domingo, 29 de novembro de 2015

A ESCURIDÃO DA NOITE SEGUNDO EDWARD HARRISON

Faz parte de nosso processo  de adaptação a realidade converter tudo aquilo que é estranho e desconhecido a uma fórmula familiar. Assim o intelecto humano domestica os fenômenos. Por isso questões aparentemente bobas podem revelar uma profundidade surpreendente. É o caso da questão proposta pelo professor de Física e Astronomia  da Universidade de Massachusetts, Edward Harrison, em A Escuridão da Noite: Um Enigma do Universo. é peculiarmente interessante aos não especialistas como eu.

Afinal, não deve surpreender o fato de que, como afirma o autor, a interpretação que damos  “a escuridão por detrás das estrelas” depende da natureza do universo em que imaginamos viver. Alem disso, ele também nos chama atenção para o fato de que o enigma tem sua própria história, tendo sido objeto, ao longo de séculos, da reflexão de cientistas, filósofos e poetas. Dentre estes últimos vale registrar meu caro Edgar Allan Poe.

Mesmo com todo o avanço da astronomia, nós leigos, quando olhamos para o céu, tendemos a pensar irrefletidamente que  as estrelas estão arranjadas “divinamente” no espaço produzindo o céu noturno. Não levamos em conta a questão da velocidade da luz  e, consequentemente, o fato de que o universo que nos é visível  na verdade esconde um universo invisível ilimitado.

As estrelas que vemos são apenas uma imagem de um universo primitivo. Nas próprias palavras de Harrison,

“A ar livre, à noite, contemplamos o céu escuro. Por entre as estrelas, olhamos  para imensas  distâncias no espaço e para um tempo muito remoto, anterior a formação das galáxias e ao nascimento de suas primeiras estrelas. Nossa visão se estende  até o horizonte do universo visível, na fronteira do big bang. Em todas as direções, por toda parte, entre as estrelas, vemos a criação do universo recobrindo inteiramente o céu. Muito tempo atrás, quando o universo era jovem e repleto de energia, o céu primordial resplandecia com uma luz fulgurante.”

Edward Harrison. A escuridão da noite: um enigma do universo. RJ: Jorge Zahar Editores, 1995, p. 233


Evidentemente, não sou competente para questionar ou endossar a tese aqui exposta, mas até onde me parece ela faz todo sentido. Alem disso, nos leva ao questionamento de uma experiência cotidiana  naturalizada, a revelia de toda a sua complexidade.

sábado, 28 de novembro de 2015

A ETERNIDADE COMO EVASÃO

Eternidade não passa de um estranho estado de consciência no qual deixamos de estar no aqui e agora dos fatos e acontecimentos e mergulhamos em imagens prazerosas e atemporais que podem tanto serem  personificadas por lembranças infantis, quanto por imagens universais de lugares ou épocas que jamais vivenciamos.

A eternidade é apenas uma forma de devaneio, de fuga da brutalidade da consciência da realidade com a qual somos obrigados a lidar todos os dias.

Gostaria de pode abandonar este cotidiano que chamam de vida e me perder na irrealidade de um sonho profundo onde a existência se revele mais real afetivamente.


Tudo aquilo que hoje em dia nos parece possível revela-se muito pouco, demasiadamente estéril.

O GAROTO DO LIMBO

Vivia no limbo
A procura de outros meninos.
Tinha silêncios e magoas
Guardadas,
Esperanças quebradas,
E uma garrafa para embriagar-se
De sonhos.
Não se entendia com o mundo,
E  cada vez menos sabia de si mesmo
Com a morte pesando nas costas.
Mas só lhe importava escrever na existência
Um pouco de liberdade.
Apesar de todas as mazelas e tristezas
Uma musica estranha , vinda não se sabe de onde,

Acariciava seus ouvidos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

SOBRE A INVISIBILIDADE DE NOSSA COTIDIANA EXISTÊNCIA SINGULAR

A avassaladora maioria dos seres humanos que habitam a terra não passa de uma abstração para mim. Existem invisíveis em meus pensamentos mais vagos.

Me sinto ligado apenas  a uma ínfima parcela de seres humanos  com a qual afetiva e efetivamente compartilhei os dias e o mundo. 

Do mesmo modo o mundo não sabe de mim. Assim é a realidade: A condição do indivíduo frente a coletividade é sempre definida pela invisibilidade.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

SOBRE O MARXISMO DA MELANCOLIA DE LEANDRO KONDER

Relendo o Marxismo da Melancolia do Leandro Konder... Conheci W. Benjamim ainda adolescente nas páginas desta introdução singular ao autor que me lançou em uma rua de mão única contra os lugares comuns da realidade das massas e através dela... Descobri nesta pequena e sensível brochura que o fracasso pode ser uma virtude, uma forma de heroísmo....

a filosofia da História em Benjamim é mais a anatomia de uma fracasso do que um messiânico triunfo das utopias... Como percebeu Adorno.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

TOTAL REALISMO

Enquanto os sonhos apodrecem,
Tento reinventar a vida
Sem o crivo das ilusões.
Procuro descobrir caminhos
Sem seguir em qualquer direção.
Não pretendo nada,
Não faço planos.
Espero apenas pelo dia seguinte
Sem pensar em felicidades.
Surpreendo-me agora
Lúcido e maltrapilho.
Já não me importo com o mundo.

Meu horizonte é meu próprio rosto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A VIRTUDE DAS DIFICULDADES

Seus piores momentos jamais serão dignos dos meus. Pois sei da sua vida melhor do que da minha.  Sobreviveria aos seus problemas  serenamente, e até os superaria. Assim como você, talvez, pense igualmente, que poderia superar os meus.

Os problemas pouco importam.  O que é aqui pertinente é que são eles que nos criam. Somos nossos problemas dançando ao raiar de cada dia, como um deboche a nossa infantil fantasia de que somos  virtuosos, justos e dignos da boa razão.


Os problemas são os preços de nossas certezas e de nossas melhores aptidões. 

PRESENTISMO

Em que pesem todos os meus limites, todas as minhas angustias e impasses, ainda busco recriar a vida em mim mesmo como um ato inédito, como um reaprendizado intimo do mundo, contra tudo aquilo que nos é destinado no ordinário dos fatos.

Acredito no absurdo de horizontes novos, de rotinas leves e objetivos novos que não cabem na pauta da sociedade.

Tenho compromisso com o futuro, com o inédito que se inaugura no tempo presente.


domingo, 22 de novembro de 2015

SUPERANDO A FORMA HOMEM


A dobra do tempo presente passa pelo esvaziamento da forma –Homem, segundo Foucault. Trata-se do pensar-outro do pensamento no vazio do homem desaparecido. Em outras palavras, se em Hegel ou em Marx a ultrapassagem do presente aponta para a realização do humano, . Trata-se aqui de, como Nietzsche, pensar a ultrapassagem do presente como um ultrapassar do humano como propósito e medida de todas as coisas.

O pensar não deve permanecer cativo a interioridade do sujeito que pensa, deve ser um pensar do pensamento, uma critica aos pressupostos da razão ocidental. Assim, o tempo presente é definido por um deixar de ser o que somos, por um movimento em direção ao que ainda não somos e , portanto, nos é estranho.
Este inteiramente outro de nós mesmos é o que me parece ser a meta do pensamento contemporâneo. Talvez, como alerta Baudrillard, a realidade tenha se esgotado enquanto sentido.
Como ele próprio nos diz em COOL MEMORIES III (FRAGMENTOS DE 1991-1995):

“A arte foi a transfiguração poética do real. A filosofia foi a transfiguração poética do conceito. O que é preciso transfigurar poeticamente daqui em diante é o desaparecimento disso tudo- do real, do conceito, da arte, da natureza e da própria filosofia.”


sábado, 21 de novembro de 2015

O GRAU ZERO DA INFORMAÇÃO


Seja no espaço fractal ou no espaço histórico, a boa consciência descobre agora seu vazio de ser.  Não há mais uma realidade, algo tangível na cultura humana digitalizada.  Somos desafiados a lidar com o jorro infindável de signos e significados. Somos intimidados positivamente a evitar o juízo fácil, as certezas previsíveis, e qualquer pretensão ao inteligível.
O mundo deixou de ser transparente. A verdade é a maior de todas as ilusões em suas infinitas possibilidades de dizer o real. Já não há mais o real. Apenas a apoteose da informação. Lembrando Baudrillard:

“ Infelizmente o que se passa no mundo está hoje globalizado, e o princípio da globalização vai de encontro ao princípio universal da solidariedade. Isso porque a informação se esgota nela mesma e absorve seu próprio fim. A única coisa que a televisão diz é: eu sou uma imagem. Tudo é imagem. A internet e o computador também não dizem outra coisa: eu sou informação. Tudo é informação. É o signo que faz signo, os mídias que fazem sua própria publicidade. Mensagem indiferente.: grau zero, forma pura da informação.”
Jean Baudrillard. O Paradoxista Indiferente. Entrevistas com Phillip Petit.  RJ:Puzuli. 1999.  P.90