sábado, 24 de dezembro de 2022

A MORTE DA REALIDADE

A crise é um modo de ser
em tempos em que tudo
é linguagem,
informação,
e todos os valores
estão em colapso
tornando precária
toda significação.

A maior parte de nós
é inconsciente
e não configura
modos de subjetivação.

O tempo é o espaço do agora
onde quase existimos
em nossa delirante imaginação.

O mundo se torna,
cada vez mais,
uma metáfora impossível.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ANTI MONOTEÍSMO

Em algum ponto
entre a respiração e a imaginação
toda palavra é inútil.
Não há lugar para significação,
E o desvalor afirma o silêncio
além da vida e da morte.

Em algum ponto
onde o corpo
apaga o mundo
e tudo é sensação,
existir se faz ilusão.

Não há mais um eu
e os outros,
apenas matéria crua,
composição,
além da percepção.

O múltiplo se faz infinito
onde o uno é impossível.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

MUNDO CORPO

Existir é devir corpo e mundo
 No dentro e no fora
 Do movimento 
Que me projeta
 Como consciência e verbo, 
Que me faz acontecimento em curso 
Nos outros que me observam mudos
 Em qualquer canto escuro.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O CORPO QUE NOS INVENTA

O corpo despido de alma,
des-subjetivado,
Indisciplinado,
Transborda a própria presença
na negação do universo.

Reinventa o espaço,
 criando o mundo,
Como processo,
imanência,
Hedonismo,
além do conceito e do verso.

O corpo é medida de todos os verbos.
Plural, diverso e singular acontecimento
ele é natureza em movimento
que nos atravessa e supera
em seu modo de ser frágil e efêmero.




sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

FILOSOFIA REBELDE

É sempre o erro
quem produz novidades.

É sempre o desvio
no meio do caminho
quem transforma o destino.

Artista é todo aquele que cria,
Qualquer um que desvia
ou semeia desordens.

Não há liberdade
onde heresias não abalam verdades.
A realidade é feita da soma
de pequenas e permanentes revoluções.

O mundo é filho do caos.



quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O CORPO

O corpo acontece
a revelia da consciência,
do eu e do juízo.
Pouco lhe importam
as palavras e intensionalidades
de qualquer pensamento.

O corpo é a inexata soma de suas partes
e de todos os seus micro apetites.
Ele é movimento,
tomada de posse de um mundo
que sempre lhe escapa como realidade
e progresso.

O corpo é o tempo transformado em lugar
dos efeitos que devoram suas causas.



sexta-feira, 25 de novembro de 2022

EU E O TEMPO

O passado não me pertence,
mas é tudo que tenho
na contramão do tempo,
nas nostalgias do corpo,
dos outros, e dos momentos.

Tudo é indeterminação e mudança.
Nenhuma identidade ou autoridade
me aprisiona o juízo.
Meu passado não é tradição.

Existo limitado e finito,
dentro dos cinco sentidos,
em movimento intuitivo,
quase sem tempo,
na invenção da minha época 
aquém do futuro e do presente.

Desde sempre sou apenas lembrança
se desfazendo em esquecimentos.





quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ELOGIO AOS INSENSATOS

Entre a tragédia e a farsa
jamais busquei equilíbrio.
Ri um delírio contra todos os princípios
diante das solenes verdades dos letrados.

Desprezei tudo considerado elevado
e que contra a igualdade atenta
em nome do Estado.

Assim me fiz a margem dos outros,
além de mim mesmo,
na contramão da existência vigente.

Desafiei a falsa alegria dos tolos.
Soube a raiva dos ventos
e as errâncias das encruzilhadas
Afirmando a resistência dos condenados,
a insurgência dos desatinados.





terça-feira, 22 de novembro de 2022

OS SONHOS DA TERRA

Onde quase não respiramos,
resistir é preciso,
é necessário lutar,
e cantar o impossível.

Os sonhos nos inventaram
para derrubar o céu,
todos os privilégios e desigualdades,
matar os deuses, sacerdotes e políticos 
que nos conformam os corpos
a ilusão do espírito.

Os sonhos transcendem o tempo,
o espaço e a eternidade,
no mais profundo sentimento da Terra
tornando a carne é a alma da vida.




domingo, 20 de novembro de 2022

O INUMANO

Não me interessa a humanidade,
os grandes debates estéticos,
éticos, políticos e filosóficos,
que adoecem a imaginação
e atrofiam os pensamentos.

Sigo reduzido a corpo e imanência,
necessidade e cansaço,
como qualquer animal de sangue quente
que sente o mundo como um delírio.

É preciso estar além de todo juízo
Para saber o espírito do tempo.
Os que ousam a vida
recusam a razão
em atrevida desmedida
e vontade de chão.