sábado, 10 de agosto de 2019

CONTRA O HUMANISMO



Para Wittgenstein, em suas Investigações Filosóficas,  "no mundo , tudo é como é e acontece como acontece. Nele não há valor, e, se houvesse, o valor não teria valor."

Quando nos afastamos de uma leitura antropológica  da realidade e do mundo, deixamos de ser escravos de um sentimento moral e da ilusão  de qualquer forma de platonismo. Já  não  carecemos de tagarelísmos e opiniões. O efeito de verdade pretendido pelo enunciado não é  sustentado por um "dever-ser".

ESCREVER COMO FORMA DE CUIDADO DE SI

A abstração  tradicional é logocentrica, abstrata e consagrada a ordem da linguagem comedida. 

Sequestrada pela razão das gramáticas de mundo, ela apenas nos assujeita. Lhe falta qualquer compromisso maior com a vida crua e cotidiana,  com o corpo que a lavra.


Mas a margem dos academicismos,  a filosofia, a poesia e  a oralidade convergem, contra a economia dos discursos vigentes, para a escritura da carne, para um dizer que é cultivo, cuidado de si, ou expressão de uma ética ou simples modo de ser livre. 

Escrever é inventar-se... Cada um deve encontrar um padrão  de composição  de si pela palavra.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

NATUREZA



A grande VIRTUDE da natureza é  não  ter VIRTUDE. É  não  ter valor, não expor em seu ser significâncias.


A grande VIRTUDE da natureza é  não apresentar qualquer traço  de humanidade. É  ser livre de qualquer princípio ou premissa moral.  



A natureza é movimento que move, desejo materializado em infinitos arranjos, entrelaçamentos e encontros. Tudo nela é o fazer e refazer da presença compósita do orgânico e do inorgânico na confusão  de matéria e energia.

A natureza ignora o humano, sua necessidade de cosmos, sua agressão permanente, sua consciência ilusória que não tem lugar no universo. 

A natureza não sabe o tempo.
Tudo ignora,
na inconsciência de si mesma.

POESIA E VERDADE




Poetizar a verdade é despir o verdadeiro de seu poder de  coerção e normalização, reduzi-lo a um prazer estético, a um modo de expressão sem qualquer intenção a disciplinar uma ordem discursiva ou estabelecer protocolos as nossas vivências.

Poetizar a verdade é ligar afeto e pensamento,  o dizer  ao prazer, tomando a produção da verdade não  como exercício de significação, mas como invenção de uma  estética do mundo. O que se apresenta como verdadeiro é o próprio ato de habitar o mundo e a si mesmo como uma linguagem viva, como texto abstrato legível ao pleno dispor de nossos corpos. Poetizar a verdade  é saber um mundo que nos antecede e ultrapassa, é render-se ao existente, confundir-se com ele, como um instante de poesia.  

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

PARA QUE SERVE A LITERATURA?


A letra morta da literatura universal não resolve o mundo,
Não responde a hipocrisia e a leviandade
Que prolifera em nossa vida comum.

Também não torna inteligentes os pedantes eruditos
Amantes do poder de Estado e do mercado.

A literatura não serve para coisa alguma
E cospe nos best sellers,
Nos operarios de letras
Que simulam nobreza
Com palavras barrocas.

A literatura não se vende
E nem se importa com o publico.

A boa literatura nunca teve leitores,
Sempre foi desprezada.

Ocupar-se com  literatura é apenas uma forma
De evitar a loucura.




terça-feira, 6 de agosto de 2019

A ILUSÃO DAS PALAVRAS

A realidade das palavras não  é  a verdade do mundo, mas expressão  de nossa mais profunda ilusão das coisas.

É  próprio de nós criar extra mundos,  Nos abrigar neles contra a terra inventando humanidades.

Mas todo exercício de pensamento  nos ensina apenas o horizonte e a paisagem.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A MUDEZ DO MUNDO


Os pássaros ignoram o vidro,
Como ignoramos a prisão  das palavras,
Os limites do dito e do sentido.

A liberdade está no silêncio,
No aberto horizonte do nada,
No pensamento indiferente
As coisas e acontecimentos.

O corpo grita na ausência de enunciados
Toda imensidão e diversidade
De nossa experiência de realidade.
Mas quase nunca nos damos conta de que o mundo é  mudo,
que a vida é sensação e afeto.

MEMÓRIA SOCIAL


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

SOBRE O DEVIR COTIDIANO



“Aqueles que falam de revolução e de luta de classes sem se referir à vida cotidiana, sem compreender aquilo que há de subversivo no amor, de positivo na recusa do constrangimento, estes carregam na boca um cadáver.”
Raoul Vaneigem


A coerência do mundo é obra do cotidiano. Através das pequenas coisas do dia a dia a vida se inventa como uma complexa rede de integração de corpos diversas que se movem em simetrias, oposições e composições.

Recusamos uma definição do cotidiano como habito, como sinônimo de senso comum. O cotidiano é antes de tudo o espaço de vivencias imediatas na duração do estantaneo.
 
Ele é feito de um único instante que se desdobra em infinitas variações de si mesmo. O que  faz o instante devir é o movimento dos corpos e suas múltiplas composições e recomposições.
Tempo é extensão e duração.

Natureza é
movimento.


QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS



O momento do pensamento pressupõe a preexistência da realidade.Mas a realidade é um ato de pensamento. Realidade e pensamento são expressão da consciência como fronteira entre o orgânico e o inorgânico. Cada um de nós é o próprio mundo observado. A falsa dualidade entre sujeito e objeto sustenta a tagarelice logocêntrica do pensamento ocidental. Afasta de forma absurda os saberes de nossa presença no mundo. Não existe momento do pensamento que não seja instante do corpo onde o eu é toda experiência de mundo.