segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

SOBRE O POR VIR

O por vir de cada dia seguinte
Não se escreve no tempo
Mas nos atos,
Nas tarefas inadiáveis
Que nos impõem a existência.

O porvir é essencialmente
Labor,
A respiração das coisas
Escritas em pensamento e teleologia.

UM HOMEM E SEU GUARDA CHUVA

Sei que sou menos que nada em um universo em permanente expansão e em grande parte desconhecido... justamente por isso me busco profundamente em tudo aquilo que me acontece no provisório de cada instante.
Sou apenas um homem de guarda chuva dentro d’agua em fluido pensamento...

O PASSADO E O AGORA

Jogue fora a escada
Depois de subir
Por ela.

Pois nunca é possível
Voltar atrás,
Escapar ao passado
Como um abstrato abismo
Que nunca para de crescer...

sábado, 18 de fevereiro de 2012

AFORISMAS SOBRE VOCÊ E SEU CÉREBRO

Tudo aquilo que você faz na vida resume-se na simples questão de como você “ajuda” seu cérebro a funcionar. Pois tudo que somos é um cérebro em complexo funcionamento.
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Sopro de vida, alma, outras vidas são conceituações vazias da realidade concreta criadas  para negar o obvio de nossa finitude.
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Nunca conheci um crente que aceitasse agora e imediatamente abrir mão da vida e ir para sua fantasia de céu...
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Sou feliz por  não ter um cérebro do tamanho do que tem minha gata. Mas sei que a realidade que ela percebe e define sua existência, não é melhor ou pior do que a minha.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

DESCONTRUINDO A REALIDADE

A exteriorização é o que define melhor o fenômeno da consciência. Isso faz dela um algo que nos possui e não propriamente um atributo de nossa subjetividade ou algo que possuímos.

Mas considera-la, assim, como este algo projetado nas coisas, implica em um deslocamento do “eu” do centro de nossa experiência, pois ele mesmo acaba por ser reduzido também a condição de uma projeção da consciência que, por definição, é sempre consciência de algo externo a ela própria, algo que paradoxalmente torna-se “real” através dela, o que significa que somos em todos os sentidos “consciência”, sendo impossível inferir a existência de uma objetividade das coisas, uma realidade objetiva fora dela.

A diferença entre o aqui proposto e o solipsismo de Max Stiner é que a abstração de um eu pensante ou consciente de si mesmo no aqui e agora do tempo presente também é questionada. Há de se duvidar da ilusória e frágil unidade e organicidade deste eu, principalmente quando percebemos o quanto o comportamento humano está mais condicionado a reações instintivas e impulsivas do que a orientação racional de um eu consciente. Isso sem dizer que o que entendemos ou percebemos como eu é na verdade uma abstração de sermos um corpo cuja materialidade e dinâmica também controlamos bem menos do que gostaríamos.

Esta objetivação da consciência as custas de um esvaziamento da subjetividade não conduz a um ceticismo absoluto e imobilizador. Apenas nos inspira prudência diante de qualquer convicção “forte” de realidade e identidade.

Na pior das hipóteses ela pode apenas alimentar uma postura hedonista diante da existência que, particularmente, considero bastante saudável.

O fato é que podemos viver sem precisar pensar um mundo de “realidade/verdade” onde a substancialidade das coisas condiciona nossas codificações Do real através de débeis convicções ontológicas.

Constatado o paradoxo de que o sentido das coisas é que elas não fazem sentido nenhum , nada nos impede de continuar “imaginando” a realidade, inventando significados e sofrendo nossos eus como se de tão “irreais” eles realmente existissem...














VAZIO

Tenho vivido o vazio



De tudo aquilo


Que entre nós


Nunca aconteceu,


Sofrido os desvios do destino


E descaminhos da sorte


Até o limite de surpreender


Nosso passado triste


As margens de um por do sol.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

FÉRIAS

Quero viver o dia



livre


De pensar nas coisas todas


Que agora me afligem o futuro.






Quero estar sem limites


Nas horas,


Até o ponto


De não precisar lembrar


De nada que se perde


Neste momento


Lá fora.






Quero, simplesmente,


Estar aqui e agora
...

O SILÊNCIO DA LINGUAGEM

A experiência da palavra



Não pode conter,


Me conter,


Calar com um significado frouxo


Tudo aquilo


Que fatalmente


Não consigo ou conseguirei dizer,


Que acontece desarticuladamente


Através de mim


Sem se fazer na razão e nas coisas.

AFORISMAS SOBRE O MEDO, A INDIFERENÇA E O DEVIR

A contemporaneidade é por excelência a época do devir onde as representações do passado já não são mais uma referência de identidade. Elas se converteram em um reservatório de imagens e referências virtuais onde o agora vivido descobre suas metamorfoses no contínuo de um presente que se estende em todas as direções.

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A indiferença , o desinteresse pelo correr aleatório das coisas, é um modo de, deslocados do acontecer do mundo, nos concentramos em nossa individualidade, explorar a superfície infinita de nossos pensamentos .

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De todas as experiências instintivas humanas o medo é aquela que mais diretamente se relaciona com a imaginação. Afinal, não precisamos estar diante de uma ameaça real para sofrermos medo. Ele nos invade de modo arrebatador e irracional, não raramente personificando-se em coisas e situações que objetivamente não o justificam...

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Já não são nossas certezas que dão o tom de nossa experiência de existência, mas nossas incertezas e o sentimento de banalidade que agora parece definir todas as coisas humanas.

O CORRER DO TEMPO

Cada passo meu é um risco,



Um riso,


Um avançar sem rumo


Por um caminho


Que quase existe


Nas infinitas possibilidades


Do mundo


Onde meu amanhã


Cala de repente


Ao surpreender-se ontem...