segunda-feira, 6 de agosto de 2007

SOBRE A ALQUIMIA OCIDENTAL: BREVES APONTAMENTOS DE PESQUISA


A efervescência cultural do sec. XII assentada na redescoberta do saber laico da antigüidade, na revitalização do folclore através da literatura culta e do surgimento das primeiras universidades, pouco a pouco originaria uma nova imagem de mundo que estabeleceria definitivamente a Idade Média como o cadinho onde se gestariam todas as transformações futuras da cultura ocidental. A alquimia era uma das mais expressivas tendências deste “novo mundo” que timidamente se esboçava. Como é sabido, ela compreendia duas dimensões distintas e indissociáveis: a operatio (operação), realizada em laboratório mediante experimentos com corpos químicos, e a theoria ou filosofia hermética, que pressupunha não somente a leitura dos “filósofos”, mas também aquilo que os alquimistas entendiam por meditatio e imaginatio.
Em linhas gerais, a atividade química prática jamais foi inteiramente pura entre os alquimistas. Sua arte era apenas em parte concebida como natural, pretendendo enfaticamente o estatuto de divina e sobrenatural. É esta peculiaridade, inconcebível para a ciência experimental moderna, que permitiu JUNG compreender a praxis alchimica em termos de projeções psíquicas.
Os alquimistas estavam convencidos de que os processos químicos e materiais coincidiam com fatores espirituais, o que estabelecia uma identidade, em grande parte inconsciente, entre a psique do alquimista e as substâncias com as quais boliam e pretendiam transformar. Era um pressuposto básico do seu empreendimento a existência de uma verdade nas coisas naturais que escapava aos cinco sentidos e só poderia ser apreendida pela mente. Tal convicção é perfeitamente traduzida pela diretriz teórico – prática do opus magnum : a redenção do cosmos e não apenas do “homem decaído” como estabelecido pela mitologia cristã hortodoxa. Aliais, o próprio divino, enquanto um mistério que habita a matéria, o spiritus mercurius, torna-se objeto de redenção. Sua libertação é traduzida pela imagem do corpus glorificationis, do filius macrocosmi ou da pedra filosofal. O que estas imagens tentam traduzir é um dado estado ideal da matéria, ou da Natura Mater, onde todos os elementos tornam-se coesos e afins a ponto de revelar ou libertar uma outra natureza, uma propriedade misteriosamente divina, oculta no mundo físico e sujeita a utilização humana.

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