quarta-feira, 10 de outubro de 2007

SOBRE O TEMPO


Segundo MARIE LOUISE VON FRANZ em ADIVINHAÇÃO E SINCRONICIDADE, no “espirito do tempo” estão consteladas certas interrogações e problemas psicológicos. Em outras palavras, cada época possui tendências e possibilidades específicas desenhando um perfil, um padrão particular de sensibilidades e pré-disposições coletivas. Podemos facilmente identifica-los através do mais banal dos modismos, padrões iconográficos, musicais, ou ainda, de um conjunto de temas que norteiam toda vida científica, religiosa e cultural em um determinado período. O encadeamento aparentemente imprevisível e espontâneo de fatos, muitas vezes obedece a orientação natural do estado psicológico ou arquétipo constelado na vida social. Uma observação da citada autora sobre a noção de historicidade inerente a mentalidade que caracteriza a tradição cultural chinesa é particularmente interessante:

“...Os chineses têm uma percepção intuitiva disso e, portanto, pensam que a melhor maneira de escrever a História consiste em obter o quadro real de um momento do tempo no passado, coletando todos esses eventos coicidentes, os quais, em conjunto, fornecem um quadro legível da situação arquetípica existente naquele tempo, e isso propicia novamente a idéia de um campo. Poderíamos dizer que os eventos se mostram num campo ordenado de tempo e que esse é o modo como os chineses usam o número. O número fornece informação sobre um conjunto de eventos ligados pelo tempo. A cada momento existe um outro conjunto, e o número informa sobre a estrutura qualitativa dos feixes de eventos temporalmente reunidos.” (FRANZ, Marie Louise von Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa. SP: Cultrix,1987; p. 85)

Alguns podem ver nesta exposição da representação chinesa do tempo algum parentesco com a história positivista e sua obsessão doentia pelos acontecimentos. Mas estamos diante de coisa bem diferente, como sabe qualquer um que esteja mais ou menos familiarizado com a filosofia do I CHING: O LIVRO DAS MUTAÇÕES. Na mentalidade tradicional chinesa, os fatos encadeiam-se em função de um padrão que lhes transcende. Parafraseando RICHARD WILHELM, pouco considerados em si mesmos, todo acontecimento no mundo visível é o efeito de uma “imagem”, isto é de uma “idéia” que apenas tem plena realidade em um mundo invisível. Em poucas palavras, ele é a conseqüência no tempo concreto e abstrato de um evento supra-sensível ou simbólico. Poder-se-ia dizer, em linguagem mais secular, que os acontecimentos são construções mentais, que o próprio mundo é um teatro da mente...

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