segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

JAMES HILLMAN AND LOVE...


Considero James Hilman um dos mais originais autores e pensadores da psique e sua dinâmica. Em sua singular interpretação da herança de Jung, ele nos permite fugir de nossos limites culturais construindo imagens e representações novas da psique através de um resgate dos “paradigmas” e simbolismos pagãos, ele nos convida a um jogo entre sentido e não sentido, entre imaginação e realidade, na qual os opostos se comunicam em absoluta simetria e pluralidade.
Quando transcendemos o monoteismo de um Self totalizante nos lançamos a aventura de uma configuração multipla e incerta de realidade, a um desaprendizado de nós mesmos onde a única certeza é a busca, não de verdades, mas de possibilidades, em meio a diversidades que transcendem qualquer noção de opus, ou, simplesmente, as redefine no contexto da contemporâneidade …
ALL YOU NEED IS LOVE....
Lembro-me vivamente agora, por exemplo, de um fragmento de Entre Vistas: Conversas com Laura Pozzo sobre psicoterapia, biografia, amor, alma, sonhos, trabalho, imaginação e o estado da cultura muito inspirador... Principalmente porque nos conduz a uma releitura das imagens que temos do amor e sua importância de um modo que viva e particularmente me leva subjetivamente aos Beatles, em especial a sua fase psicodelica e as mais autênticas vivências das inspirações de eros…
No fundo todos temos medo do amor… E isso o faz revolucionário em um sentido laico e profundamente secular e psicológioco…


Laura Puzo.
“Porque temos medo dele.”

James Hillman.
"… e ele pode surgir a qualquer minuto. E o que ele quer é a psique. Ele está atrás da alma, tem um trabalho a realizar na alma. Quero dizer, o amor esta muito mais interessado em nossas fantasias, em nossas imagens e complexos doq ue em nós, pessoalmente, naquilo que sentimos, precisamos, desejamos. Por isso morremos de medo. Ele ativa todos os complexos. Torna nossas fantasias irresistiveis, douradas. Afrodite Dourada, como foi chamada. Brilhante. Flamejante. Mas o amor não é uma força independente exterior às imagens, aos complexos. Esta bem dentro deles. O eros já está dentro da psique, pronto para pegar fogo. A psique é um material altamente inflamável. Estamos sempre embrulhando nossas coisas com amianto, mantendo nossas imagens e fantasias ao alcance da mão porque elas estão cheias de amor. Veja: Freud estava certo- o conteudo da psique reprimida é eros. E Resistencia tem a ver com paredes `a prova de fogo. Naturalmente todo mundo dá as costas para a analise, para seus sonhos e figures tais como Maribel. Elas estão carregadas de amor. Mas o caminho para o amor não é o imediato, você não pode ir direto nele. Terapias que encorajam o amor, que se focam na transferência, cometem o erro de ir direto nele. Pelo menos para mim o caminho é via alma, via imagem, onde o amor se esconde…É só começar a falar com alguem a partir da alma, sobre a alama, sobre o medo da morte, sobre uma lembrança dolorosa, pequenas desavenças, isolamento, e num instante surge o amor. Naturalmente, ele inrompe em sessões de terapia: onde ouver a psique, há amor, eros. O amor vem à terapia para encontrar a psique, para se tornar psicológico, e é realmente um erro psicológico tomar o amor de uma maneira pessoal. Claro, parece pessoal, porque amor é interior, íntimo, mas esta interioridade refere-se à alma, à ativação de complexos”.

(James Hilman. Entre Vistas: Conversas com Laura Pozzo sobre psicoterapia, biografia, amor, alma, sonhos, trabalho, imaginação e o estado da cultura/ tradução de Lucia Rosenberg e Gustavo Barcellos. SP: Summuis, 1989, p.194-195.)


Nenhum comentário: