"Aqui jaz o corpo de Jonathan Swift, doutor em Teologia e deão desta catedral, onde a colérica indignação não poderá mais dilacerar-lhe o coração. Segue, passante, e imita, se puderes, esse que se consumiu até o extremo pela causa da Liberdade".
Jonathan Swift ( 1667-1745) foi um dos mais notórios escritores irlandeses de todos os tempos. Notabilizou-se por suas obras satíricas como por exemplo a derradeira “ Conversação Polida” ( 1738) sobre a arte da conversação na Inglaterra. Mas foi um romance que lhe assegurou definitivamente a notoriedade. Refiro-me evidentemente As Viagens de Gulliver, originalmente publicada em 1726 com o titulo Viagens de Lemuel Gulliver , que hoje encontra-se injustamente relegado a opacidade do imaginário literário infanto juvenil.
Mas a referida obra compreende na verdade uma viva expressão do polêmico, critico e sarcástico espírito do seu autor. Podemos compara-la a UTOPIA de Morus quanto a critica da sociedade do seu tempo a partir de paisagens e lugares imaginários, mas diferente do autor da Utopia, não é o modelo ou possibilidade de um lugar ideal e exemplar de inspiração platônica ( A Republica) que lhe inspira, mas surpreendentemente um discurso de alteridade frente a vaidade da civilização ocidental ou européia no dialogo ou encontro com outras culturas. Este ideal de alteridade , de relativismo cultural, compreende a atualidade desta obra nada inocente.
“... Pode o leitor admirar-se de que eu acabasse comigo a fazer uma descrição tão franca da minha própria espécie entre uma raça de mortais já demasiado inclinada a haver em tão pequena conta o governo humano, em virtude da minha perfeita semelhança aos yahoos. Mas devo confessar francamente que as virtudes desses excelentes quadrúpedes, colocadas em oposição às corrupções humanas, me tinham aberto de forma os olhos e ampliado o entendimento que principiei a encarar o s atos e as paixões dos homens a uma luz muito diferente e a julgar que a honra da minha própria espécie não merecia ser poupada; o que alias me seria impossível fazer diante de pessoa de tão aguda percepção como meu amo, que diariamente me convencia da existência de mil defeitos em mim mesmo, dos quais eu não tivera ainda o mínimo discernimento e que , entre nós, nunca seriam contados entre as fraquezas humanas. Eu aprendera também, com seu exemplo, a detestar inteiramente toda e qualquer falsidade ou disfarce; e a verdade seme entrefigurava tão amável que determinei tudo sacrificar por ela...”
( Jonathan Swift. Viagens de Gulliver/ tradução de Otavio Mendes Cajado. RJ: Editora Globo, 1987, p.294)
“... É fácil para nós viajarmos em paises remotos, raro visitados por ingleses ou por outros europeus, e apresentarmos descrições de maravilhosos animais, tanto no mar como na terra. Devera ser, todavia, o principal intento do viajante tornar mais sábios e melhores os homens e aprimorar-lhes o espírito pelo exemplo, bom ou mau, do que dizem acerca de terras estranhas.”
( Jonathan Swift. Viagens de Gulliver/ tradução de Otavio Mendes Cajado. RJ: Editora Globo, 1987, p.294)
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