Pelo menos não hoje,
amanhã, ou mesmo depois do ano novo.
Ainda seguiremos, por muito tempo,
oprimidos e feridos por nossas impotências.
Seguiremos destruindo o planeta
em nome do desenvolvimento das forças produtivas,
do progresso de nossa desprezível civilização.
Mas, apesar disso,
há muito para sonhar
contra todos os horrores que sustentam o tempo e o mundo no qual vivemos a contra gosto.
Nossa vida , de fato, não irá mudar.
Já sabemos.
Conspiram contra nós os especialistas,
os rentistas,
o bom senso burguês
e a sempre eficaz truculência policial .
Talvez o mundo atual
nos devore amanhã com sua brutal violência
e outros sigam depois de nós
em nova e desesperada resistência.
Mas a mudança que nos embriaga o corpo e os pensamentos
não precisa de tempo, conspirações
ou esperança,
para se tornar um acontecimento.
Ela é desde sempre prescentida em sua iminência
e antecipada por todos os seres vivos.
Ela é a própria natureza que sangra,
que se transforma,
na contramão do humano,
e se confunde com todas as coisas incriadas e inauditas
que extrapolam o tempo e os fatos.
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