quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

INDIVIDUALIDADE E SIGNIFICAÇÃO DO MUNDO

Individuar-se é essencialmente opor-se a coletividade e considera-la de um ponto de vista singular na medida em que nos tornamos cada vez mais conscientes da vida social. Na pratica isto significa o desenvolvimento de uma capacidade de abstração frente o existir ordinário que tem por consequência uma estetização da vida.

A individualidade é a obra de arte da consciência diferenciada, um processo que não tem propriamente uma meta, pois se estabelece como devir. Viver como os outros não vivem só é possível na medida em que  recodificamos o mundo a partir de exigências que não são ditadas pela coletividade, mas profundamente construídas a partir de nossas tendências e aspirações mais subjetivas.

Artistas e pensadores tendem a individuar-se justamente  porque fazem da realidade a matéria prima de uma releitura do real que não seria possível a qualquer outro individuo e que os torna inaptos a viver como todo mundo. Pois eles tem algo de peculiar a dizer sobre sua condição humana  enquanto os demais são apenas capazes de personificar e viver de acordo com o ethos social de sua época e sociedade.

È quando nos sentimos subtraídos dos outros, incapazes de viver como todo mundo e desafiados por um profundo sentimento de vazio e insignificância que nos lançamos a construção daquilo que nos é intimamente decisivo em termos psicológicos e ontológicos.

Nos tornamos,m assim, nossa própria ficção, nossa intima matéria prima e de muitas maneiras buscamos dar voz aquelas fantasias mais profundas que nos sustentam a vida.
Poucos são capazes de tal façanha.





terça-feira, 29 de dezembro de 2015

DO IDEALISMO HEGELIANO AO FIM DE TODAS AS CERTEZAS: BREVE DEBOCHE PSEUDO FILOSÓFICO


O sistema idealista hegeliano assinala o fim da filosofia dos conceitos e da metas narrativas filosóficas. O titulo preliminar de sua Fenomenologia do Espírito era muito sugestivamente “ Ciência da experiência da consciência”, o  buscava descreve o caminho percorrido pela consciência coletiva  através da sucessão dialética de várias figuras da experiência que culminariam no Saber absoluto, na adequação do sujeito a verdade do objeto.
 Na Fenomenologia Hegel procura descrever, enquanto caminho e sistema o percurso da cultura ocidental de modo absurdamente otimista.
Atualmente, mais do que nunca, estamos distantes  da universalidade e do consenso racional sonhados por Hegel em sua apologia do sujeito histórico.  Schopenhauer, que o tinha por pessoal desafeto, não é por acaso hoje em dia mais popular e atual do que o velho e prestigiado professor de Iena.
Mas a questão aqui não é o Idealismo Hegeliano, mas a opacidade do mundo em que vivemos e que já não permite mais metanarrativas que lhes imponham  um sentido ou significado que abrande nossas incertezas de consciência. Anacronismos e reducionismos  a parte, depois da barbárie do século XX e da II Grande Guerra, Hegel só pode ser rotulado de comediante.
Todas as nossas melhores apostas no processo civilizatório e no futuro da humanidade só são sustentadas pelas mentes mais ingênuas que buscam ignorar a desconstrução de tudo aquilo que a uns duzentos anos nos parecia promissor, como o progresso material e otimistas codificações de uma  realidade inteligível e racional.
Hoje, tudo que sabemos, muito resumidamente, é que o mundo não faz sentido...


HABITAÇÃO

Caso necessário fosse
Partir agora,
Abandonar tudo
E  me perder no mundo
Por qualquer razão,
Levaria comigo
Apenas alguns livros
E o velho computador.
Do que mais eu preciso
Se dentro de mim habita
Toda a minha realidade?
Sei que nenhuma paisagem
Mudará quem eu sou
Nesta ignorância das coisas
Tolas que me surpreendem

A cada manhã.

domingo, 27 de dezembro de 2015

VONTADE DE INFÂNCIA

Gostaria de poder provar as ingênuas certezas de uma criança,
Me fechar em um mundo simples e seguro
Onde o encanto da vida seja mais forte
Do que o perene   desabrigo da existência.

Gostaria de provar a felicidade ingênua de um pequeno infante,
Mesmo se por um dia apenas.
Pois sei eu que o mundo é vasto
E que o tempo não me espera.

Preciso sonhar um pouco.
Me livrar de todas as filosofias e duvidas
Para  provisoriamente apagar os abismos
Que me sustentam os pés cansados.
Preciso de uma noite para sonhar intensamente
Abraçado a um céu estrelado.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

SOBRE O OFÍCIO DE PENSAR

“Quem pensar  um pouco mais profundamente, sabe muito bem que nunca terá razão, que age e julga como quer.”
F. NIETZSCHE in HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO

A premissa do pensamento é a vertigem do abismo, a incerteza diante do imediatamente dado e a desconfiança do  abstratamente concebido.

Aqueles que se dedicam a pensar estão condenados a uma duvida constante sobre as codificações da realidade e sobre o fundamento humano da existência.

Nenhuma certeza ou convicção parece satisfatória, sempre conduz a cenários mais complexos e a questionamentos mais profundos.


Serão sempre os insatisfeitos, os inadequados para a existência ordinária. Pois todo pensamento é necessariamente arbitrário...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ESTRANHAMENTO

Tenho sido um corpo estranho
dentro de mim mesmo.
Talvez isso defina minha consciência,
meu precário sentimento das coisas
ou, simplesmente, minha incômoda incerteza
quanto a realidade do mundo.

Não consumo os significados
que nutrem os outros,
Não busco o conforto de pequenas certezas,
 rotinas, rótulos e felicidades televisivas.
Se quer me conheço.

tenho sido um corpo estranho

dentro de mim mesmo...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NOTA SOBRE A VONTADE DE PODER by F. NIETZSCHE

VONTADE DE PODER é, certamente, a mais polêmica das publicações póstumas de Nietzsche. Mas é também aquela que nos lança mais próximo de sua grande obra jamais escrita sobre a “ TENTATIVA  DE  UMA TRANSVALORAÇAO DE TODOS OS VALORES E  TENTATIVA DE  UMA NOVA INTERPRETAÇÃO DE TODO ACONTECER. "

Elizabeth Frorster- Nietzsche ( adepta do nacional socialismo e que deturpou por um tempo as interpretações sobre o ousado projeto filosófico do irmão) e seu fiel amigo Peter Gast, nos permitiram alguma aproximação daquilo que este singular filosofo pretendia.

Bom, Nietzsche, muito simbolicamente morreu em 1900, ano da publicação de A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS DE FREUD. Os leitores mais argutos destes dois autores não deixarão de perceber certa simetria  entre  a ideia de inconsciente e de vontade já esboçada antes por Schopenhauer.

Nietzsche jamais teve a oportunidade de ler Freud, mas ouso especular a partir da leitura do acervo organizado dos manuscritos Nietzscheanos através de VONTADE DE PODER que estes dois mestres da modernidade estavam em uma rota de colisão que, infelizmente, não aconteceu....

sábado, 19 de dezembro de 2015

O SENTIDO DO CORPO


Embaralhei algumas palavras
Em uns versos trágicos
E a deriva.
Tentava expressar o incomunicável
Do meu corpo inerte em mil pensamentos.
Queria desdizer a realidade,
Rasgar verdades e respirar incertezas
Até me sufocar com o significado
Que obscurece o imediato das coisas.
Sabia apenas que nada fazia sentido,
Que tudo era opaco no acontecer vazio
De todos os discursos possíveis.

O corpo  era minha única verdade.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

E AGORA?

Rendido  ao passar do tempo,
Ou me quebrando em memórias,
Me esvaindo em passados
Que jamais foram ou serão
Tudo aquilo que sinto agora...
Assim me sinto neste momento.

Os futuros estão em cacos
Pelo chão.
Minha existência é o efêmero
De uma brisa de agora.

Nada mais...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

CHARLES BUKOWISKI: TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS


Charles Bukowiski: Textos Autobiográficos, uma antologia  editada por John Martin, editor e amigo do escritor maldito de Los Angeles, é tudo aquilo que promete: um registro magistral da relação profunda  entre literatura e vida.

Todo escritor cria-se através de sua obra a partir da matéria prima de seu mais elementar cotidiano.  Escrever é justamente isso: desfigurar o dia a dia. Bukowiski sabia fazê-lo como ninguém. A ferocidade, angustias, escárnios, fracassos e surpreendente e angustiado lirismo que nos espancam a consciência através de seus textos, os descaminhos do seu Henry Chinaski pelas paisagens degradadas da existência mais marginal e desumana, oferecem ao leitor desta ampla coletânea um retrato do século XX na genialmente pessimista visão de Bukowiski.

Não é um livro para pessoas bem adaptadas e resolvidas. Esta leitura é recomendada aos desajustados, aos loucos, que tem fome de vida e sensibilidade o suficiente para encarar as coisas como elas são.


Um pouco de bebedeira e musica erudita são recomendações que faço aos possíveis leitores desta indigesta coletânea.