segunda-feira, 29 de junho de 2015

NÔMADAS

Não deixarei que minha existência se reduza a meia dúzia de tolices sobre a beleza da vida ou algumas asneiras sobre o futuro da humanidade.

Viverei de vertigens, da ousadia dos abismos, em busca de qualquer coisa sem nome que desvele o mais profundo do pensamento.

O sentimento de si mesmo que nos define como indivíduos é algo incomunicável, uma espécie de caos pessoal que domesticamos a cada palavra dita.


Mas quão insuficiente é todo o dizer das coisas frente a emoção da auto consciência! È justamente quando nada consigo dizer quando melhor defino quem sou nas inércias de minhas imaginações. Por isso gosto de me largar aqui as vezes em perplexidade e auto contemplação.

sábado, 27 de junho de 2015

ESCREVER É VIVER

“Assim como a leitura, a mera experiência não pode substituir o pensamento. A pura empiria está para o pensamento como o ato de comer está para a digestão e assimilação. Quando a experiência  se vangloria  de que somente ela, por meio de suas descobertas, faz progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo.”
SCHOPENHAUER in  A ARTE DE ESCREVER


O pensamento é a mais nobre realização do cérebro humano. Mas poucos se dedicam a sua arte. A maioria das pessoas apenas comem, trepam e cagam. Isto lhes basta como existência. Poucos ascendem aos cenários das abstrações e questionamentos de tudo aquilo que julgamos real.
Por isso desconfio da humanidade. Seu estado habitual é a mansa insanidade de cultivar o umbigo segundo o ethos dominante. Não passa de uma manada cega e infame a procurar satisfação vazia no deserto do mais imediato cotidiano.

Aprecio por isso os desajustados, os inconformados, que transformam sua inquietude em feroz poesia contra os lugares comuns do existir. Escrever é inventar a si mesmo. O mundo seria melhor se todos fossem escritores. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

WITTGENSTEIN E O DESESPERO NA FILOSOFIA

“É A VIDA QUE É PRECISO MUDAR”

Para Wittgenstein filosofar era uma desesperada luta contra a doença da incompreensão da lógica de nossa linguagem mais cotidiana.  Construímos diariamente frases  gramaticalmente corretas que, paradoxalmente, não fazem sentido.

A linguagem é a maior das patologias, considerando que o mundo vivido não passa de um ato de linguagem. Como ele afirma, ainda na primeira fase de seu esforço filosófico representado pelo Tractatus Lógico-Filosófico:

“O objetivo da filosofia é a clarificação lógica do pensamento. A filosofia não é uma teoria, mas uma atividade. Não se deve esperar da filosofia ‘proposições filosóficas’, mas a clariicação das proposições.”
O que mais nos conduz ao desespero é o quanto a maioria das pessoas é incapaz de um uso preciso da linguagem e não fazem a mínima noção do que seja um dialogo autêntico.


A VIDA ESTÁ MORTA...

quarta-feira, 24 de junho de 2015

NOSTALGIA

A vida é demasiadamente efêmera. Tudo acontece e se perde rápido demais.

Fico pensando em todas as situações e coisas que já vivi e deixaram um amargo sabor de nostalgia.

O passar do tempo é realmente desagradável e nos rouba tudo aquilo que nos define e consideramos importante. Nada é definitivo... as vezes não é fácil conviver com isso.

No fundo somos todos colecionadores de escombros e ruínas que vão se acumulando dentro da gente até que chega uma hora em que nós mesmos nos tornamos ruína.


Por isso fico sempre desconfortável. Principalmente quando me sinto alegre. A satisfação dura quase nada. Menos que um por do sol. 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

FUGA

As vezes me vestia de frio
E ia buscar a companhia da chuva
Para esquecer meus fracassos.

Tentava apagar as mágoas,
Os amores perdidos,
Os sonhos despedaçados
E as vontades feridas.

Tentava esquecer de mim,
Afogar em meus silêncios,

Calar o mundo e o destino.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A DIALÉTICA DOS MEUS EUS

Amanhã posso não ser mais eu.
Posso ser ninguém, silencio e lembrança.
Posso ser a lágrima na face de alguém
Ou, talvez, apenas outro
De mim mesmo
Buscando  o vazio
Em novas ilusórias certezas.
Amanhã pode ser tarde
Ou cedo demais
Para meus tantos eus.


terça-feira, 16 de junho de 2015

INDIVIDUALISMO RADICAL

Tornar-se um individuo psicológico é a única grande meta de nossa vida. Aprofundando a tese, tornar-se um complexo de situações psicológicas e complexas é um desafio pessoal que poucos ousam enfrentar.

Inventar a si mesmo contra os lugares comuns da vida coletiva e dos  fatos nos reatualizam o desafio da invenção do espaço privado e da subjetividade dos oitocentos. Mas partindo de uma lógica diferente e que, paradoxalmente, pressupõe o deslocamento das identidades como estratégia de reconstrução de nossa mais intima e incerta subjetividade.


Na contemporaneidade nos azemos e nos reinventamos em uma modalidade de “ estar no mundo” onde o próprio real deixou de ter substância...

ESBOÇO


Nunca espero me reconhecer no espelho do tempo.
Serei sempre a soma de minhas possibilidades.
Algumas perdidas, outras falidas,
A maioria suspensa entre o sonho e a realidade
A espera de algum contundente vento de verdade.

O fato é que não passo de um precário esboço de gente
Entre tudo aquilo que fui e que poderia ser,
Que se perdeu ou nunca aconteceu.
Sou cem milhões de alternativas a mim mesmo
Tentando se acomodar ao imperativo dos fatos.

O resultado disso, um dia,  será apenas o silêncio...


NOSTALGIA

O tempo levou o jardim da infância,
Apagou o antigo azul do céu
E desapareceu com minhas esperanças.

De repente, morreu aquele garoto feliz
Que um dia fui na casa antiga.
Perdeu-se aquele
Sabor de mundo
Que me inspirava a viver.

Repentinamente me tornei adulto,
Vazio de tudo e moribundo.
Os que amavam foram morrendo,
O cotidiano foi apertando no peito
E as decepções desbotando sorrisos.

Hoje não passo de um resto perdido
De tudo aquilo que já fui.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

DESABRIGADOS

O dia ia acabando,
Ia morrendo rapidamente.
As pessoas se escondiam
Em prédios e casas,
Definhavam enquanto a chuva caia,
Enquanto aguardavam
Em seu intimo abrigo
O incerto momento
Do voltar do dia.
A noite abraçava a todos,
Fria e melancólica.

Os sonhos atrasavam
Diante dos fatos.
As esperanças haviam fugido.
Estávamos todos trancados e sós.


AUTO CONHECIMENTO

Não me reconheço na vida que levo.
Me considero um duble de mim mesmo
Interpretando o oposto da minha própria vida.
Todas as minhas experiências são o acontecer de um outro
Que cada vez mais desconheço.
Tenho qualquer dificuldade para lidar com o imperfeito
E o impreciso do dia a dia.
Por isso evito pessoas
Na insana e inútil busca de mim mesmo.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

CETICISMO

Não quero estar certo. Não tenho é em nada daquilo em que acredito.
Não me baseio em opiniões. Penso os fatos e acontecimentos como um quebra cabeça onde  sempre faltam peças e algumas coisas não se encaixam.
Por isso sou incapaz de fé. Não espero o absoluto de um sentido definitivo e nem dominar a realidade com o absoluto de qualquer certeza.
Prefiro enlouquecer do que me confortar com uma resposta que me faça prisioneiro de qualquer imutável ideia de realidade.
Toda convicção radical é uma forma de morte do pensamento livre e indiviual.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

ANOITECIMENTO

A noite caiu sobre a minha sorte
E me escondeu da vida.
Estava triste.
E minha tristeza se espalhava
Sobre todas as coisas.

Rompi  acordos
Feri  certezas
E matei esperanças.


Aquebrantado,
Me desencontrei de mim mesmo.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

INDIVIDUALISMO

Não me falem do vazio da condição humana,
Da falta de sentido de toda palavra falada e escrita.
Não me imponham suas justificativas,
Suas mentiras e verdades.
Quero ser livre!

Preciso inventar a mim mesmo!

Não farei parte do jogo dos outros!

terça-feira, 9 de junho de 2015

A DECADÊNCIA DA LEITURA

Já não contava com o consolo de eventuais leitores. Hoje em dia havia muita gente escrevendo boas coisas por ai. Mas poucos liam alguma coisa. É difícil quem consegue ler , até mesmo, as principais obras do cânone ocidental.

As pessoas  já não tinham mais tempo para as letras. A banalização da informação, por outro lado, empobreceu o ato de ler. Tornou-se algo trivial e banal. Ninguém sente mais grande coisa diante de um livro. As pessoas já não se enxergam mais. Estamos todos perdidos.

Eu não acredito mais em leitores. Nem naquilo que escrevo... na minha capacidade de dizer alguma coisa realmente significativa.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

A VOZ E O VERSO

Em minha voz há mais poesia do que no silencio cotidiano das palavras dos outros.
Há imensidões desfeitas em imaginações e razões quebradas em um ato de desejo.
Um futuro perdido chora através da minha dor.
Nenhum sentido veste meu sentimento dos fatos.
Morrer é mais fácil
Do que viver esta vida que se perde da gente.

Mas em minha voz há poesia...dor e vida, 
um sentir de muitas quimeras.

terça-feira, 2 de junho de 2015

CIDADE E ANONIMATO

A cidade é suas ruas
E não as suas casas.
É a familiaridade do estranho
E a necessidade do desconhecido
Como uma neurótica identidade.

A cidade é o medo,
A multidão perversa e neurótica
Na qual em cada dia afogamos

Em desesperado anonimato.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A DECADÊNCIA DO DIÁLOGO

“Na sala, enquanto falo, paira como uma sombra ectoplasmática a neblina da incompreensão que emana dos cérebros presentes, como o bafo da respiração das vacas no frio da madrugada. Hálito cerebral bem espesso e onde as palavras abrem um caminho  a fórceps em direção ao paradoxo.”

JEAN BAUDILLARD in COOL MEMORIES III

As pessoas estão perdendo a capacidade de conversar. Pelo menos tal como se entendia até agora a dialética de uma boa prosa. Não se trata mais de trocar argumentações, encadear raciocínios. Mas apenas de dizer o superficial do pensamento sem o filtro de qualquer reflexão.
O que norteia uma conversa hoje em dia é a compulsiva necessidade de falar de si mesmo, de cativar o interlocutor com uma performance eficiente e egocêntrica. Estamos tão saturados de informação que somos incapazes de dizer algo realmente autêntico, usar as palavras para compartilhar  impressões reais sobre a realidade. Os diálogos tornaram-se ocos e pragmáticos.

Apenas conversamos porque somos incapazes de conviver com o silêncio. Mas atualmente nada que possa ser dito é capaz de substitui-lo ...

A EXPERIÊNCIA ATÉIA

A experiência ateia , em todas as suas formas de expressão, afirma a liberdade como princípio a partir de uma representação do universo onde não cabe  o dogma da ideia de uma ordem universal objetiva que torne a realidade inteligível.

Trata-se de um posicionar-se diante do mundo a partir da premissa de uma autonomia pessoal de pensar e representar as mais variadas questões da vida sem o peso de dogmatismo e meta narrativas impessoais.

O ateísmo pressupõe a experiência direta da reflexão critica, o cotidiano questionamento de nossos cotidianos lugares comuns.


CADA INDIVÍDUO É UM MUNDO

Sei que cada pessoa carrega em sua consciência um passado pessoal e incomunicável.

Não importa quantas autobiografias escreva, suas memórias  pessoais, o modo como lembra sua própria existência no tempo, é algo que morrerá com ela.

É esta intima capacidade de lembrar e  construir imagens sobre o nosso próprio passado que nos confere uma identidade única e subjetiva.

Apesar de suas premissas sociais e culturais, a experiência  singular de existir, pressupõe uma configuração única de consciência. Um fenômeno irracional através do qual construímos significados e estabelecemos referências a partir de nossa simples sensibilidade cotidiana.

Um determinado indivíduo pode, evidentemente compartilhar experiências, mas cada um terá o seu próprio modo de conta-las, de arruma-las em sua própria equação pessoal. Mas a caoticidade desta pluralidade de possibilidades possíveis de individualmente codificar o real  dificilmente será algum dia objeto de qualquer ciência. Mas é esta singularidade de consciência de si e do mundo que faz de cada indivíduo um mundo complexo apenas em si mesmo.