domingo, 7 de setembro de 2008

PEQUENO DEVANEIO EM TORNO DO ULISSES DE JAMES JOYCE



O eterno irlandês exilado James Joyce, autor/reinventor do mito de Ulisses em moderno imaginário de fragmentos e des-sentidos, as vezes, surge para mim em palavras como uma virtual companheiro de goles de imaginações em noites abertas e sem ponto final.
Não raramente as imaginações dizem o mundo e as pessoas mais profundamente do que o imediato de qualquer gesto ou palavra. O mundo inteiro, afinal, é uma viagem sem retorno, um distanciar-se constante de mim mesmo na ilegível direção daquilo que minimamente será para mim fatidicamente a existência em sua absoluta finitude.
Imerso no absurdo mudo do mundo sonho a sombra clara de redefinidas infâncias que através de vontades e desejos inventam futuros.


“... O estrangeiro olhava ainda na cara ante ele a lenta recessão nela daquela falsa calma, imposta, ao que parecia, por hábito ou algum estudado ardil, quanto a palavras tão amargas que pareciam acusar no seu falante malsanidade, um flair, pelas coisas cruas da vida. Uma cena desencadeia-se na memória do observador, evocada, parecê-lo-ia, por uma palavra de tal trivialidade como se aqueles dias estivessem de fato presentes ali ( como alguns o pensavam) com os seus prazeres imediatos.
(...)
Anota isto mais e recorda. O fim chega de súbito. Entra nessa antecâmera do nascimento onde os estudiosos se congregam e observa suas faces. Nada ai, ao parecer, de irrefletido ou violento. Antes quietude de custódia, condizente com sua estada nessa casa, o vigilante cuidado dos pastores e anjos perto de uma manjedoura em Belém de Judá há muito. Mas tal qual antes do raio as tempestinuvens compactas,, pesadas comm excesso preponderante de umidade, em massas tumefactas turgidamente distensas, encompassam terra e céu num vasto torpor que impende por sobre campo crestado e gado modorrento e mangrado vingar de macega e verdura até que num instante uma chispa fenda seus centros e com a reverberação do trovão tombe a sua torrente, assim e não de outro modo a transformação, violenta e instantânea, à prolação do verbo.”


(James Joyce. Ulisses/ tradução de Antônio Houaiss. SP:Abril Cultural, 1983, p.483-484)

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