terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A CONSCIÊNCIA EGOICA E OS LIMITES DO COGNOSCIVEL


Existimos como consciência de nossa própria existência e do mundo no tempo e no espaço, na peculiaridade de um determinado eu. Mas o que é o eu a não ser a pluralidade das presenças que nos configuram entre o inefável e o nefando da consciência e seu universo mágico?
Enquanto complexo de identidade o eu apresenta uma fenomenologia sinuosa que tentarei aqui problematizar reproduzindo uma breve passagem de A BUSCA DO SIMBOLO: CONCEITOS BÁSICOS DE PSICOLOGIA ANALÍTICA de Edward C. Whitmont:

“No inicio do nosso século, o mapeamento que Freud fez da dinâmica do inconsciente revelou o fato surpreendente de que nós somos mais do que o ego, mais do que o “eu” que sabemos que somos. Hoje, a idéia de um inconsciente tornou-se mais ou menos aceita. Habituamo-nos à divisão de nossas psiques numa área de consciência do ego que admitimos como racional e cognoscível e numa área de inconsciência que admitimos ser desconhecida e até mesmo em parte incognoscível.
Entretanto, quando começamos a investigar o ego, ficamos atônicos ao descobrir que até mesmo a área de consciência não é tão racional ou explicável como pensamos. O ponto essencial da dificuldade, como Kant deixou claro, reside no fato de que o “eu” esta tentando observar a si mesmo. Tocamos neste ponto o impasse mais crítico de toda a psicologia, isto é,m o fato de que a psique é tanto objeto como o sujeito da investigação. Quando a consciência estuda o inconsciente, há pelo menos uma aparente separação sujeito-objeto, mas quando o consciente tenta fazer uma afirmação a seu próprio respeito, é como se o olho tentasse ver a si mesmo; somos então confrontados com o apogeu de um impasse lógico. Como surge o consciente ou o ego ( será que eles são diferentes) ? Onde essa identidade se funde com o inconsciente? A cada passo o mistério se aprofunda. Se não somos capazes de entender sequer o ego, o que não dizer do resto?”

(Edward C. Whitmont. A BUSCA DO SIMBOLO: CONCEITOS BÁSICOS DE PSICOLOGIA ANALÍTICA/ tradução de Eliane Fittipaldi Pereira e Kátia Maria Orberg.. SP: Cultrix , p. 205)

A dinâmica da psique não se reduz a qualquer leitura ou experiência possivel dela. Qualquer imagem cientifica ou não formada em nossas cabeças a seu respeito é em tudo produto desta mesma psique e das configurações especificas do nosso ego e consciência. Esse limite do cognoscível é o que nos conduz a uma aproximação criativa entre ciência e fantasia na elaboração do mundo enquanto realidade de um discurso ontológico.

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