Erwin Schrödinger ( 1887-1961) foi um renomado físico austriaco que contribuiu significativamente para o advento da ciência contemporânea através dos seus estudos sobre a mecãnica das ondas como parcela da física quântica. Sirvo-me aqui de um fragmento de seu conhecido ensaio sobre Mente e Matéria, originário de conferências pronunciadas em outubro de 1956 no Trinity College/Combridge, para devagar sobre a realidade daquilo que, na falta de uma palavra melhor, definimos como mente:
“... Embora a substância de que nosso quadro do mundo é construído seja produzida exclusivamente a partir dos órgãos do sentido como orgãos da mente, de tal forma que o quadro do mundo de todo homem seja e sempre permaneça um construto de sua mente e não se possa comprovar que tenha qualquer outra existência, ainda assim a própria mente consciente permanece uma estranha dentro desse construto, não tem espaço vivo dentro dele, não é possível identifica-la em nenhum lugar no espaço. Normalmente, não percebemos tal fato, pois nos entregamos inteiramente ao pensamento de que a personalidade de um ser humano ou, nesse aspecto, também de um animal, esteja localizado no interior do seu corpo. Aprender que ela não pode ser realmente encontrada lá é tão atordoante que suscita dúvida e hesitação, sendo admitido só com grande relutância. Nós nos acostumamos a localizar a personalidade consciente dentro da cabeça de uma pessoa- eu diria uma ou duas polegadas atrás do ponto médio entre os olhos. Dali, ela nos dá, conforme o caso, compreensão, amor e ternura- ou olhares suspeitos e raivosos. Eu me pergunto se alguém alguma vez reparou que o olho é o único órgão dos sentidos cujo caráter puramente receptivo não conseguimos reconhecer no pensamento ingênuo. Invertendo o atual estado de coisas, somos bem inclinados a pensar em “raios de visão”, emitidos a partir do olho, em vez dos “raios de luz” vindo de fora e que atingem os olhos. É frequente encontrarmos tal “raio de visão” representado em um desenho, num texto cômico, ou mesmo em alguns esboços esquemáticos mais antigos cuja finalidade era ilustrar um instrumento ou lei óptica, uma linha pontilhada emergindo do olho e apontando para o objeto, com a direção sendo indicada por uma seta na extremidade.-Caro leitor, ou melhor ainda, cara leitora, lembre-se dos olhares brilhantes e felizes que seu filho lança em sua direção quando a senhora lhe traz um novo brinquedo e então deixe que o físico lhe diga que, na realidade, nada emerge desses olhos; na realidade, sua única função detectável objetivamente é ser continuamente atingido e receber continuamente quanta de luz. Na realidade! Que estranha relalidade! Parece estar faltando alguma coisa.”
“... Embora a substância de que nosso quadro do mundo é construído seja produzida exclusivamente a partir dos órgãos do sentido como orgãos da mente, de tal forma que o quadro do mundo de todo homem seja e sempre permaneça um construto de sua mente e não se possa comprovar que tenha qualquer outra existência, ainda assim a própria mente consciente permanece uma estranha dentro desse construto, não tem espaço vivo dentro dele, não é possível identifica-la em nenhum lugar no espaço. Normalmente, não percebemos tal fato, pois nos entregamos inteiramente ao pensamento de que a personalidade de um ser humano ou, nesse aspecto, também de um animal, esteja localizado no interior do seu corpo. Aprender que ela não pode ser realmente encontrada lá é tão atordoante que suscita dúvida e hesitação, sendo admitido só com grande relutância. Nós nos acostumamos a localizar a personalidade consciente dentro da cabeça de uma pessoa- eu diria uma ou duas polegadas atrás do ponto médio entre os olhos. Dali, ela nos dá, conforme o caso, compreensão, amor e ternura- ou olhares suspeitos e raivosos. Eu me pergunto se alguém alguma vez reparou que o olho é o único órgão dos sentidos cujo caráter puramente receptivo não conseguimos reconhecer no pensamento ingênuo. Invertendo o atual estado de coisas, somos bem inclinados a pensar em “raios de visão”, emitidos a partir do olho, em vez dos “raios de luz” vindo de fora e que atingem os olhos. É frequente encontrarmos tal “raio de visão” representado em um desenho, num texto cômico, ou mesmo em alguns esboços esquemáticos mais antigos cuja finalidade era ilustrar um instrumento ou lei óptica, uma linha pontilhada emergindo do olho e apontando para o objeto, com a direção sendo indicada por uma seta na extremidade.-Caro leitor, ou melhor ainda, cara leitora, lembre-se dos olhares brilhantes e felizes que seu filho lança em sua direção quando a senhora lhe traz um novo brinquedo e então deixe que o físico lhe diga que, na realidade, nada emerge desses olhos; na realidade, sua única função detectável objetivamente é ser continuamente atingido e receber continuamente quanta de luz. Na realidade! Que estranha relalidade! Parece estar faltando alguma coisa.”
Erwin Schödinger. O que é a Vida? O aspécto físico da célula viva seguido de Mente e Matéria e FragmentosAutobiográficos. SP: Fundação Editora da UNESP, 1997 ( UNESP/Cambridge), p. 136 et seq.
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