quinta-feira, 16 de agosto de 2007

ARTE E MATÉRIA



“...De fato, temos que reconhecer nos trabalhos de um grande número de artistas contemporâneos um interesse absorvente pela matéria em si. Não falarei de Brancussi, porque seu amor pela matéria é bem conhecido. A atidute de Brancussi, porque com relação à pedra é comparável à solicitude, medo e veneração do homem neolítico por certas pedras que constituem hierofanias para ele; quero dizer, elas também revelam uma realidade última sagrada. Mas, na história da arte moderna, do cubismo até o tachisme, vimos presenciando um esforço contínuo do artista para libertar-se da “superfície” das coisas e penetrar na matéria a fim de desnudar suas últimas estruturas. Eu já discuti em outro lugar o significado religioso do esforço do artista contemporâneo para abolir forma e volume, para descer, como se fosse, ao interior da substância, desvendando sua maneira de ser secreta ou embrionária. Essa fascinação pelos modos elementares da matéria trai um desejo de libertação do peso das formas mortas, uma nostalgia por se submergir num mundo auroreal.
Se nossa análise está correta, há uma convergência nítida entre a atitude do artista com relação a matéria e as nostalgias do homem ocidental (...). É um fato bastante conhecido que, por suas criações, os artistas frequentemente antecipam o que está por vir- algumas vezes uma ou duas gerações mais tarde- em outros setores da vida social e cultural.”
( Mircea Eliade. Correntes Culturais e História das Religiões. in Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais BH: Interlivos, 1979, p. 24 et seq.

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