domingo, 5 de novembro de 2023

INVENTO MINHA LIBERDADE

Invento minha liberdade
na medida em que me faço cotidianamente rebelde,
em que rejeito toda autoridade,
seja humana, divina
ou narcisista.

Faço -me livre 
sempre que repúdio todo poder,
toda norma,
 que que me diminui
e domina,
que me reduz a letra da lei,
a ação da polícia, do juiz ,
 dos doutos, dos moralistas
e das gramáticas.

Recuso todas as mentiras feitas e ditas pelos escravos da Igreja e do Estado.
Não me submeto aos seus tribunais,
delitos, prisões, penas e rótulos.

Invento minha liberdade
na medida em que excedo limites,
em que  tenho veementemente  questionado, desqualificado,
e cuspido em toda repugnante autoridade e hierarquia
esculpindo no escuro da civilização 
a sombra do meu corpo nu,
bárbaro e bruto.

Invento minha liberdade na medida em que nunca me enquadro
e juro lealdade ao diabo.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O ESTRANHO ESPETÁCULO DA REALIDADE

A imaginação,
a fantasia e a ficção
são a prima matéria da realidade.
Realidade que nos invade o corpo  como percepção e sonho,
traduzindo as metamorfoses da natureza
através  da alquimia das multiplicidades e singularidades das coisas
que se comunicam,
que se movem e transmutam,
dançando a vida e a morte,
cantando o eterno retorno do fim e do início,
realizando, assim, 
através de um magnífico esforço despido de qualquer sentido,
o agonistico espetáculo de um universo
que, além da terra mãe,
como um insondável precipício,
transcende toda realidade
no sem fundo de sua escuridão infinita.
Cada um de nós é um pequeno planeta
insignificantemente grande
em sua valiosa irrelevância.
Somos imagem e semelhança da terra mãe.







domingo, 29 de outubro de 2023

CORPO, DEVIR E ESPERANÇA

O corpo flui de si para si
através do mundo.
É extensão e devir,
Sensação e percepção
além de si.
Pois faz do fora
seu mais profundo íntimo
onde a consciência carece de substância
e toda realidade é uma ilusão de verdade
a nos preencher de esperança.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

JUÍZO FORA DA LEI

Meu juízo não é servo da norma,
da moral ou da tirania de qualquer razão dominante.

Ele é filho da liberdade
e irmão da loucura.
Não se apequena como escravo de qualquer verdade,
 fé ou ideal universal de felicidade.

Meu juízo é niilista, trágico e imanente.
Não reconhece a autoridade dos tribunais e das racionalidade dominantes.
Está plenamente ciente
da sua infinita insignificância
e da relatividade de tudo que existe,
é pensado ou julgado.
Meu juízo parte da premissa
de que o mundo não é humano,
nem é o homem a medida de todas as coisas.


ENTRE PALAVRAS E CORPOS

O mundo das palavras 
não passa de um grande deserto
de ditos e escritos imperfeitos.
Ele é inferior ao mundo dos corpos
onde tudo é ação, movimento,
duração e silêncio.

O mundo das palavras 
é feito de livros, registros e muros.
Inventa saberes ungindo seus dignos eleitos.
Já o mundo dos corpos
é feito de afetos e atos,
silêncios e esquecimentos.
Mas existe para todos.

No mundo das palavras todo discurso pretende-se eterno.
No mundo dos corpos tudo é efêmero.
Mas em ambos os mundos
nada realmente existe
pois a vida transcende palavras e corpos.
A vida não se limita a realidade.

TODOS OS DIAS

Todos os dias esperamos
que a vida seja
desfeita como fato e refeita como acontecimento.
Que o tempo seja reinventando,
ressignificado e transfigurado
por qualquer coisa maior que os fatos,
que o poder, que o dinheiro,
que a miséria e que o Estado.


Esperamos por qualquer acontecimento que nos redima,
que nos liberte de toda rotina.
De toda opressão e exploração.

Existir é estar em permanente expectativa.
Sempre a espera de uma grande transformação,
de uma revolução ou confusão permanente
que nos redima.

Qualquer dia nada será como antes
entre emergência climática e distopia tecnológica.
Tudo será caos e utopia.
Sabemos disso no fundo dos nossos corações.
Há de ruir de vez esse mundo de desigualdades.
Serão desfeitos todos os governos,
lucros e hierarquias
no absoluto triunfo de nossa imaginação terrorista.

Tudo isso já está acontecendo.
Um dia apenas será visível,
incontornável, incontrolável e inevitável
sob um onírico sol de meio dia.





sábado, 14 de outubro de 2023

DO EU AO SELF


Cansado de tanta informação,
 de tanta opinião,
e do jogo binário do sim e do não, fugiu para as montanhas,
para o silêncio de memórias arcaicas
que transcendem toda ilusão biográfica,
todo significado,
toda explicação.

Reduziu o corpo, a imaginação,
o mundo e toda extensão
ao devir de um infinito  silêncio
que transfigura a percepção
em uma suprema vontade de dissolução
onde tudo é nada,
ilusão,morte e nirvana.



quarta-feira, 11 de outubro de 2023

O INSUBMISSO

Tenha por regra
 Jamais reverenciar 
Prestigiar ou respeitar 
Os senhores da verdade 
Que tanto demandam nossa atenção e respeito. 

 Tenho a dignidade de negar autoridade 
aqueles que por ciúme ou vaidade
 não nos reconhecem como sujeitos
 e questionam nosso natural direito a subjetividade. 

 Não serei jamais objeto de suas hipóteses, 
teses, moral, recomendações, leis e conceitos. 

Ouso afirmar o inclassificável de mim mesmo
 e minha irracional necessidade de liberdade.

Tenho por regra jamais me curvar,
obedecer ou aceitar o arbítrio de qualquer pastoral ou tirania colonialista.

Tenho por princípio a ousadia das desobediências e as alegrias das experiências que iniciam grandes e pequenas revoltas.

domingo, 1 de outubro de 2023

O CORPO, TERRA E MATÉRIA

O corpo é filho da terra.
 é o que nos inventa
como percepção & mundo
em incessante transformação.

O corpo é lugar e indeterminação,
processo e composição.
Cabeça e chão.
Silêncio e terra.
Movimento e imaginação.

Acima de tudo,
entretanto, 
o corpo é matéria,
além de toda consciência e percepção.

O corpo é terra e matéria
fechada em si mesma
além da escuridão do universo.

O corpo é simplesmente corpo
e não cabe em nenhuma definição de corpo.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O QUE IMPORTA DIZER

O que importa dizer
não será dito.
Pois não remete a um discurso,
a uma emoção ou soluço,
a uma verdade ou a um saber.

Não pressupõe um sujeito,
um ouvinte, alucinação,
ou, ainda, um acontecimento.

O que importa dizer
é o silêncio,
esta falta de sentido
que nos atravessa
e sobre a qual
ninguém quer saber.

É nossa insignificância,
nossa morte anunciada
desde o nascimento.

É o fim da estrada.
O buraco na calçada.

O que importa dizer
é o que para todos
não tem importância
ou não se rende as palavras.
É o NADA .