segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O IMPOSSÍVEL DA VIDA

A vida
É,  certamente,
Qualquer outro estado
Da existência,
Que nos escapa na sucessão  dos dias.
Algo que não cabe no automatismo dos gestos
Ou na impessoalidade das palavras,
Que foge ao cotidiano dos nossos atos,
E até mesmo aos pensamentos mais íntimos.
A vida é  apenas um sonho distante
Ecoando na precariedade do possível 
Que define os limites coletivos
De nossa breve existência. 


domingo, 30 de agosto de 2020

SOBRE AS PALAVRAS

Tenho apenas palavras para lidar com a vida.
Mas todo dizer dos signos e símbolos não  traduzem sentimentos ou pensamentos. Apenas resistram seu próprio jogo que, de algum modo, é  uma forma de silêncio, um quase desespero, que me permite fugir de mim mesmo.

sábado, 29 de agosto de 2020

O MAR

O que é  o mar além de um estranho deserto fluido
Onde nos perdemos da terra firme?
O que é  o mar além de uma imensidão incerta e devoradora,
Onde todas as certezas se afogam?
Onde tudo é  quase impossível,
É a realidade jaz submersa?

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

POESIA E GEO FILOSOFIA



" É  difícil compreender como o limite morde imediatamente o infinito, o ilimitado.  E todavia, não  é  a coisa limitada que impõe  um limite ao infinito,  é  o limite que torna possível uma coisa limitada."
Deleuze & Guattari um O que é  a Filosofia

Uma política da alegria e dos corpos, como nos inspira Espinosa, pressupõe  rupturas assignificantes, uma quebra das referências vigentes,  dos assujeitantes, que, através dos dispositivos de saber e poder, nos prendem no aquário do tempo presente .
Uma política da alegria pressupõe  a embriaguez do riso e do assombro, que nos lança  ao movente,  a inumana potência dos acontecimentos, das intensidades, linhas e planos, através dos múltiplos que definem a terra como território desterritoriarizante contra o sedentarismo de nossos hábitos, do dito e do visível que nos levam a aventura da caosmose incessante .

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

QUEM SOMOS NÓS?

Os atos cotidianos de fala definem em mim uma terceira pessoa,
Uma paisagem dentro do meu rosto,
Que inibe o resto do corpo,
No dizer me que aprisiona ao mundo,
Ao tempo e ao absurdo de mim mesmo,
Que se inventa no encontro com os outros.
Afinal, quem somos nós  na tempestade do mundo?

EXISTO

Existo incerto 
Entre o ontem e o amanhã,
Existo exausto no presente
Que me escapa sempre.

Existo na inquietude que me transborda e define 
Entre o nascimento e a morte.

Existo onde não  tenho lugar,
Onde persiste o tempo,
Onde não há  um lar.

Existo contra mim mesmo.

sábado, 22 de agosto de 2020

CAOS , CORPO E LIBERDADE

Sou um corpo feito de mundos, 
Um segundo de natureza
Enterrado na vida,
Na beleza do nada
Que nos faz vir a ser.

Nenhum princípio me define,
Tudo persiste,
Através  de mim
Entre o caos e a liberdade
De provisoriamente  existir.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

PENSAMENTO E EXISTÊNCIA

Como conter ou 
cometer
Um ato
De existência?
Como saber o corpo
Em inerte movimento
De pura imanência?
Como soltar sobre  si mesmo?
Eis a mais radical questão 
Do pensamento que se faz afeto
E imanência,
Que cria existência .

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A RAZÃO DOS CEGOS

O corpo vê;
Mas o pensamento enxerga,
Inventa contra intensidade da imagem,
A prisão  das significações .

Através  do pensamento
Somos todos cegos
Na escuridão  da verdade
E na miséria das convicções. 

terça-feira, 4 de agosto de 2020

O FILME MELANCOLIA DE LARS VON TRIER COMO ALEGORIA DO NOSSO IMEDIATO TEMPO PRESENTE

O aclamado filme Melancolia do diretor Lars von Trier, é  um lançamento de 2011, mas nunca nos pareceu tão  próximo de nossa experiência presente em rotinas pandemicas. 
Afinal, o filme afirma uma saída trágica,  a potência criadora da melancolia, diante de um cenário catastrófico,  no caso o desaparecimento da humanidade diante de um evento cósmico.
Na condição  trágica, o pensamento deixa de ser um dispositivo de poder  saber, uma forma de assujeitamento ao domínio logocentrico domesticador de um mundo dito possível e desejável apesar de todo caos que alimenta a manutenção  de uma ordem disfuncional, nos confrontando com o intempestivo e o inesperado do impossível.
Evocando Nietzsche, em sua dimensão  trágica, o pensar se reinventa em sua condição  extra moral contra as artimanhas do intelecto, na contramão  dos jogos de confissão  e dizer verdadeiro, na afirmação  de valores que definem o sedentarismo do campo social.
É  sobre isso que o filme em questão,  um drama filosófico e existencial, sobre a fragilidade de nossa condição  humana, revela -se de alguma maneira, intenso no dizer de nós mesmos.
O sentimento de desamparo, de fragilidade, nos transmita no inumano dentro de nós,  nos obriga a sentir e criar, a saber corporalmente a vida, no além de nossas abstratas e desmedidas estratégias épicas egoicas de mera sobrevivência possível é impostas pela consciência moderna de mundo.
Nosso saber melancolia, limites e fragilidades, nos desafiam através  do trágico devir de nós mesmos, a inventar outros mundos contra as grades do imediato do tempo presente na afirmação concreta e transgressora de nossa finitude.



 

sábado, 1 de agosto de 2020

SOBRE A PALAVRA

Toda palavra é  um agenciamento coletivo irredutível ao sujeito do enunciado, assim como todo agenciamento é  simbiose no esforço de composição  dos corpos. Corpos que, por sua vez, podem ser físicos, psíquicos,  verbais, sociais,etc. 
Todo dizer é  habitado por multidões. 
Através da palavra todas as fronteiras do viver e do virtual (potência), são  superadas. 
A palavra é  uma forma de estar no meio de tudo que prolifera em devir, como quem habita uma canção.