O silêncio de uma mensagem codificada é o que define um enigma. Ele pressupõe um sentido oculto ou destinado a um entendimento restrito e seletivo. Trata-se aqui do ”dizer fechado”, de um significado invisível, que não se reduz a uma simples charada.
Ouso aqui afirmar que o enigma pode ser, em outras palavras, uma modalidade de linguagem, de codificação de mundo, onde a pragmática do discurso é substituída pela sua desfuncionalidade quase alegórica. Assim, nos comunicamos substituindo aquilo que queremos verbalizar por enunciados diversos cuja referência a nossos reais afirmações só pode ser alcançado de modo intuitivo ou associativo.
Evidentemente expresso aqui uma imagem bem heterodoxa e subjetiva do enigma. Mas o fato é que não raramente somos vitimas deste tipo de jogo de linguagem, ou “dizer psicologizado” onde o interlocutor deliberadamente procura nos comunicar alguma coisa de modo sutil e dissimulado fazendo referência a outra.
Eis um pequeno exemplo: Imagine alguém dizendo que se sente profundamente sozinho justamente para aquela pessoa a qual se julga enamorado.
Se para o leitor tal estratégia pode ser reduzida pura e simplesmente a um simples artifício de dissimulação muito simpático a imaginação feminina, o fato é que há um algo mais aqui. Muitos interditos condicionam a cotidiana arte da conversação. Não somos livres para falar tudo o que pensamos e utilizamos um outro de nossos enunciados para dizer aquilo que não nos é confortável dizer claramente. É assim que penso o enigma como uma modalidade de linguagem fundada no não ser, se é que cabe aqui o termo, de nossas palavras.
Muitas vezes não dizemos o que queremos, mas apenas aquilo que sob certas circunstâncias nos foi possível dizer. Sempre que o fazemos utilizamos o enigma como linguagem, mesmo que nossos interlocutores, para o bem ou para o mal, não sejam capazes de compreender o paradoxo do dizer não dito.