quarta-feira, 25 de setembro de 2024

O MUNDO

O mundo não cabe nos olhos, 
no pensamento, 
na cidade ou no corpo. 

 O mundo é o sangue,
 a fome, 
a dor e o limite. 

 É tudo que me obriga 
a ser outro,
é o que me faz ninguém
e o que nos falta.


SOBRE O TEMPO QUE FALTA

Não tenho tempo para a verdade, 
ou, quem sabe,
para plantar uma árvore 
pelo futuro da humanidade. 

 Não tenho tempo... 

Mas nada disso
 mudaria  a realidade
 ou nos traria um futuro
 contra as dores do mundo.

 Não há mais tempo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

AS COISAS NÃO ACONTECEM MAIS

As coisas não acontecem mais...
Permanecem indeterminadas
entre o fato e a interpretação,
reduzidas a informação,
 banal e abstrata,
como o mundo atual.

As coisas não acontecem mais
nos tempos do virtual.
Tudo é narrativa, simulacro,
quase ficção.
Vivemos a era do efêmero e do descartável.

A vida não acontece mais.
O mundo é uma grande ilusão
reciclável.


sábado, 14 de setembro de 2024

SOBRE O QUE NUNCA ACONTECEU


A vida é o que escapa,
o que morre,
o que não foi,
não será,
ou se perdeu para sempre
no mais fundo de uma recordação.

A vida é o que nunca aconteceu,
mas será lembrado, como miragem,
possibilidade,
de um outro que poderia
ter sido eu.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

MEU SILÊNCIO

Meu silêncio é um grito 
que foge aos ouvidos 
 para evitar ser devorado pela multidão.

 Não quero ter voz, 
 vomitar verdades, 
ser porta voz de modelos 
ou utopias.

 Jamais direi aos outros 
como ser, saber ou viver. 

Meu silêncio 
fala sobre a liberdade de todos
 contra o poder de poucos
afirmando a submissão de ninguém.

sábado, 7 de setembro de 2024

CIDADES

Toda cidade é um deserto
de asfalto, carro e concreto,
onde mal se respira.

É um lugar onde gente
parece formiga,
políticos mentem,
ninguém se entende,
e a necessidade e a miséria 
goveram insensatamente a vida.

Toda cidade é um lugar de trabalho,
exploração, desalento e rotina,
onde o luto é sempre mais forte
que qualquer  esperança ou alegria.

Resumidamente,
toda cidade é a triste ilusão 
de qualquer classe média 
que nega o protagonismo
das periferias.









terça-feira, 3 de setembro de 2024

CONSERVADORISMO PROGRESSISTA

Muitos falam sobre transgressão e mudança 
como se a vida ainda fosse a mesma
do  século XIX.

Tornaram-se tristes profetas
de uma transformação caduca,
pois veneram com devoção 
o cadaver do futuro morto
de uma antiga revolução.

Hoje são mais conservadores
que os mais raivosos reacionários
Pois amam um passado que nunca foi
defendendo um futuro que jamais será.




PARA TODOS, TODAS E TODXS II

Existem todos,
todas e todxs,
além da norma,
da gramática,
da identidade
e da forma.

Existe cada um,
o nós e alguns.
Mas jamais existirá novamente 
apenas eles e elas exclusivamente.

PARA TODOS, TODAS E TODXS I

Nascemos todos,
todas e todxs
para sonhar
 e fabular  o mundo 
na invenção de nossa singularidade.

Nascemos todos,
todas e todxs
para a unicidade 
e pluralidade de uma vida inteira.

Mas a realidade é um sonho comum
que faz cada um se perder em pesadelos, angústias e medos,
criando a ilusão totalitária 
que anula a subjetividade 
de todos, todas e todxs
na homogêneo silêncio 
inaugurado pela insanidade
de Estado e a moral do rebanho.




segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A VIDA COMO INCESSANTE DEVIR

A vida de hoje
 é a mesma de sempre,
 é aquilo que sempre 
nos supera e transcende
contra o próprio tempo.

 A vida nos nega, 
pois nascemos para morte
 na metamorfose incessante
 de tudo que existe. 

 A vida é o fora do tempo,
 é o devir, o intempestivo, 
que contra nós persiste
 na contramão das épocas
e do ser vivente.