segunda-feira, 2 de abril de 2012

DESENRAIZAMENTO E NOMADISMO NA CULTURA CONTEMPORÂNEA

A cultura contemporânea tem como um de seus mais acentuados traços certa tendência ao “nomadismo”, expressão que aqui nada tem a ver com a pratica arcaica de sociedades primitivas europeias de coletores-caçadores, cuja busca de alimento condicionava a um deslocamento constante . Entendo por nomadismo uma condição cultural que se confunde com aquilo que Hannah Harendt em suas ORIGENS DO TOTALISMO e na CONDIÇÃO HUMANA definiu como um desenraizamento ou alienação dos homens com relação ao mundo vivido.

Desconsiderando as reflexões da autora sobre o significado de tal desenraizamento na esfera pública, quero chamar atenção para suas implicações sobre a vida privada, sobre o micro universo da experiência individual.

É justamente por isso que proponho aqui uma livre utilização do conceito de “nômade”. Sua pertinência reside no fato de que, em certas tendências do ethos que define a contemporaneidade, já não habitamos confortavelmente personas, nem se mostra muito eficiente o artificio social de qualquer identidade coletiva ou papel social. As próprias paisagens cotidianamente vividas já não nos habitam ou nos conferem uma satisfatório abrigo a existência.

Estamos todos hoje cada vez menos comprometidos com qualquer suposta “objetividade” do real, cada vez mais mergulhados no hibridismo de conceitos, mundos e experiências. O que Harendt percebia como “desenraizamento” , como um deslocamento ou alienação do mundo do campo da experiência cotidiana, revela-se a luz do nosso mais imediato agora, como um novo modo de se “estar no mundo”, um “mundo” que já não tem limites, que é cada vez mais virtualmente definido pelas metáforas e metamorfoses de seus símbolos e signos, pela inflação dos significados... Um mundo onde “desenraizar-se” é pertencer a tudo e a nada como efêmera presença.

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