quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

NÃO IDENTIDADE

 

Minha identidade é não estar preso a qualquer definição,

é não ser no rosto,

no provisório dos enunciados

e, muito menos, nas volúveis vontades inúteis

que me rasgam o peito em segredo.


Minha identidade é recusar rótulos,

tribos e princípios.


Não me conheço o suficiente

para dizer a mim mesmo

Em toda minha multiplicidade.

O ASSOMBRO DA EXISTÊNCIA

 

Estar vivo me assombra.

Nenhum entendimento

é suficiente para explicar

a experiência da existência.


Viver é um grande susto,

um desatino.

Sou um corpo,

um perceber o mundo,

que não se esgota nisso.


Tudo que sou,

acontece sempre

fora de mim.



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

REINVENTANDO ESPINOSA

 

 


 

O sentir é tão racional quanto o pensamento e se contrapõe a emoção. Sentir, enquanto uma das quatro funções da consciência, para lembrar Jung, é aquela que produz valor, eleição. O sentir é um modo de escolha ou a premissa de todo agenciamento.

Pensamento e sentimento compostos fazem do conhecimento o mais potente dos afetos, para reinventar Espinosa.

Mas nada disso responde a mais elementar das curiosidades: Porque pensamos?...


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

DO SOM À MUSICA

 


Saber o som

nas diferentes instensidades,

velocidades,

texturas e tonalidades,

que definem sua potência,

nada nos diz sobre a música.


Mas a materialidade,

a imagética das ondas sonoras,

dentro dos meus olhos e ouvidos,

percorrendo o tempo e o espaço,

através do  instrumento e do  corpo,

Isto sim diz a musica.

 

Os sons não sabem dá musica

que nos embriaga os sentidos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

CORPOREIDADE

 


Meu pensamento é sentimento de corpo.

Pensar é corpo.

Em nenhum momento existe em mim

qualquer coisa que não seja corpo,

Lugar e movimento de ser.


Sou corporeidade,

extensão,

inventando modos

de habitar 

o mundo Através dos afetos

E da imaginação,

Da arte de ser sempre um outro.


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

ATIVISMO NIILISTA

 


"Minha existência começava a me espantar seriamente. Não seria eu uma simples aparência?"

F. Nietzsche

 

 Seguindo os passos de Nietzsche, libertar o niilismo de suas formas passivas ou negativas, significa recusar o ressentimento contra o mundo, abdicar da recusa a realidade ordinária, da afirmação de qualquer plano ideal e irreal da existência que nos supere a vida como ela é, ou simplesmente, se apresenta como sendo, antes de tudo, uma questão de sobrevivência, de presença física e corpórea que se degrada progressivamente.

O niilismo ativo é uma filosofia da potência na medida em que é um dizer da terra e do corpo como realidade das coisas humanas e inumanas, como ato de criação, de formas de vida e estratégias de subjetivação e imanência.

Libertar o niilismo de suas formas passivas ou negativas, nos passos de Nietzsche, significa recusar o ressentimento contra o mundo, abdicar de sua recusa, da afirmação de qualquer plano ideal e irreal da existência que nos supere a vida como ela é, ou simplesmente, se apresenta como sendo, antes de tudo, uma questão de sobrevivência, de presença física e corpórea que se degrada progressivamente.

O niilismo ativo é uma filosofia da potência na medida em que é um dizer da terra e do corpo como realidade das coisas humanas e inumanas, como ato de criação, de formas de vida e estratégias de subjetivação e imanência.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

PELA URGÊNCIA DE UMA POESIA INSURGENTE



Imitação e catarse não  dizem a poesia.
Ela também escapa a verdade
No transbordar da palavra
Contra toda retórica  e pompa.

A poesia só  é  poesia
Quando alucina,
Quando nos suja de terra,
Sangue e excremento.

Só há poesia onde o verbo 
Desdiz o mundo,
Onde se mata o poeta,
Onde se afirma uma vida
Ainda futura e incerta.

Carlos Pereira Júnior


terça-feira, 24 de novembro de 2020

SOBRE OS LIMITES DA IDÉIA DE HUMANIDADE

 

Já não introjetamos como verdade os valores e certezas dominantes. As convenções vigentes de mundo comum inspiradas por valores ditos universais nos parecem pálidas invenções de um século ingenuamente crente nos poderes da deusa razão. Duvidamos da eficácia das codificações de mundo inspiradas por metas narrativas totalizantes. Afinal, contra atrocidades não desmentiram ao longo da história recente da civilização ocidental não pois em xeque suas nobres auto representações inspiradas pela fé sem sentido na positividade do “progresso”?

São tantas as “humanidades” que povoam o mundo, tantas possibilidades e estratégias de existência e sobrevivência, que é totalmente descabido falar da humanidade como um todo homogêneo. Seria, aliais, até mesmo, pertinente questionar quais características imutáveis da condição humana ao longo das épocas e lugares nos permite usar um conceito tão abrangente.


DO ANTROPOMORFISMO AO RETORNO DA NATUREZA

 

Para Cassirrer em sua obra tardia Ensaio sobre o Homem, o homem é, em sua melhor definição, um animal "symbolicum" que transcende seu condicionante zoologico. É através de tal característica que nos apresentamos ao longo dos séculos como um animal orientado para um perpétuo vir a ser. Poderíamos dizer, portanto, que a condição humana não é um estado, mas um inventar-se constante e, como tal, também um perder-se, uma incerteza.

A cultura é o eixo existencial da construção da subjetividade e diversidade de nossa espécie. Criar-se através da produção de signos e símbolos a singularidade do faktum cultural como tipicidade do fazer-se humano. Mas o homem como medida de todas as coisas, como denuncia Foucault em As Palavras e as Coisas, é uma verdade recente e ameaçada por um desaparecimento iminente.

Hoje, em uma sociedade cada vez mais definida pelos artifícios tecnológicos e pela cultura imaterial do virtual, a diimensão inumana do humano é uma sombra que cresce sobre nossa narcisista consciência de si como medida de todas as coisas.

A natureza, o não humano, o limite de nosso desenvolvimento civilizacional pós industrial, reinventam nossa cultura simbólica contra o antropormofismo e logocentrismo dos últimos séculos pondo em questão os valores pós iluministas baseados em um humanismo ingênuo e prepotente que nos coloca em uma posição de domínio sobre o mundo natural como expressão de nossa pretensa humanidade .


terça-feira, 17 de novembro de 2020

ENTRE O DENTRO E O FORA DE SI MESMO

 


 

 

O lado de fora de nós

é o profundo dentro das coisas,

a embriaguez dos sentidos,

que encanta o mundo

através do corpo.


Há em tudo um infinito,

um sem tempo,

onde nada é.

Eis o segredo de todo acontecimento:

As coisas são na pele

de quem sente e vê.


Existir é estar do lado de fora

de si

em intenso estado de desabrigo

e desapego.