“Na sala, enquanto falo, paira
como uma sombra ectoplasmática a neblina da incompreensão que emana dos
cérebros presentes, como o bafo da respiração das vacas no frio da madrugada.
Hálito cerebral bem espesso e onde as palavras abrem um caminho a fórceps em direção ao paradoxo.”
JEAN BAUDILLARD in COOL MEMORIES III
As pessoas estão perdendo a capacidade de conversar. Pelo
menos tal como se entendia até agora a dialética de uma boa prosa. Não se trata
mais de trocar argumentações, encadear raciocínios. Mas apenas de dizer o
superficial do pensamento sem o filtro de qualquer reflexão.
O que norteia uma conversa hoje em dia é a compulsiva
necessidade de falar de si mesmo, de cativar o interlocutor com uma performance
eficiente e egocêntrica. Estamos tão saturados de informação que somos
incapazes de dizer algo realmente autêntico, usar as palavras para
compartilhar impressões reais sobre a
realidade. Os diálogos tornaram-se ocos e pragmáticos.
Apenas conversamos porque somos incapazes de conviver com o
silêncio. Mas atualmente nada que possa ser dito é capaz de substitui-lo ...
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