se como fonte de toda genuina cultura, de toda experiência possível do humano e do trans-humano.
Segundo Jung, existe um estado de profunda inter dependência entre a consciência e o inconsciênte cujo carater é compensatório. Longe dos ingênuos sonhos do racionalismo moderno, a consciência nasce do inconsciente e se expande na medida em que integra seus conteúdos no longo aprendizado de sua matriz irracional.
Não é, portanto, qualquer opção racional ou moral de vida ou imagem de mundo que nos define como seres humanos no curto tempo e espaço de nossas existências; mas o confronto criativo com nossas fantasias e emoções mais intensas, que nos permite apreender e aprender o que somos na paisagem mágica do estar-presente nos dias.
O inconsciente ( psique objetiva) nos pensa na medida em que o pensamos afirmando-se como fonte de toda genuina cultura, de toda experiência possível do humano e do trans-humano.
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