quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SEX PISTOLS by Patrice Bollon...

Patrice Bollon nos oferece em A MORAL DA MASCARA uma leitura bastante interessante do niilismo personificado pelo movimento punk. Tratar-se-ia, segundo ele, de uma verdadeira pedagogia do absurdo, de uma denuncia da desrealidade da sociedade a partir de sua caricaturização. Ou seja tudo se resumiria em ironizar o mundo. Naturalmente, ele utiliza como referencia em sua reflexão o explosivo fenômeno dos Sex Pistols, o mais emblemático dentre as bandas punks.

Em suas palavras:


“ ... “A maior vigarice do rock and roll”, como se gabou abertamente o empresário e “criador” absoluto do grupo, Malcolm McLaren, foi realmente muito mais do que uma simples ação caótica de agitação, que aproveita qualquer provocação na desordem de uma espontaneidade exacerbada, a qual só conhece seu prazer imediato; foi um verdadeiro empreendimento consciente e deliberado de desmitificação que os “quatro anarquistas absolutos” quiseram realizar. Uma ação proposital de “agit-prop”. O Sex Pistols queriam mostrar, demonstrar, com seu exemplo o absurdo daquela “sociedade do espetáculo”que os cercava, levando ao extremo seus mecanismos até o ponto em que estes, se embaraçando em sua própria lógica fatal, caiam na irrealidade e no vácuo. Sua estratégia consistia em se introduzirem cada vez mais profundamente, como cavalos de Tróia, nas engrenagens do Show-business e da mídia para destrui-las do interior, ou melhor: levá-las a se autodestruirem. Procuraram desestabilizar o sistema. No momento suas provocações pareciam ser “espontâneas”- era issoaliás o que lhes dava força: elas pareciam sempre imprevistas, inimagináveis, “inéditas”, com o recuo elas apareciam, pelo contrário, todas colocadas numa mesma direção, no mesmo alinhamento, um único vetor. Na falta de convergirem para um projeto preciso, claramente formulável, ordenavam-se segundo uma estratégia, uma progressão lógica quase implacável: elas apareciam como verdadeiras “invectivas” cada vez mais violentas e cada vez mais agudas, destinadas a fazer a sociedade perder as estribeiras, até que ela “confessasse”, mais ainda, confessasse a si mesma sua nulidade.
Com efeito, quanto mais os Sex Pistols queriam ser Punks, mais eles eram realmente “nulos”, mais eles obtinham sucesso; e esse sucesso os levava a ultrapassar continuamente novos degraus no movimento punk. O vazio selava seu triunfo, e esse triunfo os levava a recuar ainda e sempre os limites do vazio.”

(Patyrice Bollon. A Moral da Mascara: Merveilleux, Zazous,Dândis,Punks, etc. Tradução de Ana Maria Scherer. RJ: Rocco, 1993, p. 149 )

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