segunda-feira, 12 de junho de 2017

JAQUES DERRIDA E A PRESENÇA DO PRESENTE

Em uma entrevista intitulada “Outrem é secreto porque é outro”, concedida a Antoine Spire, publicada em  2000 por  Le Monde de L’ education e reunida a coletânea Papel Maquina, Jaques Derrida fala sobre a influencia de Hussel em seu pensamento e nos oferece uma reflexão bastante interessante sobre o tempo:

“ Os grandes textos de Husserl sobre o tempo atribuem uma forma absolutamente privilegiada  ao que se chama de ‘presente vivo’. Este é o sentido, o bom senso mesmo no que aparentemente tem de mais irrefutável : a forma original da experiência é a apresentação do presente; não deixamos nunca o presente, que nunca se deixa,  que nunca deixa nada de vivo. A ciência fenomenológica absoluta,  a autoridade inegável do agora no presente vivo, é justamente aquilo que tematizaram, com estilos e segundo estratégias diferentes, todos os grandes questionamentos  deste tempo, particularmente o de Heidegger ou o de Lévinas.
Num gesto diferente, com outra visada, o que procurei elaborar como nome de rastro {trace}( a saber, uma experiência da diferença temporal de um passado sem presente passado ou de um por-vir que não seja um futuro presente)é também uma desconstrução sem crítica, da evidência absoluta e simples do presente vivo, da consciência como presente vivo, da forma originária (Urform) do tempo que se chama de presente vivo ( lebendige Gegenwart) ou de tudo que pressupõe a presença do presente.”

Jaques Derrida. Papel Maquina. SP: Estação Liberdade, 2004, p. 338-339

O primado de um tempo do agora que é pura imanência e devir é o que nos define a vida. Não o passado e o futuro como momentos distintos de um tempo virtual  multifacetado e aberto as urgências do presente. Este agora, entretanto, não é dado, não é o imediato em seu estado bruto, mas é uma imersão da consciência em seu próprio acontecer. Assim, o presente vivo, me servindo   desta intuição de Derrida,  se inventa nesta tensão entre passado e futuro  na consciência do agora.

A leitura que Derrida faz da  herança  de Husserl é bastante peculiar. Não me ocuparei dela aqui. Mas é provocante a sua proposta de uma “presença do presente” de inspiração fenomenológica. Afinal, o que é vivo através do presente? Quais os limites do próprio presente?   


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