sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CONFISSÃO NIILISTA

Confesso aqui minha impotência,
minha insignificância,
minha má vontade com 
o mundo,
minha inadequação radical
a realidade que nos é imposta,
toda minha absurda desesperança
e repúdio ao status quo que me define e suporta.

Não esperem de mim
qualquer bem ou mau querer,
nenhuma cumplicidade
com os modos de vida dominantes
que reduzem a existência a prisão de um rosto.

O ego faz do desejo sua ilusão mais contundente
e reduz o mundo a um jogo de sedução
onde nada é realmente possível.

Então, simulo aqui uma insólita confissão.
Afinal, todo ato de linguagem é surdo e absurdo
e deve ser reduzido a um ato de transgressão.






FILOSOFIA NIILISTA DA NATUREZA

Sobre nós
não há mais o peso de um céu.
Não nos intimida o infinito,
as estrelas, o vácuo 
e a imensidão sem nome
de nossa vasta imaginação.

Foi desfeita a ilusão do Cosmos
pela intuição do caos.
Não há deuses, nem razão.
Existe apenas o finito imanente
da matéria em guerra e transformação.

Tudo que é, acontece em conflito e composição.
A vida quase não existe
na inconstância das coisas em insensato devir
e  aniquilação.


sábado, 11 de fevereiro de 2023

MUNDO REAL

O mundo que existe
Não é 
O mesmo que vivemos
ou que pensamos.
 

 O mundo real
escapa a cada um 
na complexidade de todos .
Ele é o ilegível de nossas angústias,
o imponderável de todas as considerações,
o pesadelo da imaginação.

O mundo que realmente existe
transcende o admissível 
e a miséria de todas as interpretações.
Ele é o caos de todas as possibilidades.

Por isso cuidado com aqueles
que dizem saber muito
sobre o mundo que realmente existe
e que acreditam demais em qualquer realidade.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

MORTE NA ENCRUZILHADA

Hoje é tarde demais para sonhar futuros
e cedo demais para reinventar  passados.

Suspensos entre todos os tempos da existência,
nos surpreendemos póstumos.

Nada, afinal,  nos limita ou determina.
Somos livres para conspirar
contra a realidade,
desacreditar rotinas,
atentar contra a lei e a ordem,
e levar o corpo às últimas consequências
de nossas etéreas geografias humanas.

O momento é incerto
e nada está sob  controle.
Toquem o alerta de incêndio,
dancem ao redor do fogo!
Logo, estaremos todos mortos!




terça-feira, 31 de janeiro de 2023

PSEUDO FENOMENOLOGIA DA EXISTÊNCIA

A existência não é algo que possuímos, 
mas que compartilhamos
 contra qualquer ideia de substância. 

Não há existência que não seja
uma forma de co-existencia.
Pois só é possível existir na presença dos outros
e do lado de fora do próprio rosto.

Existir é uma ação sem sujeito,
pura indeterminação
e inconsciência
na confusão entre o dentro
e o fora do corpo.












segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

CORPO ENIGMA

Meu corpo é mundo
e movimento.

É dentro e fora,
longe e perto,
ausência, tempo
Percepção e consciência.

É ato indeterminado,
anti -verbo,
 efêmera matéria
 provisoriamente organizada
  em vida,
 afeto e ilusão.

Meu corpo é revolução,
 devir, natureza e morte,
vertigem, enigma e imaginação.

Apesar disso,
ele só existe onde não é,
onde um outro persiste
como necessidade.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

NIILISMO ESTRUTURAL

Ninguém acredita naquilo que pratica.
 Ninguém se reduz a persona de sua identidade. 
Não há realidade em nossos belos discursos. Nenhum valor significa a vida.

 Nossa condição humana 
não passa de um grande deserto
 e o amor é uma mentira. 
Infelizmente, 
nada disso nos é ensinado na escola
Mas configura o tédio de todas as nossas possíveis rotinas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O EQUÍVOCO DA VERDADE E DA CIVILIZAÇÃO

Cada um segue,
ao seu próprio modo,
cego e enganado
por meia dúzia de convicções,
princípios e ilusões.

Eis o resultado de alguns anos de educação:
Cada pobre indivíduo contemporâneo
Vive mansamente  condicionado
a alguma impressão de verdade,
certeza, vaidade ou vontade de mundo,
que o faz levantar todos os dias
para uma rotina vazia 
que hipotetica ou hipocritamente
o torna útil a sociedade.

Sociedade esta, cabe dizer, 
formatada por  poderes absurdos, desigualdades e insanidades inimagináveis,
que fazem parecer  utópico qualquer ideal de bem comum ou felicidade.

Mas mesmo se horrorizados ou indiferentes a tudo
nos entreguassemos aos  prazeres efêmeros
de um raso viver amoral e imediatista,
ainda assim permaneceriamos como vítimas da ilusão
de qualquer convicção vazia.

Afinal, É próprio do humano
inventar justificativas, motivos e identidades
para suportar a brutalidade de sua própria insignificância e miséria existêncial.

É próprio do humano julgar,
esperar e querer o infinito 
em lugar de simplesmente experimentar e perecer sem qualquer vontade ou espectativa
que transcenda o instante.














segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

ENTRE OS CONVICTOS, NÃO DIALOGUE

Gosto de ter alguns silêncios guardados comigo.
Nunca sei quando poderão ser úteis
para refutação de tagarelices.

Ignorar certos discursos é um sinal claro de lucidez
 quando as línguas dançam insanas nas bocas fanáticas  dos convictos .

 Contra elas o silêncio é sempre o melhor argumento. Pois não se deve perder tempo com os obsessivos amantes da verdade. 
É preciso evitar  o contágio, a armadilha de falsos diálogos.

PASSEIO NA PRAIA

Saturado de informações, 
Opiniões e conclusões, 
Foi passear na praia, 
 Beber o mar, 
deitar no colo de uma preguiça 
e esquecer o mundo. 

 A ignorância, 
afinal, é um dos nomes do paraíso. 
As vezes tudo que importa 
É não ter nada a dizer, 
Não pensar,
Não querer, 
Não ser,
viver as ondas do mar.