Da Alquimia a Química: Um estudo sobre a passagem do pensamento Mágico Vitalista ao mecanicismo de Ana Maria Alfonso Goldfard, constitui uma obra de referência para as pesquisas sobre a gênese do cientificismo moderno cujas as origens, contraditoriamente, devem ser buscadas no hermetismo neo platônico renascentista e sua critica a escolástica então estabelecidos como universo lingüístico configurador do imaginário medieval, tanto quanto na reforma protestante.
Ironicamente foi movendo-se em um horizonte de inspiração aristotélica que tal critica iniciou a desconstrução do próprio aristotelismo não resistindo ao seu crepúsculo e a desarticulação da cosmogonia que sustentava e a emergência do mecanicismo como aurora da construção de novas sensibilidades e imagens de mundo.
Como observa aa autora aqui citada:
“... O estudo das chamadas ciências “herméticas” ou “mágicas”, panacéia universal contra os males que oprimiam o europeu a partir do séc. XIV, tornara-se sinônimo de resistência e esperança. Alguns lugares, onde o poder eclesiástico deixava de ser soberano, onde a Reforma começava a se estabelecer ou onde o domínio pertencia à burguesia crescente da época, tornaram-se paraísos para o estudo de tudo aquilo que tinha sido proibido pela Igreja. E, como ela havia se tornado sinônimo do pensamento aristotélico, a sentença de morte dedicada ao poder eclesiástico acabaria por atingir também a este.
Estados inteiros europeus assimilam idéias herméticos e neo-platônicos a sua literatura, arquitetura e vida cotidiana. Homens cultos, das mais variadas procedências, buscam, ávidos, textos antigos, na tentativa, na tentativa de restabelecer o conhecimento que os escolásticos tinham “desperdiçado” ou “distorcido”. A enchente de textos alquímicos e magicos; iniciada no séc. XV, torna-se o foco para as reformas sociais; de ensino e de conhecimento, que a resistência quer propagar.
O que talvez essa resistência não soubesse era que, ao chocar-se frontalmente contra o sistema estabelecido, estava oferecendo elementos que acabariam por fazer ruir a base comum cosmológica, que também se baseava sua reforma.
São talvez essas contradições que acabam por tornar a história mais interessante. É do conhecimento geral que trabalhos como o de Copérnico e Kepler basearam-se nas teorias neo platônicas da perfeição mágica do circulo, contra o modelo ptolomaico assimilado pela escolástica. Entretanto, esse mesmo modelo por sua vez, acabaria por determinar a eliminação do modelo antropocêntrico e, com ele, o das cadeias simbólicas que ligavam macro e micro cosmo. O segundo acabaria por descobrir que o modelo celeste, perfeito e harmônico, de onde provinham as emanações criadoras do mundo, teria de ser rompido para dar lugar a um sistema baseado numa figura menos perfeita, mas mais próxima da realidade.”
(Ama Maria Alfonso Goldfard. Da Alquimia a Química: Um estudo sobre a passagem do pensamento mágico-vitalista ao mecanicismo. SP: Nova Stella, EDUSP, 1987; p. 255 et seq.)
Ironicamente foi movendo-se em um horizonte de inspiração aristotélica que tal critica iniciou a desconstrução do próprio aristotelismo não resistindo ao seu crepúsculo e a desarticulação da cosmogonia que sustentava e a emergência do mecanicismo como aurora da construção de novas sensibilidades e imagens de mundo.
Como observa aa autora aqui citada:
“... O estudo das chamadas ciências “herméticas” ou “mágicas”, panacéia universal contra os males que oprimiam o europeu a partir do séc. XIV, tornara-se sinônimo de resistência e esperança. Alguns lugares, onde o poder eclesiástico deixava de ser soberano, onde a Reforma começava a se estabelecer ou onde o domínio pertencia à burguesia crescente da época, tornaram-se paraísos para o estudo de tudo aquilo que tinha sido proibido pela Igreja. E, como ela havia se tornado sinônimo do pensamento aristotélico, a sentença de morte dedicada ao poder eclesiástico acabaria por atingir também a este.
Estados inteiros europeus assimilam idéias herméticos e neo-platônicos a sua literatura, arquitetura e vida cotidiana. Homens cultos, das mais variadas procedências, buscam, ávidos, textos antigos, na tentativa, na tentativa de restabelecer o conhecimento que os escolásticos tinham “desperdiçado” ou “distorcido”. A enchente de textos alquímicos e magicos; iniciada no séc. XV, torna-se o foco para as reformas sociais; de ensino e de conhecimento, que a resistência quer propagar.
O que talvez essa resistência não soubesse era que, ao chocar-se frontalmente contra o sistema estabelecido, estava oferecendo elementos que acabariam por fazer ruir a base comum cosmológica, que também se baseava sua reforma.
São talvez essas contradições que acabam por tornar a história mais interessante. É do conhecimento geral que trabalhos como o de Copérnico e Kepler basearam-se nas teorias neo platônicas da perfeição mágica do circulo, contra o modelo ptolomaico assimilado pela escolástica. Entretanto, esse mesmo modelo por sua vez, acabaria por determinar a eliminação do modelo antropocêntrico e, com ele, o das cadeias simbólicas que ligavam macro e micro cosmo. O segundo acabaria por descobrir que o modelo celeste, perfeito e harmônico, de onde provinham as emanações criadoras do mundo, teria de ser rompido para dar lugar a um sistema baseado numa figura menos perfeita, mas mais próxima da realidade.”
(Ama Maria Alfonso Goldfard. Da Alquimia a Química: Um estudo sobre a passagem do pensamento mágico-vitalista ao mecanicismo. SP: Nova Stella, EDUSP, 1987; p. 255 et seq.)
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